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Poemas pelo Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Poemas pelo Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Poemas de Maria do Rosário Lino, autora de vários livros infantis e de poesia, pelo Dia 18 de Maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes:

 

MENINA…

Menina negra

corpo ainda impúbere

obrigada a dar-se

a quem lhe tomou

a infância

o sonho de boneca

a ilusão da vida

dividida

na miséria

do barraco

ou dos viadutos

ou da miséria

desavergonhada

de uma alma deturpada

de um algoz de corpo

sem cara

nem nome

sem dignidade

de homem

de ser humano.

 

Menina negra

de tantos traços

cabelos loiros

negros, azulados

pele pálida

boca desdentada

menina negra

redesenhada

em cada esquina

chamada abandono

menina negra branca

caída de sono

menina amarela lilás

não sabes nem saberás

porque o destino

te escolheu

para sentir o desatino

neste mundo de Deus.

Menina negra

branca azul

verde parda

a ordem que te desagrega

é a mesma que se acovarda

na hora de te reconhecer:

“nunca te vi”.

 

Menina

cresceu ainda tão pequena

perdeu a criancice serena

pelas mãos covardes

de uma nação.

País,

não tardes

em rever esta canção

triste

que pariste

ferindo o melhor

do teu próprio

coração…

de menina.

 

(Foto Adriano Rosa)

(Foto Adriano Rosa)

AVENIDA CRIANÇA

Criança.

Eu tive um sonho sabor cereja

e nelo tudo o que você deseja

acontece bem e feliz.

 

Criança.

Eu sonhei que a vida

era uma larga-grande avenida

de frutas-doces-alegrias

colhidas noite e dia.

 

A avenida era de grama orvalhada,

nela nascia de tudo, não se perdia nada.

Por ali passeavam duendes de mãos dadas,

brincavam crianças bem alimentadas,

voavam fadinhas em passaradas.

 

O teto da avenida era o céu.

Meu, seu, tom cor de mel.

Gotas de chocolate desprendiam

das nuvens pudim-de-leite

puro deleite.

 

Criança.

Eu sonhei que nessa avenida tudo cabia

de paz, de amor, de alegria.

A vida não era cansada para os velhos

de idade nem de sofrimentos

porque simplesmente

idade e sofrimentos não havia.

 

Criança.

A avenida se expandia mais e mais.

Eu tentava correr atrás,

mas ela era sem fim

e a cada passo meu

surgia um pigmeu

ou um gigante

tantos outros bebês

olhos de diamante

sorrisos cor-de-rosa

tapetes de verso em prosa.

 

Criança.

A avenida por todos os lados

era um espelho que se refletia.

Piscavam vagalumes sinalizadores

anunciando tudo o que você queria.

O cheiro fresco da tangerina

rescendia no meu paladar.

Sentia o gosto da vida gostosa

de tudo ter e tudo poder dar.

 

Criança.

Na avenida não existiam dúvidas,

apenas certezas e sensações de plenitude.

Crescia a juventude.

Acordei.

Estou criança

na avenida.

Ave Vida!!!

 

 

 

Sobre ASN

Organização sediada em Campinas (SP) de notícias, interpretação e reflexão sobre temas contemporâneos, com foco na defesa dos direitos de cidadania e valorização da qualidade de vida.

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