O Salão Internacional do Humor de Piracicaba é chão para o riso (e o grito) do mundo
Por José Pedro Martins
Ocidente e Oriente, juntos, pela paz, pela vida, mas com muito humor e espírito crítico. Este é o saldo do 41º Salão Internacional do Humor de Piracicaba, que ainda pode ser visto até o dia 12 de outubro, no Engenho Central. De modo especial, a edição deste ano reforçou o protagonismo do Irã nas artes plásticas e visuais.
O iraniano Afshin Nazari foi o grande vencedor da edição 2014, tendo vencido a categoria Cartum e recebido, também, o Troféu Zélio de Ouro, o grande prêmio do Salão.
Afshin Nazari ganhou com um cartum mostrando um presidiário que serra as grades de sua cela não para fugir, mas para se enforcar. Outro iraniano, Ali Miraee, venceu na categoria Charge, com foco na espionagem internacional pela Internet.
A premiação de dois iranianos não deixa de ser um tributo à bela história artística persa. Com uma arquitetura que expressa o poder do antigo Império Persa, o Irã tem vários sítios declarados patrimônio mundial pela Unesco. As ricas técnicas de arte em tapete, tecido, cerâmica e metaloplastia são milenares e continuam a inspirar artistas do mundo todo.
Tendo este forte legado como referência, não é de espantar o protagonismo do Irã nos últimos anos no cinema. Foram vários filmes iranianos premiados nos mais importantes festivais internacionais, como Cannes (França), Veneza (Itália), Locarno (Suíça) e Munique (Alemanha). Agora, através do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, a reafirmação do Irã no mapa artístico global.
Cidadania planetária – Com sua 41ª edição, o Salão Internacional de Humor de Piracicaba reiterou a sua sintonia com os grandes temas contemporâneos, refletindo uma cidadania planetária. Em tempos de intolerância, de aversão ao diálogo, o Salão de Humor lançou novas pontes entre Ocidente e Oriente, acima das diferenças religiosas e culturais.
A categoria Indignação também teve um vencedor estrangeiro, o ucraniano Vladimir Kazanevsky, com um cartum em que uma manifestação assume a forma da marca do Facebook, tendo pela frente um soldado, simbolizando a ordem, o poder. Uma clara referência ao uso das redes sociais como forma de mobilização para causas da cidadania.
Outro estrangeiro, o peruano Walter Alvarez Toscano, venceu o Prêmio Aquisitivo Câmara de Vereadores de Piracicaba, com uma caracterização “diabólica” do russo Vladimir Putin.
Quatro prêmios tiveram brasileiros como vencedores. Uma caracterização do compositor Cartola, em uma escultura de metal, valeu a Robinson José da Silva o prêmio na categoria Caricatura. O Prêmio Saúde Unimed foi vencido por Rafael Limaverde. Raimundo Rucke venceu na categoria Tiras. E Moacir Knorr Gutierres ganhou o Prêmio Águas do Mirante.
Criado durante a ditadura militar, o Salão Internacional de Humor de Piracicaba sempre foi uma fresta de liberdade. Na sua gênese, a abertura para os humoristas dispararem suas balas de inteligência contra o regime dos generais.
Durante a redemocratização, o espaço para a expressão dos grandes desafios e dramas nacionais, rumo à cidadania real e integral (ainda muito distante do horizonte). Com a dimensão internacional, o território para artistas do mundo todo apresentarem os rostos, os corações e lutas de seus povos. O Salão Internacional do Humor de Piracicaba é chão para o riso (e o grito) do mundo.