Por Adriana Menezes Fotos Martinho Caires
Uma obra fundida em bronze com 2,3m de altura, que evoca a felicidade e o prazer, passa a fazer parte em caráter permanente do jardim do Macc (Museu de Arte Contemporânea de Campinas) nesta quarta-feira, 29 de abril, às 20h.
A partir de agora, quem passar pela Rua Benjamin Constant, ao lado do prédio da Prefeitura Municipal, pode apreciar a escultura ‘Os Epicuristas’, do artista Ricardo Cruzeiro, que estará instalada muito próxima a um dos símbolos da cidade, o ‘Monumento às Andorinhas’ do italiano Lélio Coluccini.
“Dá até um certo nervosismo de estar ao lado de um Lélio (Coluccini), mas eu estou muito feliz com esta minha relação com a cidade e este sinal de reconhecimento”, diz Cruzeiro, a um mês de completar seus 50 anos de idade e quase 30 dedicados à arte. Sua proposta foi contemplada pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC), da Secretaria Municipal de Cultura.
Cinco epicuristas
Inspirado no filósofo grego Epicuro, que viveu entre 341 e 279 A.C., Cruzeiro criou cinco personagens que representam a filosofia epicurista, onde o sentido da vida está no prazer. Na extremidade, a silhueta de uma mulher com uma taça em seu corpo; em seguida a figura de uma coxinha espetada por um garfo em referência a um “falador comilão”, define o artista; depois um homem com um pandeiro ou o que poderia ser uma paleta de tintas; uma mulher dançarina em posição sensual “que lembra um pouco Carybé”; e um fumante de cachimbo.
“Acredito na energia das coisas. E eu acho que está faltando felicidade. Se eu tiver que passar algo, que seja a felicidade”, fala Cruzeiro, que já produziu antes a mesma escultura em bronze ‘Os Epicuristas’, em 2013, mas ela foi roubada no evento Casa Cor Campinas daquele ano, dentro do Palácio do Bispo.
Arte para durar
A obra nunca foi recuperada nem os ladrões descobertos, mas o artista decidiu produzir mais uma vez a escultura, que foi idealizada há quase quatro anos após seu retorno da Europa e dos Estados Unidos. “Voltei com a cabeça fervilhando, especialmente com o que vi de escultura na Europa. Percebi que a arte precisa durar, mas aqui no Brasil você vê seu trabalho se perder, é desesperador. Decidi fazer coisas mais duráveis, como esculturas”, lembra Cruzeiro.
A inspiração veio na forma de sonho. “Sonhei um dia que eu estava em um campo, correndo, e avistei umas esculturas de 7 metros nesse formato. Acordei antes das 5h e desenhei o que vi.” Para evitar a base de concreto, fez um suporte que não interferisse nas silhuetas.
De volta ao Macc
O paulistano Ricardo Cruzeiro chegou a Campinas aos 15 anos com a família que veio de Araraquara, onde havia morado para fugir da violência de São Paulo. O pai dentista e professor de inglês com a mãe professora de português tiveram a casa roubada em Araraquara e decidiram mudar para Campinas. Cruzeiro fez técnico em Publicidade e logo passou a trabalhar na área.
“Tudo começou com o grafite”, lembra o artista, que em 1986 fez sua primeira exposição, aos 21 anos, em uma coletiva no Macc. “Eu não vivi nestes quase 30 anos somente de arte, porque eu não quis transformar minha arte em produto”, recorda. “Cheguei agora a uma estética que me agrada e estou feliz com esta fase.” Em 2014, Cruzeiro realizou a instalação ‘Circuitos’, na cidade de Caieiras, que ele tem planos de um dia montar em Campinas. Mas o artista também tem em mente seus próximos trabalhos, alguns deles já com nomes, como Alien Committee, Operários do mês e Divas venuzianas. Agora é só esperar.