As cicatrizes do tempo, as camadas do tempo, o poder de criação e reinvenção do tempo. Uma visão plural sobre o tempo, esse roteirista da vida, é o que oferecem seis artistas de Campinas, reunidos em exposição aberta na última sexta-feira, 6 de novembro, à noite, na Galeria Sede. “Na linha do tempo de seis artistas” é o título da coletiva, com trabalhos, em diversos suportes, de Fabiano Carriero, Nale Simionatto, Paulo Branco, Renato Stegun, Robinson José e Synnöve Hilkner.
É tempo de refletir sobre as raízes culturais indígenas brasileiras, nos diz Fabiano Carriero, com sua tela a óleo “Filho da Folha”. Nascido em Campinas, começou sua trajetória pelos campos da caricatura e do HQ, tendo frequentado cursos com Bira Dantas, Paulo Cheida, Ricardo Quintana e o próprio Paulo Branco, companheiro de exposição. Já publicou tiras, charges e ilustrações em vários livros infantis, fanzines e periódicos. Cursando Artes Visuais na PUC-Campinas, já tem uma imensa produção em tela.
Outra que teve aulas com Paulo Branco, e também com Vera Ferro e Francisco Biojone, é Nale Simionatto, artista plástica, psicóloga e advogada. Natural de Novo Horizonte, reside em Campinas há tempos e participou recentemente da mostra de Batom, Lápis & TPM, ligada ao Salão Internacional de Humor de Piracicaba.
Nale participa com quatro telas na exposição da Galeria Sede. Nelas é explícita a sua identidade com o céu e a água. Elementos fundamentais da natureza, que ela considera irmã do tempo. Em uma das obras, os mistérios do tempo inexorável são traduzidos pela presença da ampulheta e do símbolo do infinito. No alto, uma borboleta dourada, voando rumo ao sem fim.
Professor de muitos artistas, inclusive de todos os colegas de “Na linha do tempo”, Paulo Branco assina uma obra na coletiva que indica a sua procura permanente por novas formas de expressão. “Arte na lona” usa técnicas mistas e vários materiais, compondo um mosaico de linguagens. O inquieto Paulo Branco tem mais de três décadas de carreira, transitando, entre outros territórios, pela ilustração e a caricatura. Cultiva uma forte relação com o humor, tendo participado de vários salões e festivais, nacionais e internacionais. Atualmente dá aulas na Ide Escola de Arte.
Outro artista em constante busca por novas modalidades de expressão é Renato Stegun, também caricaturista e publicitário, com várias exposições individuais e coletivas. A paixão pela música está refletida em suas telas na exposição da Galeria Sede. “Tenho um violão em casa, desde criança, nunca aprendi mas ele me levou para a música”, explica, em uma referência à infância, o tempo da felicidade que também comparece nas produções de outros companheiros da exposição.
Com tantos talentos reunidos, a escultura não poderia faltar à coletiva “Na linha do tempo”. Ela está representada por obras de Robinson José da Silva, mais um campineiro que adora brincar com novas linguagens artísticas. Robinson apresenta duas caricaturas em 3D, com as quais participou dos últimos dois salões internacionais de Humor de Piracicaba, tendo vencido na categoria respectiva em 2014.
São esculturas do líder dos direitos civis Mahatma Gandhi e do músico Cartola – a vencedora do famoso salão piracicabano. Uma referência na luta pelos direitos humanos, outra na música. Mas Robinson também prestou tributo a outro mestre, um muito próximo, o próprio Paulo Branco, com outra das esculturas. Claro, Branco adorou e fez questão de afagar a obra.
Robinson também comparece com uma tela na exposição. “Mãe das ruas” é uma homenagem às mães, sobretudo às mães excluídas, oprimidas pela sociedade, mas não pelo tempo. Ele sempre nos lembra delas, como nessa forte obra de Robinson, que tem a oportunidade de conhecer de perto muitos dramas humanos como voluntário de entidades sociais, como a União Cristã Feminina.
“Na linha do tempo” fecha com obras da curadora da exposição, Synnöve Dahlström Hilkner. Nascida na Finlândia, ela mora em Campinas desde os 11 anos de idade, mas as origens nórdicas estão evidentes em suas telas. As cores da aurora boreal, a “sobriedade e solitude” do finlandês, em uma atmosfera de paz exuberante. As cores da memória.
A bicicleta é um elemento predominante em quatro das cinco pinturas. A bicicleta que permite a mobilidade e a contemplação das veredas do tempo. A outra obra é a visão de uma bailarina por Synnöve. Uma bailarina de olhos fechados, centrada em si mesmo, em seus movimentos que desafiam as incertezas do tempo. Ciclistas e bailarina em atitude zen.
“Somos amigos, sempre estamos juntos, era hora de uma exposição conjunta”, diz a curadora, explicando a origem da coletiva que nos convida a pensar e a conversar com o tempo, nosso irmão. A Galeria Sede fica na rua Dr.Sampaio Peixoto, 368, no Cambuí, em Campinas. (Por José Pedro Martins)