Os dramas vivenciados pelas pessoas em situação de rua são o mote do espetáculo “Circo da Miséria” e também do livro “Psiu!”, ambos produzidos por Jeff Vasques, que é palhaço e também escritor radicado em Campinas. Espetáculo e livro foram financiados pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC), da Secretaria Municipal de Campinas. O lançamento das obras está marcado para dia 26 de setembro, no Centro de Arte e Cultura (CAC) de Hortolândia. Em Campinas, o espetáculo vai ocupar praças e outros espaços públicos no mês de outubro.
As apresentações serão “no chapéu”, ou seja, com contribuição espontânea dos espectadores. O livro “Psiu!” será vendido a preço popular.
O “Circo da Miséria” – No espetáculo de palhaço “Circo da Miséria”, Jeff Vasques, ou melhor, Magrólhos, o protagonista desse grande circo chamado “miséria”, chega a mais uma praça como um saltimbanco em roupas surradas, carregando em seus bolsos fome e o pó das estradas. Chega como um mambembe, como mais um catador colhendo o que já não tem serventia para lhes dar nova vida; enfim, chega como um palhaço “vagabundo”, armando sua lona preta sob a qual dorme e sobre a qual levanta o picadeiro de sua luta diária por sobrevivência.
Ora provocando risos, ora comovendo, Magrólhos convida os espectadores a adentrar o maior desespetáculo da Terra e romperem o cerco que os imobiliza, convidando-os a oferecer a mão, a compartirem indignação e solidariedade. Magrólhos é o peregrino que todos, no fundo, somos. Vagando à procura de humanidade nos restos e ruínas de um mundo tão desumano.
Processo criativo – O espetáculo de 40 minutos é inspirado a partir do contato com a realidade da população em situação de rua e na tradição dos palhaços “vagabundos”, que tem em Carlitos, de Charles Chaplin, sua encarnação mais famosa. Esses palhaços usam da criatividade e de todo seu “jeitinho esperto” para garantir o seu ganha-pão, como abordado por Antônio Cândido em “A dialética da malandragem”, e eternizados em figuras como João Grilo, no “Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna.
Já trabalhando há alguns anos com essa perspectiva de arte e consciência social, Jeff Vasques, mais recentemente, aproximou-se da Comissão de Visibilidade do Fórum da População em Situação de Rua de Campinas e, assim, pôde ter contato mais direto com as demandas dessa população, desenvolvendo com eles, por dois meses, oficinas semanais de palhaço e teatro, que foram realizadas no Centro de Referência da População em Situação de Rua do município.
Com criação e atuação de Jeff Vasques e orientação de Luciane Olendski, o espetáculo tem como assistente de direção Taiane Raffa e, no figurino, Ângela Sauerbronn. As fotos são de Natasha Mota e o design gráfico de Denis Forigo.
Datas e locais das apresentações
26 de setembro, sábado, às 16h, no CAC – Centro de Arte e Cultura de Hortolândia, no evento “O Fabuloso Sarau das Crianças”. Endereço: Av. Armelinda E. da Silva, 785, Jd. Nossa Senhora de Fátima, Hortolândia.
Em Campinas
03 de outubro, sábado, às 19h, no Museu da Imagem e do Som (MIS)-Campinas, na 8ª Mostra Luta!. O espetáculo será seguido de exibição dos documentários “Eu existo” e “Boca de Rua”, que também têm como temática a população em situação de rua. Endereço: Rua Regente Feijó, 859, Centro.
07 de outubro, quarta-feira, às 15h, no Centro POP, na 8ª Mostra Luta!
Endereço: Rua José Paulino, 603, Centro.
10 de outubro, sábado, às 10h30, no Largo da Catedral Metropolitana, na 8ª Mostra Luta!
Endereço: Av. Francisco Glicério, s/n, Centro.
18 de outubro, domingo, às 11h, no Kartódromo do Taquaral.
Endereço: Av Dr. Heitor Penteado s/n, Taquaral – Entrada pelo portão 6 da Lagoa do Taquaral.
23 de outubro, sexta-feira, às 13h30, na Casa de Cultura Tainã.
Endereço: Rua Inhambu, 645 – Vila Padre Manoel da Nóbrega.
25 de outubro, domingo, às 11h, no Centro de Convivência.
Endereço: Rua General Osório-Conceição, s/n, Cambuí.
O livro “Psiu!”- No livro “Psiu!”, Jeff Vasques narra uma estória para todas as idades, que “faça acordar os homens e adormecer as crianças”, como diz Drummond, estabelecendo pontes de diálogo entre esses dois leitores e essas duas visões de mundo (a ingênua e a experiente). A narrativa é corajosa ao trazer para a literatura “infantil” a realidade da miséria que não pode mais ser escondida do olhar da criança que é, freqüentemente, subestimado.
Em “Psiu!”, o leitor acompanha o cotidiano de um velhinho, a que todos chamam com “psius!”, um ser humano rico de imaginação, alegrias e tristezas, que vive em situação de rua, de lua e de luta. Psiu subverte suas misérias, dentro do (im)possível, com sua imaginação: brinca de ser invisível; trabalha, à noite, cuidando dos silêncios; colhe nas ruas suas belezas inúteis, ou “inutilezas”; e tem por amigos a natureza e as coisas simples da cidade que, em geral, passam desapercebidas pelos cidadãos apressados.
Através do traço sensível e de belas colagens da artista plástica Letícia Graciano, e do projeto gráfico elegante e funcional de Denis Forigo, Jeff Vasques cria este conto de fadas e de fatos, uma história ao mesmo tempo ficcional e real (“era uma vez/ou ainda era hoje/como tal vez/sempre fosse”), encantando e comovendo a partir de influências poéticas como a de Manuel de Barros e Guimarães Rosa.