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Machado e América
Foto Wade Lambert

Machado e América

Só se falava em tio Machado e tia América quando saíamos de carro para olhar as ondas do mar. Aliás, minto, era tia América e tio Machado, nessa ordem. Ela era a mandona. Sinal: na hora em que o carro ameaçava dar a partida, ela berrava: “Machado, Machado, Machado, breca esta joça”!!!!

Tio Machado fora piloto de avião desde que nascera. Era um explorador do céu e das estrelas. Era assim como diziam seus parceiros das nuvens. E passou a amedrontar trovoadas.

Em terra, era um explorador suave das ruas. Entre essas viagens, esbarrou em tia América, a guerreira. Foi ela que lhe deu a oportunidade de viajar em terra e conhecer aquela que seria a futura tia América.

Por isso nem torcia o nariz quando a parceira dava os berros. Quando o carro começava a rodar ainda na garagem, dizia. “Breca, breca, breca”. Tia América, furiosa.  No segundo seguinte. “Agora vai, vai, diabo”.

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Tio Machado aprendera a apagar as tais agressões e pusera para funcionar o espírito do investigador do além.  Assim, aos solavancos, tentamos ver a cidade. Mas não vimos nem o mar de Santos. Só vimos a cara calma de Tio Machado que só se preocupava em controlar o acelerador do carro.

O resultado em sua cabeça foi nulo. Mas, para nós, que víamos o espetáculo pela primeira vez, passamos a arregalar os olhos a cada berro de tia América. E percebemos que o inferno estava perto.

Mas nem sempre o inferno se mostra. Ele só ameaça e não dava as caras. Era um espetáculo em que até o diabo gargalhava. O estranhamento estava fora da cena. Mas quando acordava, ele vinha que vinha. Mas deu a volta.

Tio Machado neste momento retomou a faceta de um aviador nervoso que participara de uma guerra no ar. E mostrou então a cara assustadora. Para tia América mostrou-se outro sujeito que apenas queria dar um passeio com a família de cara para o mar.

Tio Machado enfureceu-se e jogou uma nova cara sobre a parceira. Ela percebeu que um novo Machado surgira em sua frente. Ele olhou uma única vez para tia América e assumiu a direção agora em maior velocidade. Silêncio.

Surgiu estão uma nova tia América, uma tia América doce. Assim mostrou-se novo casal. Antes do jantar, que tia América preparou com extrema doçura, jogamos baralho em parceria com tio Machado, que contou histórias saborosas. Depois chegou a comilança que tia América fez.

Na manhã seguinte resolvemos dar o tal passeio que deveria ser amoroso. Subimos sorridentes no carro que tio Machado conduziria novamente. Assim que ele cuidadosmente acelerou, tia América mostrou-se:

Machado, Machado, Machado…  breca esta joça,…..

Sobre Cacalo Fernandes

Ser paulistano foi o início de uma história de quem certo dia decidiu ser um escrevinhador. Mas quando a calça deixou de ser curta, lá no início, ajudou a construir esse lado que um dia pareceu esquisito. E hoje acho que não poderia ser outro.