Campinas dá nesta semana um passo enorme para se consolidar como um dos principais centros de ciência e tecnologia do mundo, com a viabilização de um dos dois primeiros laboratórios de quarta geração de luz síncroton, o Projeto Sírius, com um investimento de R$ 1,3 bilhão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e outras fontes de financiamento. Na manhã desta segunda-feira, 15 de dezembro, o prefeito Jonas Donizette entregou o Alvará de Execução de Obra ao diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS) e do Projeto Sírius, Antônio José Roque da Silva. O lançamento da pedra fundamental será na sexta-feira, 19, com a presença do ministro Clelio Campolina Diniz. O outro laboratório de luz síncroton de quarta geração está sendo construído na Universidade de Lund, na Suécia.
Como destacou o diretor do Projeto Sírius, Antônio José Roque da Silva, a nova fonte dá continuidade à vocação do LNLS, o primeiro do Hemisfério Sul. Esta nova geração de fonte de luz síncroton, explicou, dará um enorme salto em termos de sofisticação na avaliação da estrutura de materiais. “Fazendo uma comparação, é como se a atual fonte de luz síncroton do LNLS fosse uma lanterna e a nova, do Projeto Sírius, fosse um raio laser”, detalhou o diretor, acrescentando que a nova fonte de luz será capacitada para avaliações de materiais em escala nanométrica.
A nova fonte de luz síncroton sediada em Campinas terá uma ampla possibilidade de aplicação, na ciência e tecnologia, mas também em projetos de uso industrial, em fármacos, biotecnologia, agricultura, química fina e outros campos. Atualmente circulam pelo LNSL cerca de 1 mil usuários por ano, entre pesquisadores e empresas que procuram o laboratório para realizar estudos. O diretor Antônio José Roque da Silva entende que esse número será multiplicado até a conclusão de todas as fases do Projeto Sírius.
O diretor observou que os primeiros estudos relativos ao Projeto Sírius datam de 2009. O projeto foi então submetido a um comitê internacional de especialistas, que aprovou a nova fonte de luz síncroton. “Sirius será um competidor sério no mercado mundial de síncrotrons”, disse Robert Hettel, do Stanford Synchrotron Radiation Laboratory, nos Estados Unidos, um dos avaliadores que estiveram em Campinas, segundo informações da Agência Fapesp. Outro dos especialistas que participou da avaliação em Campinas foi Mikael Eriksson, do MAX-IV, o novo síncrotron em construção na Suécia.
Antônio José Roque da Silva explicou que no primeiro momento o Projeto Sírius terá 13 fontes de luz síncroton. O laboratório foi projetado para receber 40 fontes, no edifício de 68 mil metros quadrados que será construído com padrões de estabilidade inéditos no Brasil.
O diretor acredita que o Sírius terá entre 70 e 80% de nacionalização em seu processo construtivo. Ele destacou que foi aberto, junto à Fapesp e Finep, um edital para qualificar empresas brasileiras que tivessem interesse em participar da construção do novo laboratório.
Antônio José Roque da Silva disse que, como ocorre com o LNLS, os pesquisadores interessados em se utilizar das novas fontes de luz do Projeto Sírius submeterão projetos ao comitê científico do laboratórios. Se os projetos forem aprovados, os pesquisadores poderão utilizar as fontes gratuitamente. As empresas interessadas em se utilizar dos recursos disponíveis pagarão por esse uso.
O prefeito Jonas Donizette destacou a cooperação entre três esferas de governo, federal, estadual e municipal, para viabilizar a construção do laboratório que firmará a posição de Campinas no mapa científico e tecnológico mundial. “O governo federal está participando com grande parte dos recursos, o estadual promoveu a desapropriação da área em que será construído o laboratório e o municipal contribuiu, entre outros pontos, com a celeridade no processo, através de um novo instrumento legal para aprovação de projetos institucionais de interesse público”, afirmou o prefeito.
A fonte de luz do LNLS é capaz de enxergar o que se passa no interior da matéria e auxilia pesquisadores de todas as partes do mundo. O LNS é a única fonte de luz síncrotron da América Latina. É um laboratório, criado por brasileiros, que tem a função de acelerar partículas para produzir uma luz intensa e com alto poder de penetração. Com esse tipo de luz, os cientistas podem observar o que acontece dentro de um material como o cimento, uma fruta ou um inseto, explica o Laboratório. No mundo, existem 60 fontes de luz síncrotron em 17 países. (Por José Pedro Martins)