Por Daniela Prandi
Maio é mês de Festival de Cannes, a mostra que mais interessa aos cinéfilos, a mais prestigiada, marcada pela diversidade e pelo tom político de suas escolhas, nem sempre uma unanimidade. Mas, se o objetivo é conhecer o novo cinema em produção mundo afora, este é o lugar. A edição 2019, de 14 a 25 de maio, já começou quebrando muros e pela primeira vez em seus 72 anos de história um artista mexicano irá ocupar a presidência do júri: o escolhido foi Alejandro Iñarritu, de “Babel”, vencedor de dois prêmios Oscar de direção, por “Birdman” e “O Regresso”, e um dos grandes nomes da “onda mexicana” que tem dominado Hollywood.
Assim que a lista dos filmes selecionados foi anunciada aumentou ainda mais a expectativa em torno de “Bacurau”, novo filme de Kléber Mendonça Filho, o mesmo de “Aquarius”, que “causou” em Cannes em 2016 com um protesto no tapete vermelho sobre a legitimidade do afastamento da então presidenta Dilma Rousseff. Codirigido por Juliano Dornelles, o filme estará na premiação principal e vai concorrer à Palma de Ouro, que o Brasil só venceu uma vez, em 1962, com ‘O Pagador de Promessas”, dirigido por Anselmo Duarte.
Em tempos de cortes na Cultura, e às portas de um futuro sombrio ao combalido cinema brasileiro, espera-se resistência e polêmica. “A seleção para competir em Cannes não está à venda, e isso é fantástico. Encontro-me numa posição de prestígio que não reflete a maneira inadequada com a qual nosso país olha para a cultura. O Brasil está desmoronando as estruturas que asseguram a produção cultural. Espero que esse momento seja produtivo para o governo rever seu posicionamento em relação ao setor”, disse o cineasta logo após o anúncio de Cannes.
“Bacurau”, que empresta o título de uma ave do Sertão de Seridó, na divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba, conta novamente com a presença de Sônia Braga, que brilhou em “Aquarius”, no elenco. Karine Teles (a patroa de “Que Horas Ela Volta?”) e o alemão Udo Kier (“Pequena Grande Vida”) também estão na história, que gira em torno dos habitantes de um vilarejo abalado com a morte de uma antiga moradora, uma mulher muito querida, que trará consequências inesperadas. O filme, segundo o diretor, é uma mistura de drama com ficção-científica, e tem coprodução francesa. A concorrência será pesada: Kléber Mendonça Filho disputa na mostra principal com os novos filmes de Pedro Almodóvar, dos irmãos Dardenne, Xavier Dolan, Jim Jarmush, Ken Loach e Terrence Malick, para ficar nos mais conhecidos.
O Brasil também aparece em “O Traidor”, do italiano Marco Bellocchio, que revisita a história real de Tommaso Buscetta, italiano que entregou companheiros e se refugiou por aqui, com Maria Fernanda Cândido como a mulher brasileira do mafioso.
Já na Mostra Um Certo Olhar, mais Brasil em “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Karim Aïnouz, o mesmo de “Praia do Futuro”. Aqui, com Fernanda Montenegro no elenco, o filme é uma adaptação do livro homônimo de Martha Batalha e fala da relação entre duas irmãs. Esta é a terceira vez que o cineasta cearense tem um longa selecionado para Cannes. A primeira foi com “Madame Satã” (2002) e a segunda com “O abismo prateado” (2011). “A vida invisível de Eurídice Gusmão” tem produção do carioca Rodrigo Teixeira, que se tornou figura conhecida em Hollywood por coproduzir projetos como “Me chame pelo seu nome” (2017).
Cannes também é tapete vermelho e a indústria aproveita o glamour do balneário francês para mostrar suas novidades. Entre os filmes com exibição fora da competição e com potencial de arrecadação está “Rocketman”, de Dexter Fletcher, cinebiografia do astro pop Elton John, com Taron Egerton no papel do ídolo. No clima mais francês, há a nostálgica volta de Anouk Aimée e Jean Louis Trintignant, o mítico casal de “Um Homem, uma Mulher”, que se reencontram em “Les plus belles années d’une vie”, novo filme de Claude Lelouch. E, para fãs do futebol, um documentário também pode dar o que falar: “Diego Maradona”, de Asif Kapadia. E, há, ainda, uma expectativa: talvez o novo filme de Quentin Tarantino, “Once Upon a Time in Hollywood”, esteja na lista final.
Neste ano, o Festival homenageará a diretora belga radicada na França Agnès Varda, que morreu no dia 29 de março aos 90 anos. O cartaz do Festival, aliás, é um belo souvenir: Varda, aos 26 anos, dirige uma cena de “La Pointe Courte”, seu primeiro longa, lançado no Festival de Cannes de 1955.
Concorrentes da Palma de Ouro
Pain and Glory (Pedro Almodóvar)
The Traitor (Marco Bellocchio)
The Wild Goose Lake (Diao Yinan)
Parasite (Bong Joon-ho)
Young Ahmed (Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne)
Oh Mercy! (Arnaud Desplechin)
Fire Next Time (Mati Diop)
Matthias and Maxime (Xavier Dolan)
Little Joe (Jessica Hausner)
The Dead Don’t Die (Jim Jarmusch)
Sorry We Missed You (Ken Loach)
Les misérables (Ladj Ly)
A Hidden Life (Terrence Malick)
Bacurau (Kleber Mendonça Filho & Juliano Dornelles)
The Whistlers (Corneliu Porumboiu)
Frankie (Ira Sachs)
Portrait of a Lady on Fire (Céline Sciamma)
It Must Be Heaven (Elia Suleiman)
Sibyl (Justine Triet)
Fora de competição
Rocketman (Dexter Fletcher)
The Best Years of a Life (Claude Lelouch)
Too Old To Die Young (Nicolas Winding Refn)
Diego Maradona (Asif Kapadia)
La Belle Époque (Nicolas Bedos)
Mostra Um Certo Olhar
A Vida Invisível de Eurídice Gusmão (Karim Aïnouz)
Beanpole (Kantemir Balagov)
The Swallows of Kabul (Zabou Breitman & Eléa Gobé Mévellec)
A Brother’s Love (Monia Chokri)
The Climb (Michael Covino)
Jeanne (Bruno Dumont)
A Sun That Never Sets (Olivier Laxe)
Room 212 (Christophe Honoré)
Port Authority (Danielle Lessovitz)
Papicha (Mounia Meddour)
Adam (Maryam Touzani)
Zhuo Ren Mi Mi (Midi Z)
Liberté (Albert Serra)
Bull (Annie Silverstein)
Summer of Changsha (Zu Feng)
Exibições especiais
Tommaso (Abel Ferrara)
Share (Pippa Bianco)
For Sama (Waad Al Kateab & Edward Watts)
Etre vivant et le savoir (Alain Cavalier)
Family Romance, L.L.C (Werner Herzog)