O fim de semana na Estação Cultura de Campinas foi mais uma vez totalmente Mix. Se há um espaço onde é possível dançar, experimentar, beijar, andar, brincar, comer, vestir, consumir e ser o que se é, sem se sentir intimidado por olhares de repressão, esse lugar é o Mercado Mundo Mix. Pela segunda vez em Campinas em 2016, o MMM criou uma estratégia para ampliar ainda mais o seu potencial de inclusão. Fez o Liquidamix (com descontos em todos os expositores), estabeleceu o valor máximo de R$ 20,00 nos lanches e trouxe os expositores da Cooperativa Liga Plus Size com peças em tamanho grande. Teve também os sempre surpreendentes empreendedores criativos e corajosos. Pena que já acabou! Mas uma nova edição já está prevista para dezembro.
A inclusão dos excluídos no mercado de consumo, afinal, vai muito além do valor do produto. Não é apenas quem não pode pagar pela peça que se vê fora do mercado. Quem não tem o corpo esbelto ou a beleza das revistas também é excluído das lojas tradicionais. E quem é mulher e homem ao mesmo tempo – ou nenhum dos dois – sente-se da mesma forma fora do padrão imposto. Para incluir todos os gêneros (e sem gênero), todos os tamanhos, todos os orçamentos e gostos, é preciso abrir um espaço que ainda não existe nas ruas do comércio ou grandes centros comerciais. Diversidade e inclusão em todos os sentidos se expandem no Mundo Mix, que traz novos contornos a cada edição.
A vendedora Cristiane Mayworm foi à feira especialmente atraída pelos preços mais baixos dos lanches e os produtos da Liga Plus Size. “A questão não é apenas o tamanho, mas o corte, a modelagem. Eles aqui sabem que as gordinhas têm culote e barriguinha, e a mulher brasileira tem bumbum, quadril e coxa grandes. Quando compro nas lojas sempre preciso fazer ajuste. Com as roupas chinesas piorou, porque elas são menores que nós”, protesta Cristiane. “No meu trabalho, eu visito empresas e preciso estar elegante, não posso trabalhar de jeans, por exemplo. Além disso, eu gosto de sair, quero estar sexy e feminina, variar os modelos”, diz a vendedora de 45 anos, que foi ao MMM com toda a família – marido, filhos e sobrinho – e saiu animada com as novas opções de roupa que conheceu.
Wendi Caires foi uma das expositoras que Cristiane conheceu no Mundo Mix. Ela mora em São José dos Campos, mas faz roupa sob medida para gordinhos em todo o Brasil pela internet (wendiwelove). Há quatro anos a estilista empreendeu, mas desde os 9 ela costura roupas de boneca e, na adolescência, começou a sentir o drama de encontrar roupas que lhe agradassem. “Aos 14 anos, eu só vestia jeans, camiseta e tênis. Eu não conseguia variar. Saía da loja chorando porque não achava uma roupa mais descolada.”
Aos 18 anos, começou a fazer suas próprias roupas. Aprender a lidar com as formas do corpo se tornou um desafio para Wendi, que cursou Moda e descobriu tecnicamente que vestir uma gordinha não é apenas fazer com que a roupa caiba nela. “Aos poucos, perdi o medo de provar.” Como empresária, Wendi reclama da falta de espaços para esse tipo de produto, situação que ela atribui ao padrão estético imposto pelo mercado. A cooperativa foi criada para ampliar as oportunidades e aumentar a participação dos produtores em diversas feiras do setor.
O Ateliê das Mora também participou desta edição do Mundo Mix, com roupas sem gênero – ou de todos os gêneros. “Trouxemos um pouco do nosso espaço para a feira, porque nós discutimos estes processos, fazemos um movimento artístico que questiona este consumo por gênero. Fazemos roupas sem gênero definido”, diz o estilista Vicente Perrotta. O curador do estande, Rafael Cavaglhyery, incluiu no espaço – além das peças exclusivas – uma oficina de maquiagem artística e máscara d’As Ramires, que ensinava a fazer uma máscara do próprio rosto em uma hora e meia. “O ateliê é também espaço de empoderamento, especialmente LGBT.”
A empreendedora Haydèe Carvalho de Campos levou sua Kombi personalizada à Estação Cultura para participar pela primeira vez do MMM. A estilista já tinha uma loja online (namascrazyonline.com.br), mas começou a participar de feiras com a Kombi esse ano. “Comprei a Kombi há um ano e customizei. Coloquei vidro elétrico, direção hidráulica e novo revestimento nos bancos. Eu mesma dirijo, eu faço as peças e eu vendo.” A irreverência, diz Haydèe, é a sua marca. “Não sigo tendências. É o meu espírito de porco que eu estampo nas camisetas”, diz Haydèe, que comemora o ano de bom desempenho.
O secretário de Cultura de Campinas, Ney Carrasco, foi um dos visitantes do Mundo Mix no domingo, na Estação Cultura. “Adoro essa feira, é muito legal, porque reúne a produção alternativa de qualidade e com variedade. Este modelo de feira é maravilhoso. Nós oferecemos o espaço e então acontece este evento grande, de impacto, com custo baixo”, diz o secretário. Segundo Ney, a Estação Cultura está aberta a iniciativas como esta. “O papel da secretaria de Cultura não é fazer, mas fomentar iniciativas da comunidade.” Ele lembra da Feira Afro Mix que também é realizada na Estação Cultura duas vezes por ano. Bijouterias, artesanato, joias e camisetas são os produtos que o secretário disse que mais consome na feira. (por Adriana Menezes)