Por José Pedro S.Martins
Há uma grande expectativa no ar em relação anúncio nesta sexta-feira, dia 11 de outubro, do ganhador ou ganhadores do Prêmio Nobel da Paz de 2019. Neste ano, talvez mais do que em qualquer edição, aumentaram as chances de um brasileiro receber um Nobel e justamente o da Paz, que pelo seu significado é especial e muito valorizado pela comunidade global. Os brasileiros mais citados são o do líder indígena Raoni e o do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Também são fortes as chances da menina sueca Greta Thunberg, que em pouco mais de um ano se tornou liderança mundial da luta contra as mudanças climáticas e seus impactos devastadores.
Nos casos de Raoni e Lula, precedentes na história do Nobel da Paz alimentam o ambiente favorável a suas candidaturas. Não foram poucas as vezes que esse Nobel foi destinado a líderes oposicionistas em seus países, figuras emblemáticas da luta pelos direitos humanos enfrentando gigantescas dificuldades, perseguições ou ameaças claras à própria vida em função de suas trajetórias e causas defendidas.
Foi assim com Martin Luther King Jr, em 1964, no auge da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos – ele seria assassinado a 4 de abril de 1968, justamente pelo seu engajamento. Também foram os casos, entre outros, do russo Andrei Sakharov, em 1975, por sua luta pelos direitos humanos em pleno regime soviético, e do bispo Desmond Tutu, em 1984, como um claro sinal de apoio a seus esforços contra o apartheid na África do Sul. E há o caso recente de Malala Yousafzal, em 2014, por sua luta pelas mulheres e o direito à educação no Paquistão, o que motivou uma dura perseguição a ela por parte do talibã.
Houve vezes em que o Comitê Norueguês do Nobel da Paz também errou feio, quando concedeu a honraria a nomes no mínimo polêmicos, como o de Henry Kissinger, em 1973. E também não foram raros os casos de premiação para organizações de âmbito internacional, como os Médicos Sem Fronteiras, em 1999, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em 2007, e Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares, em 2017.
Se o Nobel da Paz couber a Raoni, nenhuma surpresa, em função de sua biografia e do momento atual, nada favorável, em termos governamentais, à luta e aos direitos dos povos indígenas no Brasil. E ainda tem o ataque que o presidente Jair Bolsonaro fez a Raoni, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Uma líder indígena já foi laureada: Rigoberta Menchú, em 1992, pelo seu grande esforço a favor dos povos nativos da Guatemala.
Mas se ficar nas mãos de Lula, também nenhuma surpresa, considerando a sua projeção internacional e o fato de estar preso desde abril de 2018, em Curitiba (PR). Se a premiação for confirmada, ficarão mais fortes os grupos que defendem a liberdade imediata do ex-presidente brasileiro.
O Nobel da Paz para a sueca Greta Thunberg, 16 anos, também não será nenhuma surpresa. Para muitos ela é, inclusive, a maior favorita à honraria neste ano, pelo destaque global que conquistou, com méritos, por sua luta para chamar a atenção planetária para as mudanças climáticas. Esse movimento não tinha, a rigor, uma “cara”, uma liderança para de fato incomodar e sensibilizar milhões, o que é essencial, e mesmo vital, considerando a gravidade que as mudanças climáticas vêm alcançando.
O ex-vice-presidente norteamericano, Al Gore, Nobel da Paz, em 2007, junto com o IPCC, é uma liderança respeitada, mas não é capaz de levar milhares para as ruas de dezenas de cidades como fez Greta recentemente. A menina sueca deu luz e esperança, em um cenário inquietante derivado do agravamento das mudanças no clima. Vamos ver amanhã!