Nesta terça-feira, 23 de setembro, a ONU sedia a Conferência de Cúpula do Clima, com a presença de chefes de Estado e governo e ministros. Os governantes receberão durante o encontro a informação de que em 2012 a poluição do ar matou 7 milhões de pessoas e, com isso, se tornou o maior risco para a saúde pública no planeta. Esta é a principal mensagem que a diretora geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margareth Chan, fará durante a Conferência de Cúpula, que acontece na sede das Nações Unidas em Nova York.
A Cúpula do Clima é uma iniciativa do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, com o objetivo de dar mais força política às negociações sobre um acordo global de combate às mudanças climáticas. Negociações que continuam em ritmo lento em comparação com as demandas planetárias. Em 2013 a presença de gases-estufa na atmosfera alcançou o recorde, segundo a Organização Meteorológica Mundial.
De modo preparatório, a OMS promoveu uma Conferência sobre Clima e Saúde, ocorrida recentemente em Genebra, na Suíça. Durante três dias, de 27 a 29 de agosto, mais de 360 pessoas, entre ministros da saúde e do meio ambiente de vários países que integram a OMS, agências da ONU, ONGs e especialistas se debruçaram sobre os impactos na saúde das mudanças climáticas, que têm sido agravadas pela poluição atmosférica. Os resultados do evento será levados à Conferência do Clima na ONU.
Na abertura do evento, Margaret Chan lamentou que, apesar das evidências, os efeitos na saúde não estejam sendo considerados no debate sobre as mudanças climáticas. Alimentação, água e ar estão sendo diretamente impactados por esse fenômeno, observou a dirigente da OMS.
No mesmo sentido, a secretária executiva da Convenção das Nações Unidas sobre o clima, Christiana Figueres, assinalou que o acordo global sobre o clima, que será concluído em dezembro de 2015 em uma conferência em Paris, terá na prática o perfil de um “acordo global de saúde pública”. Se não forem detidos, alertou, os impactos das mudanças climáticas vão afetar diretamente a capacidade de atendimento do setor da saúde.
Dados não faltam – Dados para justificar uma ação mais incisiva para deter as mudanças climáticas não faltam. Foi o que deixou claro o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Michel Jarraud. Ele observou que as emissões de gases de efeito estufa, que crescem todo ano, já estão 40% acima dos níveis pré-industriais. Do mesmo modo, a cada década aumentam as médias globais de temperatura. Um dos resultados visíveis, alertou, é a elevação do nível do mar em até 1,2 cm por ano em algumas áreas, o que incrementa o risco de desastres naturais afetarem as populações costeiras.
Aumento do risco de malária, doenças diarreicas e sub-nutrição são alguns dos impactos das mudanças climáticas na saúde, de acordo com Maria Neira, diretora do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS. Mas ela lembrou que os poluentes climáticos de curta duração também têm impactos na saúde. Nesta linha, Paulo Saldiva, da Universidade de São Paulo, reiterou que as evidências de ligações entre câncer de pulmão e poluição do ar são muito fortes. Do mesmo modo, François Reeves, da Universidade de Montreal, disse que a doença cardiovascular era rara antes da revolução industrial e ainda é rara em pessoas que vivem fora do mundo industrializado, ou seja, reforçou a correlação entre poluição e saúde.
Considerando a situação “desesperada, mas não impossível”, a Federação Internacional de Estudantes de Medicina defendeu que a área da saúde seja um “catalisador” para ações na área de combate às mudanças climáticas. A Federação ressaltou a urgência do uso de energias renováveis para reduzir as doenças respiratórias e melhorar a produção local de alimentos.
Benoît Vallet, Director-Geral da Saúde, a França, destactou a importância da mudança do uso de carros por bicicletas. Foram várias as intervenções no sentido de que a área da saúde esteja mais atenta às questões ambientais em geral e das mudanças climáticas em particular.
Nesse sentido, Maria Neira sublinhou o propósito da OMS em promover uma plataforma sobre mudanças climáticas e saúde. A representante da OMS observou que a organização apresentará suas propostas no contexto das discussões sobre a agenda pós-2015 e de eventos como a Conferência do Clima, de 23 de setembro em Nova York.