Uma cidade em ebulição, com diversos grupos sociais professando e praticando ideias em feminismo, meio ambiente, economia solidária e criativa, empreendedorismo social, ativismo digital e cultura. Esta é a Campinas que o 13º Encontro da Cidadania mostrou neste sábado, 7 de novembro, com uma extensa e intensa programação no Ciclo Básico II da Unicamp. O saldo foi o fortalecimento da Rede Minha Campinas, que promoveu o Encontro.
Mais de 20 grupos e organizações sociais apresentaram seus projetos, em quatro salas, batizadas com os nomes de referências afetivas e culturais da cidade: Centro de Convivência, Estação Cultura, Torre do Castelo e Mercadão. Quatro ícones arquitetônicos, ratificando o propósito da Rede Minha Campinas de promover uma releitura da cidade, sob a ótica dos diferentes segmentos que lutam pela inclusão, respeito à diversidade e qualidade de vida.
Direitos humanos em sua mais ampla e contemporânea tradução. Esta foi a síntese da programação oferecida pela Rede Minha Campinas no 13º Encontro da Cidadania. Em suas 12 primeiras edições, o Encontro foi realizado pela Rede CDI – Comitê pela Democratização da Informática.
A Rede Minha Campinas sai mais forte do Encontro, pela aglutinação de grupos com focos distintos, mas com um objetivo comum, o de construir uma cidade justa. E com ideias que apontam para o novo.
Participaram do Encontro, entre outros projetos e ações, o Cursinho Popular Proceu Conhecimento (da Escola Vilagelin), Ação Portelinha (do Centro Promocional Tia Ileide), Juventudes – Uma política em construção (da Rede de Juventudes), Comunidade On Line (do Cepromm – Centro de Promoção para um Mundo Melhor), Mapa da Cultura de Campinas (do Coletivo Revoada), Para onde vai nosso lixo? (da Semente Esperança) e Oficina de Rádio e Blog (do CeCCO – Tear das Artes). Durante o intervalo para almoço, as centenas de participantes do Encontro cantaram e dançaram ao som das músicas críticas da banda Hos Tio. O Centro Social Romilia Maria também apresentou seu grupo de dança.
Vídeo discute o aborto – Um dos projetos apresentados foi o documentário “CEP 05300″, de um grupo de alunas de Midiologia da Unicamp e que se propõe a discutir o tabu do aborto na sociedade brasileira. “Somos a favor da legalização do aborto. Ele continua acontecendo como sempre e continua proibido para os pobres”, diz Lygia Pereira, integrante do grupo que executou o projeto. As outras integrantes são Adria Meira, Gabriela Orestes e Laura Videira.
Ela conta que a intenção era ouvir mulheres que passaram pela experiência do aborto, enfrentando péssimas condições em função do procedimento ainda ser proibido no país. O grupo de alunas fez várias pesquisas e depois foi a campo, ouvindo mulheres da periferia de São Paulo. Também foram colhidos depoimentos de especialistas e médicos em saúde da mulher. As gravações foram concluídas e o vídeo está em fase de editoração, devendo ser lançado em 2016. Foi aberta uma campanha de financiamento coletivo para conclusão do vídeo, no portal Vaquinhas Online (https://www.vakinha.com.br/vaquinha/cep-05300).
“É preciso discutir o assunto, é uma questão de saúde pública”, defende Lygia. Ela explica que o nome do documentário se refere ao número de abortos estimados no Brasil, identificado por um estudo conduzido pela Universidade de Brasília (UnB) e apoio da Agência Ibope Inteligência e do Ministério da Saúde. A Pesquisa Nacional de Aborto revelou que uma em cada sete brasileiras de 18 a 39 anos fez aborto pelo menos uma vez na vida, o que representaria um contingente de 5,3 milhões de mulheres.
Gestão da crise hídrica – Discutir a crise hídrica que tem afetado muitas regiões do Brasil desde 2014 e como as comunidades podem enfrenta-la. Este é o objetivo do projeto Gestão da Crise Hídrica, conduzido por um grupo de jovens que frequentam o Centro Comunitário do Jardim Santa Lúcia, em Campinas. “Decidimos que era um tema importante, pois afeta a vida de todos”, explicou Julia Santos Gonçalves, integrante do grupo.
Os meninos e meninas são alunos em duas escolas da região, a Escola Estadual Prof.Norberto de Souza Pinto e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Emilio Miotti. Outro integrante do grupo, Alan Alexandre conta que os jovens tiveram aulas de gravação e edição no Centro Comunitário e, depois, foram entrevistar lideranças da comunidade sobre a crise hídrica.
A conclusão, segundo o grupo, foi a de que todos podem colaborar com o uso racional da água. “É preciso ter cuidado e não ficar lavando calçada e automóvel”, resume Isabela Sabrina, outra participante do grupo, que apresentou o vídeo pela primeira vez no 13º Encontro da Cidadania. Os jovens agora pretendem divulgar o vídeo em outros espaços, divulgando a mensagem do uso racional da água. Mateus Alves, Gabriela Santos e Everton Gabriel completam o grupo.
Cooperativas e Economia solidária – Os conceitos de economia solidária foram apresentados no 13º Encontro da Cidadania por Ana Franke, que falou sobre a experiência da Cooperativa Havilá Coleta e Manuseio de Recicláveis. É uma das 15 cooperativas de reciclagem de resíduos de Campinas. Ana Franke é especialista em Economia Solidária pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e voluntária na Cooperativa Havilá.
Além da importância para o meio ambiente, as cooperativas de reciclagem “fazem um importante trabalho de inclusão social, pela geração de renda e emprego”, destacou Ana. Ela citou os conceitos de comércio justo, respeito à diversidade e estímulo à aprendizagem como princípios da Economia Solidária praticados pela Cooperativa Havilá.
Cooperativas, grupos de jovens, entidades sociais, estudantes em vários níveis. Múltiplos agentes sociais, construindo uma cidade mais justa e solidária. O espelho do 13º Encontro da Cidadania, que representou um salto na atuação da Rede Minha Campinas. (Por José Pedro Martins)