POR EDUARDO GREGORI
Quando comecei a escrever esta coluna tinha recém-chegado a Portugal. Eu já conhecia bem Lisboa, tinha estado aqui diversas vezes. Mas uma coisa coisa é perceber um lugar sob a lente de turista e outra é como imigrante.
A realidade não tem as cores do encantamento que só uma viagem nos dá. Não, não estou reclamando, aliás, sou muito feliz em Portugal. Todos os dias que caminho pelo Tejo (tirando os dias de chuva torrencial) eu agradeço por aqui estar. Por viver em uma cidade tão linda, charmosa e encantadora.
Bem, estou a poucos dias de completar um ano desde que deixei Campinas para trás. Uma saudade imensa, mas não tenho planos para voltar de vez, apenas para visitar minha família e meus amigos. Talvez eu o faça em maio, vamos ver.
Neste quase um ano sigo os conselhos de meu amigo campineiro Gustavo Bolliger, que imigrou para o norte da Espanha com a esposa Carolina Maluf. Ele me dizia que ia observando tudo ao seu redor e imitando os hábitos locais até que quando percebeu, já era quase um nativo.
Tenho feito isso. Portugueses são muito diferentes dos brasileiros. Nós temos a mania de fazer rodeios, criar longas histórias quando queremos dizer algo. Aqui não, não existe isso. Os portugueses vão direto ao ponto e doa a quem doer.
No começo tinha medo de ser assim tão franco, de melindrar ou de causar algum desconforto com meus interlocutores. Mas depois de tanto me sentir melindrado e ter uma prévia com meu marido português, entendi que aqui é assim e tudo bem.
Também aprendi que a vida em Portugal é muito mais saborosa que no Brasil. Cheguei aqui com uma velocidade que só quem vive em uma grande cidade como Campinas sabe. A gente tenta fazer mil coisas ao mesmo tempo, espera que todo mundo tenha a mesma velocidade que a nossa e se irrita quando não é atendido em tempo recorde. Ao final do dia praticamente não fizemos nada e estamos estressados.
Não quero dizer que Portugal tenha um ritmo lento, mas aqui a qualidade de vida está acima de tudo. Eu trabalho muito, muito mesmo, mas aprendi a desacelerar e sempre incluir uma parada em um café para relaxar, jogar conversa fora e claro, apreciar uma boa xícara do café luso.
Mas não para por aí. Reaprendi a dizer bom dia e boa tarde aos meus vizinhos, parar na porta do prédio para falar com alguém que te questiona sobre qualquer assunto, sentar na cadeira do barbeiro do bairro e fazer terapia enquanto sou atendido, conhecer cada uma das atendentes do supermercado perto de casa e conversar sobre a minha saúde com a minha médica, que é não é particular, mas do estado e parece já me conhecer como ninguém.
Em breve serei oficialmente um cidadão português, mas já carrego dentro de mim esse jeito tão particular que é ser luso. Sempre serei brasileiro e amo meu Brasil, mas como diz o ditado: Em Roma, faça como os romanos. Aliás, acabo de chegar de Roma, dê um pulo no meu blog www.euporai.pt e dê uma lida no meu texto sobre a cidade.