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Conto de fadas da vida real
Cena de Carnival Row (Foto Divulgação)

Conto de fadas da vida real

Por Eduardo Gregori

Mundo mágico de Carnival Row é apenas um disfarce para tocar em questões muito reais 

Quando me deparei com o anúncio da série Carnival Row na tela de abertura do Prime Video achei que fosse mais um conto de fadas incrementado com ação policial. A sinopse fala de assassinatos na fictícia cidade de Burgo na era Vitoriana. O pano de fundo que conduz a trama é Carnival Row, bairro boêmio onde vive Vignette Stonemoss (Cara Delevingne), uma fada que após a morte de seu amado, o humano Rycroft Philostrate (Orlando Bloom), tenta recomeçar a vida ao fugir da guerra que fez sucumbir sua terra-natal.

Carnival Row estreou há pouco mais de um ano nos Estados Unidos e recebeu elogios da crítica e do público, tanto que a Amazon confirmou a continuidade da série. Antes mesmo que o espectador sinta-se preso pela trama, as locações enchem a vista. Rodada na cidade de Praga, capital da República Tcheca, a série remonta uma era de opulência social e de intrigas palacianas.

São oito episódios e nos dois primeiros imaginei que a trama ficaria apenas nos protagonistas e seria recheada com as investigações de Philostrate, um detetive da polícia, que precisa desvendar uma série de assassinatos misteriosos. Errei feio.

Carnival Row é um mundo mágico com fadas, faunos e humanos e no decorrer dos episódios se envereda por questões raciais o que enriquece o enredo e o traz para mais perto da realidade. Neste mundo mágico os humanos estão no topo da cadeia social, enquanto faunos são empregados e fadas são prostitutas. Fica claro que a ascensão social só é permitida para humanos, enquanto outras espécies têm de se contentar em ocupar os lugares designados a elas.

Tudo parece correr bem até a chegada Agreus (David Gyasi), um fauno milionário que compra uma mansão no bairro mais nobre de Burgo. Sua vizinha, Imogen Spurnrose (Tamzon Merchant) se apressa para fazer uma visita ao novo morador e ao se deparar com Agreus, pergunta-lhe onde está o dono da casa. Ele responde: “Eu sou o dono da casa”, para a incredulidade da donzela.

Falida pelos gastos do irmão Ezra (Andrew Gower), Imogen vê no fauno a chance de receber muito dinheiro introduzindo Agreus na alta sociedade de Burgo. A presença do fauno nos salões causa curiosidade, estranhamento e principalmente discriminação. Preconceito sentido também pelo próprio Philostrate ao finalmente descobrir seu passado depois de crescer em um orfanato abandonado pela mãe.

E quando eu achava que a trama já estava muito interessante com questões raciais, belas paisagens de Praga, assassinatos não resolvidos e a caça à uma criatura mítica, Carnival Row dá um passo além ao introduzir xenofobia legitimada politicamente. Duas forças do parlamento de Burgo, outrora antagônicas, convertem-se em uma única voz humana contra fadas e faunos. A posse de um novo chanceler é construída em cima de um discurso de ódio contra as outras espécies, discurso ecoado e celebrado pela líder da oposição e por todo o parlamento.

Espalha-se o ódio pela cidade, leis são criadas para separar espécies e faunos e fadas são exilados em Carnival Row. Discriminação racial, xenofobia, polarização, ódio… uma história da era vitoriana mas com uma conexão direta com o que estamos vivendo em 2020. Agora é esperar pela segunda temporada para ver se a opressão seguirá no poder ou se Carnival Row virará a mesa.

contato: info@euporai.pt

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Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal