Desde o dia 16 de junho de 2014, o Parque Cultural Campinas representa o novo território para as artes no centro da cidade. O Parque foi criado em função da decisão do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), de tombar 33 bens ligados ao complexo ferroviário, compreendido pelas sedes e outros prédios e anexos vinculados à Companhia Paulista e à Companhia Mogiana, ambas do final do século 19. Com a deliberação do Condepacc, praticamente todo o patrimônio ferroviário no centro da cidade está tombado, restando poucos itens para fechar o tombamento.
A determinação do Condepacc é mais um reconhecimento da importância histórica do patrimônio ferroviário para Campinas, derivado da trajetória da Paulista e da Mogiana. As estações dessas companhias foram o palco de alguns dos fatos mais relevantes para a história econômica, social, política e cultural campineira. Com essas empresas, a cidade se tornou um dos principais polos ferroviários do Brasil nas últimas décadas do século 19. E, com o polo ferroviário, Campinas consolidou sua posição como uma das maiores produtoras/exportadoras de café do Brasil na época, o que por sua vez teve notável impacto no processo político.
Algumas das principais lideranças republicanas eram de Campinas, como Francisco Glicério e Manuel Ferraz de Campos Sales, que viriam a ser ministro do primeiro governo republicado e segundo presidente civil do Brasil, respectivamente. Glicério e Campos Sales usaram inúmeras vezes as companhias Paulista e Mogiana em seus deslocamentos.
Entre outros episódios, a estação da Paulista, hoje Estação Cultura, recebeu, no dia 18 de setembro de 1902, o grande inventor Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação. Santos Dumont, que havia estudado em Campinas, no Colégio Culto à Ciência, voltou à cidade para a cerimônia da colocação da pedra fundamental do monumento-túmulo de Carlos Gomes, no centro. Quando chegou na estação central da Paulista, o aviador foi recebido com bandas de música e, descendo a rua Treze de Maio, foi aclamado por centenas de alunos das escolas locais.
Este trajeto é hoje percorrido por milhares de pessoas, que vão ao forte comércio da região central, e também se deslocando para escolas, assuntos de saúde, entre outros de ordem pessoal. E este mesmo trajeto, entre a Estação Cultura e o centro, na altura da Catedral de Campinas, é invariavelmente o percurso de muitas manifestações sociais, políticas e culturais. A decisão do Condepacc, de sacramentar o tombamento de quase todo patrimônio ferroviário, o que levou à criação do Parque Cultural Campinas, fecha um ciclo e abre outro, o de novas plataformas para as múltiplas linguagens artísticas no centro vivo de Campinas.