Capa » Cultura Viva » Com marchinhas, Paraitinga faz em 2015 mais um Carnaval de raiz
Com marchinhas, Paraitinga faz em 2015 mais um Carnaval de raiz
Ruas do centro histórico de Paraitinga ficam cobertas de foliões nos cinco dias de Carnaval de raiz (Ensaio fotográfico de Adriano Rosa)

Com marchinhas, Paraitinga faz em 2015 mais um Carnaval de raiz

O célebre Carnaval de marchinhas de São Luiz do Paraitinga (SP) já começou nesta sexta-feira e hoje, sábado, 14 de fevereiro, continua com o desfile de novos blocos. Abertura de gala, com o Bloco do Juca Teles, um dos mais conhecidos e badalados da festa que atrai mais de 150 mil foliões do Vale do Paraíba e de várias partes do Brasil. Um autêntico Carnaval de raiz, ainda distante das superproduções e trios elétricos de locais como Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador.

Neste sábado ainda desfilam pelas ruas históricas do centro de Paraitinga os blocos da Saúde, Bicho de Pé, Etesão e da Coruja, e as bandas Sincopado e Lume de Paraitinga. O encerramento, também de gala, com a banda Estrambelhados, muito famosa pela irreverência e letras críticas.

Bloco do Juca Teles, um dos mais famosos da festa

Bloco do Juca Teles, um dos mais famosos da festa

No domingo, 15, às 14 horas tem o Concurso de fantasia infantil, com inscrições a partir das 13h no local. E em seguida os blocos Bebebum, Misto Quente, Baroni e a Loukomotiva Kabereka e o igualmente lendário Bloco da Maricota. E mais: Bloco Maria Gasolina, Banda Confrete, Bloco do Saci, Bloco Pé na Cova, Tânia Moradei e Banda e o fechamento, com o Bloco Balacobaco.

Na segunda, às 17 horas, Concurso Pai do Troço de Fantasia. E o desfile com o Bloco Pai do Troço, Charanga do Quadô, blocos do Caipira, do Cruis Credo e do Caetê, mais Baroni e a Loukomotiva Kabereka e o também famosíssimo Bloco do Urubu.

O Carnaval de Paraitinga termina na terça-feira, dia 17, a partir das 15 horas, com Grupo Paranga, blocos do Barbosa, da da Pipoca, do Casarão, Espanta Vaca e Pé na Cova. E finalmente a Banda Sincopado e, claro, o Bloco Bico do Corvo.

Carnaval de Paraitinga sempre fez referências e crítica política

Carnaval de Paraitinga sempre fez referências e crítica política

O formato peculiar e multicolorido do Carnaval de São Luiz do Paraitinga está relacionado à rica vida cultural da cidade, que durante o ano todo preserva as tradições artísticas e espirituais. A cidade é visitada frequentemente por antropólogos, sociólogos, historiadores e outros pesquisadores, para estudar como Paraitinga mantém e dissemina o seu patrimônio cultural imaterial.

A terra onde nasceram o sanitarista Oswaldo Cruz e o geógrafo Aziz Ab`Saber, gigantes em suas áreas, também é o berço de Elpidio dos Santos e a esposa, Cinira (a Vó Nira), as principais referências culturais locais. Ele é autor de importantes composições de música de raiz, gravadas por grandes artistas como Cascatinha e Inhana, Mazzaropi, Renato Teixeira, Almir Sater, Fafá de Belém e Sérgio Reis, entre outros. Elpidio tocava 22 instrumentos – um mito.

Mais de 100 mil pessoas vão todo ano à pequena cidade do Vale do Paraíba no Carnaval

Mais de 100 mil pessoas vão todo ano à pequena cidade do Vale do Paraíba no Carnaval

A casa de Vó Nira, na rua Coronel Domingues de Castro, há décadas é local de visita obrigatória a quem vai a Paraitinga. Ela contracenou com Mazzaropi, de quem foi muito amiga. Fiel escudeira do marido, prosseguiu a apoiar as expressões culturais típicas de Paraitinga, como a Festa do Divino e o Carnaval, após a morte de Elpídio, em 1970. Ela fazia os bonecos enormes, de papel machê, uma das características do Carnaval de Paraitinga. Faleceu em 2011, mas sempre será lembrada, assim como seu marido, como pilares do vigor cultural da cidade que, no ano anterior, passou por uma catástrofe.

Nos primeiros dias de 2010, uma enchente gigantesca do rio Paraitinga destruiu grande parte do patrimônio histórico local, como a capela de Nossa Senhora das Mercês e a Igreja Matriz de São Luiz de Tolosa.

Bonecões de papel machê, contribuição de Vó Nira ao Carnaval de raiz de Paraitinga

Bonecões de papel machê, contribuição de Vó Nira ao Carnaval de raiz de Paraitinga

A maior parte desse patrimônio está localizada nos arredores da Praça Oswaldo Cruz e, feita de fundações de barro, foi facilmente atingida pela força das águas. O pior: a maior parte da população da pequena cidade, de pouco mais de 10 mil habitantes, ficou desabrigada.

Muitos imóveis já foram reconstruídos, a população voltou a suas casas, com a alegria e disposição de sempre. Há alguns anos o Carnaval de Paraitinga, que tem as esquinas do Quatro Cantos como epicentro, também é um Carnaval de resistência e esperança.

 

 

Sobre ASN

Organização sediada em Campinas (SP) de notícias, interpretação e reflexão sobre temas contemporâneos, com foco na defesa dos direitos de cidadania e valorização da qualidade de vida.

Deixe uma resposta