Capa » Cultura Viva » Dez motivos para não perder a Bienal Naifs de Piracicaba
Dez motivos para não perder a Bienal Naifs de Piracicaba
Obras de 81 artistas estiveram expostas na última Bienal Naifs de Piracicaba (Foto José Pedro Martins)

Dez motivos para não perder a Bienal Naifs de Piracicaba

Sob o tema “O Santuário Refletido no Espelho”, a 12ª edição da Bienal Naïfs do Brasil, no SESC-Piracicaba, apresenta 106 obras de 81 artistas de todos os cantos do país. Desses cantos vem o encanto com o lirismo, a visão crítica e a esperança de dias melhores. A Bienal fica até o dia 30 de novembro no SESC-Piracicaba (rua Ipiranga, 155).

  1. A arte naïf, ou naive, é aquela de matriz na cultura popular, e que representa a expressão espontânea, ingênua, instintiva, de artistas geralmente autodidatas, sobre vários aspectos da vida. Entre 1986 e 1991 o SESC-Piracicaba realizou mostras anuais, que representaram o fortalecimento do olhar mais atento para esse importante recorte da cultura brasileira. As bienais deram um passo à frente, representam um salto de qualidade na valorização e visibilidade dessa vertente artística e filosófica.
  2. A 12ª edição da Bienal Naïfs do Brasil não se limite à pintura. São vários suportes para a expressão dos artistas, como na técnica mista usada pelo Mestre João do Carmo, de Jaboticabal (SP), para mostrar “O Baile das Caveiras”.
O Baile das Caveiras, do Mestre João do Carmo, de Jaboticabal (SP)

O Baile das Caveiras, do Mestre João do Carmo, de Jaboticabal (SP)

3. A curadoria da 12ª Bienal Naïfs do Brasil é de Diógenes Moura, que há décadas mergulha na alma da cultura popular brasileira. Nascido em Recife, viveu em Salvador e há anos está em São Paulo, onde atua na Pinacoteca do Estado. É jornalista, escritor e roteirista. É autor, entre outros, de “Elásticos Chineses”, editado pela Fundação Casa de Jorge Amado. Entre outros, recebeu o Prêmio APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte de melhor livro de contos/crônica de 2010 com Ficção Interrompida – Uma Caixa de Curtas (Ateliê Editorial). Também é pesquisador em fotografia, tendo atuado como curador em várias mostras. “Liberto em sua expressão popular, o artista se livra do medo para entregar-se à descoberta de si mesmo”, escreve Diógenes, no texto de apresentação da Bienal.

4. A festa, a alegria, a comunhão de afetos é uma das fortes vertentes da arte naïf. A celebração da vida em comunidade. Como em “Festa Junina”, de Edgard D´Oliveira, de São José do Rio Preto (SP), ou Dança Pau de Fitas, de Salvatori, de Porto Alegre (RS).

5. A nostalgia da vida rural, seu contato direto com a natureza, o cotidiano duro e livre, é frequentemente valorizado no mundo naïf, como em “Refúgio dos Pescadores” e “A Vida na Roça”, de Milene de Oliveira (Socorro, SP), tendo como suporte duas enxadas. Na arte naïf o meio também é a mensagem.

Obras de Milene de Oliveira, de Socorro (SP)

Obras de Milene de Oliveira, de Socorro (SP)

6. Não por acaso, o êxodo rural e suas consequências, tanto para a roça como para a cidade, também está presente no universo naïf e na bienal de Piracicaba. O par de óleos sobre tela “Antes do êxodo rural” e “Depois do êxodo rural”, de Miguel S.S.S., de Marília (SP), é mais do que explícito nesse sentido.

7. Um dos efeitos da urbanização intensiva é a medicalização da vida. Esta é a denúncia de Cor Jesus, de Ouro Preto (MG), em sua assemblagem sem título, na qual utiliza caixas de remédio para montar a maquete de uma cidade densamente urbanizada.

A cidade medicalizada, por Cor Jesus, de Ouro Preto (MG)

A cidade medicalizada, por Cor Jesus, de Ouro Preto (MG)

8. A 12ª Bienal Naïfs apresenta duas importantes coleções de fotopintura, expressão popular muito tradicional. Segundo o curador Diógenes Moura, suas origens podem estar nos retratos de Fayum, região da Península Itálica e do Mediterrâneo, datados do século IV a II a.C. No Brasil a técnica começa a ser usada intensivamente primeiro no Nordeste, no início do século XX, com o uso inovador de pastel e a óleo transparente. A bienal tem duas coleções importantes, a do pesquisador alemão Titus Riedl (que vive no Crato desde 1999) e a do Mestre Júlio Santos, que recolheu trabalhos de vários estúdios durante cinco décadas.

9. Até o final da bienal, em 30 de novembro, o SESC-Piracicaba promove várias atividades paralelas, como oficinas, minicursos, ateliês abertos, visitas monitoradas com artista e apresentações de música, teatro, dança e cinema. Mais informações no SESC-Piracicaba (19.3437.9292) ou sescsp.org.br.

10. Tem muita coisa boa para ver. Uma delas é a obra “Brasileiras e Brasileiros”, de Augusto Japiá, de Paulista (PE), que usou acrílica sobre caixa de fósforo e ganhou o Prêmio Destaque Aquisição. A cultura popular brasileira é fogo que não se apaga.

Prêmio Destaque Aquisição, para Augusto Japiá, de Paulista (PE)

Prêmio Destaque Aquisição, para Augusto Japiá, de Paulista (PE)

 

 

Sobre José Pedro Soares Martins

Deixe uma resposta