Desembarquei na Cidade das Andorinhas. Uma vontade louca de abraçar minha mãe um ano depois que parti para Lisboa. Sinto uma estranha sensação que senti quando, já vivendo há mais de um ano em Campinas, voltei a minha terra natal, Belo Horizonte. Não sei explicar completamente, mas é como um sentimento de não mais pertencer àquele lugar, e de ser apenas uma visita passageira.
Como escrevi em um post antigo, em Portugal posso ser quem eu sou. Naquela altura coloquei brincos de argolas imensas e pintei minhas unhas de preto. Que fique claro que não tenho nenhum problema com minha identidade de gênero, mas gosto de as vezes usar um esmalte, ou um brinco avantajado. Quem disser que isso é coisa de homem ou de mulher, está completamente enganado, principalmente na Europa, onde você é apenas mais um na multidão, mesmo ostentando um abacaxi na cabeça.
Na segunda-feira reestreei em plena Francisco Glicério, 8h da manhã, sol a pino e no alto da minha cabeça uma mecha de cabelo em azul celeste. Olhares, sussurros, estranheza etc. Me sinto uma ave rara a percorrer a cidade causando espanto a toda gente.
Me lembro de quando era dark nos anos 1980 em Belo Horizonte e as pessoas achavam que eu tinha descido de alguma astronave vindo de outro planeta. Bem, mas falo de 1980 ou seja, quase 40 anos se passaram e não deveríamos estar vivendo na era pós-moderna?
Pelo jeito voltamos no tempo e não estou a falar em política. Campinas é tão careta quanto o roça grande chamada de Belo Horizonte, onde a sociedade fica chocada com o que escapa do padrão e com o que não se encaixa do que chamam de normal.
Ai que preguiça! Tão progressista na época do café e tão careta e bizarra na era da internet. Baixei a cabeça para não chamar mais atenção, mas apenas por 5 segundos, por que me lembrei que militei durante anos para que os direitos de qualquer pessoa sejam respeitados. Ergui a cabeça novamente e do alto dos meu 1,90 segui orgulhosamente pela principal avenida da cidade e adjacências, mais caretas ainda. Caminhando contra o vento com as madeixas celestes.
Estou de partida para Londres e sei que lá serei novamente mais um, nada de especial. Isso me faz lembrar o porque de eu ter indo embora e cada dia que passa, uma volta fica mais distante. Adeus, Campinas. Fica a saudade utópica. Que Nossa Senhora do Pós-Modernismo lhe cubra com seu manto de néon novamente.