Por Adriana Menezes
O microfone roubado por alguns segundos no meio da programação para um rápido protesto espontâneo – “Por mais oportunidades no mercado de trabalho” – demonstrou o real desejo de quem estava ali: o direito à expressão e à participação na sociedade. Não foi a única voz a surgir, de repente, no microfone. Outras palavras de ordem foram ouvidas: “Pela inclusão” ou “Por nossos direitos”. Centenas de famílias foram às ruas de Campinas na manhã de hoje por uma causa urgente e de extrema importância para a cidadania: A Inclusão. Foi a 5ª Caminhada pela Inclusão em Campinas.
O clima festivo e a alegria espontânea dominaram o evento que começou às 9h na Praça Arautos da Paz (ao lado da Lagoa do Taquaral). A caminhada foi promovida pelo Centro de Educação Especial Síndrome de Down (CEESD), e pela primeira vez reuniu na mesma ação as entidades da cidade voltadas para as pessoas com a síndrome: Fundação Síndrome de Down (FSD), Instituto Mano Down e o próprio CEESD. O evento encerrou a Semana da Síndrome de Down da Prefeitura de Campinas e antecipou a comemoração pelo dia 21 de março, Dia Internacional da Síndrome de Down.
Música, capoeira e dança foram as principais formas de expressão na série de apresentações artísticas que antecederam a caminhada. A secretária municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, Emmanuelle Alkmin, falou sobre a importância da iniciativa.
“A reunião das entidades nesta iniciativa, pela primeira vez, muda o status da inclusão na cidade de Campinas”, disse Emmanuelle. “É o resultado do trabalho dos últimos anos. Mas, afinal, a cidade tem mais de 240 anos sem pensar na inclusão, e só muito recentemente começamos a pensar nisso.”
Glauber Martins Chaves, de 24 anos, conquistou seu espaço no mercado de trabalho como pessoa com Síndrome de Down. Há dois anos e três meses ele trabalha Renner do Campinas Shopping, como Auxiliar de loja. “Faço tudo: arrumo cabide, atendo cliente, e gostam de mim. Fui destaque cinco vezes na loja”, conta Glauco que se preparou no Centro de Iniciação e Qualificação Profissional (CIQP) da Apae Campinas.
Glauber tem carteira assinada e trabalha das 10h50 às 19h10. Almoça com os colegas e está integrado à equipe. “Também levo bronca, como todos.” Mas não é só no mercado do trabalho que ele gosta de ser incluído. Participou do filme “Colegas”, numa cena de banho, e praticava capoeira – parou porque achou que precisava fazer uma dieta. “A festa está muito bonita.”
A dançarina Keyla Ferrari, da Companhia de Dança Humaniza, comemorou o ambiente festivo e descontraído da apresentação de dança. Na hora da apresentação, não saiu quase nada como no ensaio e muitos se juntaram no palco para dançar. Mas ela adorou a participação. Ela e seu marido, Vicente Pironti, diretor da Agência Internacional de Desenvolvimento Humanitário Humaniza, disseram que o melhor da manhã foi a brincadeira e, na prática, a inclusão de todos na comemoração.
Mas, enquanto a inclusão em um evento festivo e familiar acontece naturalmente, o cenário no dia-a-dia é bem diferente. Para entender o que ocorre no cotidiano, de verdade, primeiro é preciso entender o que é inclusão.
A secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Prefeitura de Campinas, Emmanuelle Alkmin, que tem deficiência visual, define o que é inclusão: “Para mim é a possibilidade da deficiência ser apenas um detalhe na vida das pessoas. Daí você vê a valorização da pessoa e da vida. Para acontecer isso precisa haver muitas mudanças na nossa cultura e no nosso olhar como sociedade.”
“É possível ter vida, talento, diversão, estudo, trabalho tendo deficiência. As leis também precisam mudar, para que haja uma rede real de garantia de defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Estas máquinas digitais de cartão, por exemplo, não funcionam pra mim; não consigo digitar minha senha. Precisa haver normas técnicas que prevejam a acessibilidade. Uma calçada, por exemplo, não pode ser apenas bonitinha com grama e pedrinhas; precisa permitir que passe uma cadeira de rodas. É preciso aliar também a sustentabilidade à acessibilidade”, conclui Emmanuelle.
O toque do berrante por Rogério Afonso convocou todos para a caminhada, por volta de 10h. A 5ª Caminhada pela Inclusão teve o apoio da Prefeitura de Campinas, da Lado B Comunicação Estratégica, do Projeto Sign e das entidades envolvidas: Centro de Educação Especial Síndrome de Down, Fundação Síndrome de Down e Instituto Mano Down.