Por Eduardo Gregori
Estou confinado há duas semanas. Saí duas vezes para ir ao supermercado. Drones das estações de televisão sobrevoam a cidade e nos mostram uma Lisboa que eu jamais havia visto desde que aqui cheguei.
No começo da pandemia do novo coronavírus muitos lisboetas e turistas não deram a devida importância para a recomendação de isolamento social e, com a primavera a trazer o sol, foram para a Praia de Carcavelos, na linha de Cascais. A praia lotada causou indignação das autoridades e incredulidade da população.
A história repetiu-se no tradicional e boêmio Bairro Alto. Na rua cor de rosa, tradicional ponto de encontro de jovens e turistas que saem para beber nos seus incontáveis bares mais parecia dia de final de copa do mundo. Assistíamos chocados pela televisão pessoas aglomeradas e correndo o risco de se contaminarem. A repórter diz que não conseguiu entrevistar quem ali estava pois o nível alcoólico das pessoas não permitia.
Depois de apelar a população para ficar em casa e sem resultar como o esperado, o governo decretou estado de emergência e então tudo mudou. Quem tenta escapar da quarentena imposta pode ser preso e responder processo criminal.
Quem sai de casa só pode o fazer para fazer compras essenciais, ajudar amigos e parentes ou para trabalhar. O governo liberou o “passeio higiênico”, que é dar uma caminhada só ou com o pet durante meia a uma hora e perto de casa.
Desde então o silêncio foi se espalhando por Lisboa. No domingo tive que sair e ao passar pelo Cais do Sodré, a estação mais conturbada de gente de Lisboa mais parecia um cemitério. Deu medo. No decorrer da semana os turistas foram indo embora e a cidade entregue a seus verdadeiros habitantes.
Pontos turísticos sempre lotados, como o Terreiro do Paço, o Padrão dos Descobrimentos, a Torre de Belém e o Elevador Santa Justa foram deixados à própria sorte, sem ninguém. Vou até a minha janela todos os dias para ver se a vida continua do lado de fora.
Vejo raramente uma ou duas pessoas a caminho do supermercado ou do trabalho. Nestes dias minha rotina de sono enlouqueceu. Algumas vezes acordo às 5h da manhã e vou dormir quase que 24 horas depois e porque me obrigo.
Penso nos muitos brasileiros que estão presos em Lisboa sem conseguir voltar ao Brasil. Uns em um navio que chegou do Brasil em uma grande viagem e outros no aeroporto por voos cancelados. Muitos já não têm dinheiro e dormem no terminal ou no relento. E, apesar da primavera, as noites ainda estão frias.
São dias difíceis deste lado do Atlântico. Nossa vizinha Espanha e também a Itália estão a ser dizimadas. Nos jornais todos os dias as cenas se repetem: caixões e muito sofrimento porque não é possível velar e nem se despedir do seu ente querido que morreu.
Mas, para além do medo e da tristeza que se instalaram, consigo ver um ponto de esperança de que em breve tudo isso vai passar. As pessoas têm divulgado mensagens positivas nas redes sociais e o governo tenta manter a calma e a moral e alta. Há esperança por aqui. Torço para que ela siga em alta e se converta em realidade para todos nós, em cada canto do mundo. Fiquem bem e em segurança.
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