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LISBOICES:  O que Lisboa nunca me dará
"Minha mãe partiu e o que mais me corta o coração é vê-la chorar exatamente porque estes momentos juntos vão demorar a acontecer de novo" (Foto Acervo Pessoal)

LISBOICES: O que Lisboa nunca me dará

POR EDUARDO GREGORI

Estou escrevendo esta coluna escutando The Chain, da banda norte-americana Fleetwood Mac, um clássico do rock profanado recentemente na abertura de mais um folhetim televisivo brasileiro. A letra parece escrita para mim neste momento, ao deixar minha mãe no Aeroporto de Lisboa rumo ao Brasil.

As correntes que me prendem ao meu país jamais poderão ser quebradas. Digo isso após estar com minha mãe por três semanas, exatamente um ano depois que a vi pela última vez. Estivemos ela e eu em Campinas, em Lisboa, em Londres, Liverpool e Manchester, em deliciosas férias que, de tão boas, pareciam não ter fim, mas acabaram.

O mais duro para quem imigra é dizer adeus e essa é uma palavra que sempre nos tem que sair da boca aos entes queridos que vêm nos visitar e que inevitavelmente partem, nos deixando para trás no vácuo de uma espécie de solidão momentânea.

Minha mãe partiu e o que mais me corta o coração é vê-la chorar exatamente porque estes momentos juntos vão demorar a acontecer de novo, ainda mais porque não tenho planos de voltar ao Brasil nos próximos anos. A distância será menor se ela decidir voltar, mas não espero de uma pessoa com quase 80 anos ter tanta agilidade de ir e vir à Europa com tamanha destreza.

Pouca pessoas conhecem quem realmente sou e não vou contar aqui quem se esconde debaixo desta armadura. Abracei-a com imenso carinho e já a sentir saudades, mas não chorei. Penso que pessoas como ela esperam de mim sempre a fortaleza que move o Céu a Terra para abrir caminho nessa selva que chamamos de mundo.

Tomo o metrô vazio e é como se aquele espaço fosse a minha bolha, onde posso pensar sobre como é difícil deixar tudo para trás. Lembro-me que vim para Portugal porque não havia mais trabalho para mim no Brasil e também porque já não me sentia confortável com a escalada do discurso de ódio que se instalou no meu querido Brasil.

Sim, sou feliz em Portugal, mas Lisboa jamais me dará um conforto emocional completo porque aqui não tenho minha mãe, meus irmãos, meus sobrinhos, minhas tias ou meus amigos. Nesse momento de reflexão, tão íntimo e tão solitário, tento me apegar aos momentos que passamos juntos neste dias e meu coração se enche de esperança para que em breve possamos nos ver novamente.

Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal