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LISBOICES: Guerra pandêmica
Aeroporto na China (Foto Divulgação)

LISBOICES: Guerra pandêmica

Por Eduardo Gregori
É verão! O Algarve a esta hora deveria estar lotado de ingleses, turistas que todos os anos invadem as areias no sul de Portugal. Mas eles não chegaram, não pelo menos a quantidade que costumava vir. Estudantes holandeses vieram, estimulados por uma parceria entre os dois países. Mas a primeira leva colocou tudo a perder quando decidiu fazer aglomeração, beber como se não houvesse amanhã e causar confusão nos bares e deixar a população sobressaltada.
Portugal, mesmo com um bom controle da pandemia, foi colocada pelo Reino Unidos na lista de países com alto risco de contágio. A temida lista, que tira o sono do governo, obriga a quem chega do Reino Unido a ficar 14 dias em quarentena ao retornar. O que jogou um balde de água fria em quem esperava lotar hotéis e restaurantes com turistas e recuperar o estrago durante o lockdown.
O governo do Primeiro-Ministro António Costa bem que tentou persuadir Londres e pediu informações a Boris Johnson sobre os critérios da lista, mas ficou no vácuo. Foi então que Portugal decidiu fazer algo que não fazia há muito tempo, virar-se para si mesmo.
Os portugueses estão fascinados em viajar pelo seu próprio país, descobrindo paisagens maravilhosas de norte a sul. Navegando pelo Rio Douro, provando vinhos e dormindo no meio da floresta em hotéis com bangalôs com teto aberto para observar as estrelas.
A Espanha aproveitou-se da situação e fez campanha para captar turistas que deixaram de vir a Portugal. Sol, mar, praias e bares abertos pareciam um convite impossível de aceitar. E lá foram os ingleses para o nosso vizinho. Tudo corria bem, mas as festas nas ruas, nos bares e aglomeração fizeram a curva descendente de contágio dar meia volta e subir exponencialmente. De um dia para o outro, a Espanha voltou a ser o país europeu com maior número de infectados pelo Novo Coronavírus.
O Reino Unido então decretou a Espanha como destino de alto risco e gerou o caos. Quem voltasse para casa a partir da Espanha teria também de passar por quarentena. Ingleses e residentes no Reino Unido correram para voltar antes que a medida passasse a vigorar. Muitos conseguiram mas outros não e tiveram de se conformar.
A França entrou na jogada, querendo levar para seus destinos os ingleses impedidos de entrar em Portugal e Espanha. E lá se foram os ingleses atravessar o Canal da Mancha para aproveitar o verão francês. Vimos durante a semana o mesmo cenário se repetir. Muita gente nas ruas, aglomerações e o número de casos subindo.
O Reino Unido pegou seus cidadãos de calças curtas ao decretar quarentena para quem está na França e pretende retornar. A medida foi anunciada praticamente 48 horas antes de passar a valer, o que causou uma correria aos aeroportos, estações de trem e de barcos do lado francês.
Como resultado, o preço das passagens foi para a estratosfera. Uma passagem de avião ou trem entre Paris e Londres chegou ao mesmo preço de Paris a São Paulo, quase 600 euros.
No outro lado do front, Portugal e Espanha preferiram apaziguar e não decretaram reciprocidade, mas a França acaba de anunciar que seus cidadãos e residentes que estiverem em solo britânico, terão de passar por quarentena na volta. O clima entre os países não é tenso, mas de mal-estar, agravado pelo fato do Reino Unido ter deixado a União Europeia recentemente.
Está correto que o número de contaminados vem crescendo novamente, fato previsto por conta do verão e das férias. Após meses de lockdown obrigatório seria impossível manter as pessoas em casa com as temperaturas altas.
Mas estes episódios também revelam uma guerra que usa a pandemia como arma. Em um verão com poucos turistas estrangeiros, cada país tenta puxar a sardinha para o seu lado para ajudar a mover a economia. No fundo, todos estão perdendo, infelizmente.
Estou em compasso de espera. Tenho voo para Barcelona em outubro mas minha ida dependerá das condições na Catalunha. Se fosse hoje, seria a terceira viagem desmarcada. Desmarquei o Brasil e os Açores. Vamos ver como a situação estará daqui a um mês e pouco. Espero que melhor.

Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal