A liberdade de expressão, em tempos sombrios, é a grande vencedora do 42° Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Na categoria Prêmio Destaque Vladimir Herzog Continuado, o vencedor foi a série “Crime continuado (Aroeira)”, composta por todas as 109 peças inscritas por artistas do traço integrantes do movimento da Charge Continuada #SomosTodosAroeira. Entre as peças está a da artista plástica e chargista Synnöve Hilkner, colaboradora da Agência Social de Notícias. A cerimônia de premiação do 42° Prêmio Vladimir Herzog será neste domingo, dia 25 de outubro, em evento virtual às 18 horas.
A charge de Synnöve Hilkner, entre as peças que ganharam o Prêmio Vladimir Herzog 2020
Synnöve Hilkner lembra como nasceu o movimento #SomosTodosAroeira. “Em junho de 2020, o ministro André Mendonça anunciou que tinha ordenado à Polícia Federal que investigasse o cartunista Renato Aroeira e o jornalista Ricardo Noblat, por uma charge que desagradou Jair Bolsonaro. A charge, uma crítica ao pronunciamento do próprio Jair, mostra uma cruz vermelha, que representa a saúde, pintada com tinta preta como algo que representa uma suástica e a caricatura do presidente, correndo com um balde de tinta preta e um pincel, com os dizeres “Crime Continuado” e “Bora invadir outro”. A finalidade seria incluir chargista e jornalista na Lei de Segurança Nacional, que considera crime “caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação, com pena de reclusão de 1 a 4 anos.” Uma clara tentativa de intimidação, ameaçando a liberdade de imprensa e de expressão”, comenta Synnöve.
Synnöve Hilkner, chargista da ASN, o troféu do Prêmio no Salão Internacional de Humor de Piracicaba de 2019 e a escultura de Maria Bethânia, vencedora na categoria (Foto José Pedro S.Martins)
Ela prossegue: “A minha reação foi, basicamente, instintiva. Peguei o material que estava à mão e rapidamente esbocei uma charge com os mesmos elementos, trocando “crime continuado” por “charge continuada”. Comecei a ver que outros chargistas fizeram o mesmo, eram nomes de peso, brasileiros e estrangeiros, reproduzindo a charge. No dia seguinte, a charge continuada virou destaque em alguns jornais, criou-se uma página no Instagram @somostodosaroeira, que hoje deve estar com mais de mil publicações, mas chegava a 400 na primeira semana e a minha estava lá, entre as primeiras. Logo depois veio a ideia de inscrever as charges com o mesmo título “charge continuada” no Prêmio Vladimir Herzog, o que foi feito por 110 cartunistas, incluindo, claro, o próprio Aroeira”.
A premiada artista moradora de Campinas salienta que a sua ideia original, assim como dos demais artistas, era a de defender a liberdade de imprensa e de expressão. “Caso um cartunista fosse intimado, haveriam muitos outros que deveriam ser enquadrados na mesma lei. Não se imaginava a proporção a que o movimento chegaria”, acrescenta.
Na semana passada, “com muita alegria”, Synnöve e demais artistas souberam da premiação. “Esse prêmio foi criado para essa edição exclusivamente e mostra o quanto barulho fizemos. É uma grande honra ganhar esse prêmio, é uma grande honra fazer parte desse grupo de artistas, e, de certa forma, fazer parte da história do país, com uma despretensiosa charge contra o autoritarismo”, completa Synnöve, que entre outros prêmios ganhou, em 2019, a categoria Escultura do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, o mais importante do mundo em seu gênero.
Neste sábado, 24 de outubro, acontece uma roda de conversa virtual, às 16 horas, com todos os vencedores do 42° Prêmio Vladimir Herzog. Amanhã, 25 de outubro, a cerimônia de premiação será às 18 horas (
aqui). A lista completa dos vencedores está
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