Continuam abertas até o dia 22 de março as inscrições para a décima terceira edição da Bienal Naïfs do Brasil, que acontece no segundo semestre em Piracicaba, interior de São Paulo, na unidade local do Serviço Social do Comércio (Sesc). A Bienal Naïfs reúne os trabalhos representativos da arte ingênua, espontânea, primitiva e popular de todas as regiões do Brasil. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas observando o regulamento que pode ser obtido no SESC-Piracicaba.
A 12ª edição da Bienal Naïfs do Brasil, no SESC-Piracicaba, em 2014, apresentou 106 obras de 81 artistas de todos os cantos do país. Desses cantos vem o encanto com o lirismo, a visão crítica e a esperança de dias melhores.
A arte naïf, ou naive, é aquela de matriz na cultura popular, e que representa a expressão espontânea, ingênua, instintiva, de artistas geralmente autodidatas, sobre vários aspectos da vida. Entre 1986 e 1991 o SESC-Piracicaba realizou mostras anuais, que representaram o fortalecimento do olhar mais atento para esse importante recorte da cultura brasileira. As bienais deram um passo à frente, representam um salto de qualidade na valorização e visibilidade dessa vertente artística e filosófica.
A 12ª edição da Bienal Naïfs do Brasil não se limitou à pintura. Eram vários suportes para a expressão dos artistas, como na técnica mista usada pelo Mestre João do Carmo, de Jaboticabal (SP), para mostrar “O Baile das Caveiras”.
Diógenes Moura assinou a curadoria da 12ª Bienal Naïfs do Brasil. Há décadas o pesquisador mergulha na alma da cultura popular brasileira. Nascido em Recife, viveu em Salvador e há anos está em São Paulo, onde atua na Pinacoteca do Estado. É jornalista, escritor e roteirista. É autor, entre outros, de “Elásticos Chineses”, editado pela Fundação Casa de Jorge Amado.
A festa, a alegria, a comunhão de afetos é uma das fortes vertentes da arte naïf. A celebração da vida em comunidade. Como em “Festa Junina”, de Edgard D´Oliveira, de São José do Rio Preto (SP), ou Dança Pau de Fitas, de Salvatori, de Porto Alegre (RS), presentes na 12ª Bienal.
Outro tema valorizado no mundo naïf é a nostalgia da vida rural, seu contato direto com a natureza, o cotidiano duro e livre, como em “Refúgio dos Pescadores” e “A Vida na Roça”, de Milene de Oliveira (Socorro, SP), tendo como suporte duas enxadas, também na última edição. Na arte naïf o meio também é a mensagem.
Não por acaso, o êxodo rural e suas consequências, tanto para a roça como para a cidade, também está presente no universo naïf e na bienal de Piracicaba. Na edição de 2014, o par de óleos sobre tela “Antes do êxodo rural” e “Depois do êxodo rural”, de Miguel S.S.S., de Marília (SP), foi mais do que explícito nesse sentido.
Um dos efeitos da urbanização intensiva é a medicalização da vida. Esta foi a denúncia de Cor Jesus, de Ouro Preto (MG), em sua assemblagem sem título, na qual utiliza caixas de remédio para montar a maquete de uma cidade densamente urbanizada.
Enfim, a Bienal Naïfs do Brasil é um espelho da alma brasileira, em toda sua diversidade. Os interessados em participar da edição de 2016 por ter mais informações nos números 0800-771-6243 e 3437-9286 ou pelo email bienalnaifs@piracicaba.sescsp.org.br. O Sesc de Piracicaba fica na Rua Ipiranga, 155, região central da cidade. (Por José Pedro Martins)