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Nelson Sargento no Projeto Papos de Versos no SESC Belenzinho neste dia 29 de maio
Nelson Sargento abre o Papos de Versos, com Rafa Carvalho (Foto Henry Milléo/Divulgação)

Nelson Sargento no Projeto Papos de Versos no SESC Belenzinho neste dia 29 de maio

Aos 93 anos, Nelson Sargento segue a plenos pulmões. Velha guarda absoluta do samba, o compositor mangueirense e “versátil” artista brasileiro, como sugere seu disco de 2008, desembarca em São Paulo nesta terça-feira, 29 de maio, para participar do projeto “papos de versos”. O evento acontece desta terça a 10 de julho, por sete terças-feiras seguidas, no Sesc Belenzinho, sempre às 20 horas, com entrada livre e gratuita.

O Sesc Belenzinho, além de sediar os encontros, divide a curadoria com o idealizador do projeto, o poeta Rafa Carvalho, radicado em Campinas, mas de todo o mundo. E a edição tem como tema a relação entre a Poesia e o Samba na cultura brasileira, partindo da ideia de Rafa, de que aqui, eles sejam como irmãos. Por essa razão a abertura se faz com a presença do grande sambista, a quem, seguindo sua tradição, o poeta e o projeto vêm pedir a benção. Nomes como Dona Edite da Cooperifa, Raquel Trindade e Jorge Mautner figuram entre os abençoadores de edições passadas, e o costume revela já ao público a essência e o fundamento deste trabalho: há uma abordagem processual da Poesia e da Literatura, ligada à história e à ancestralidade do povo brasileiro, um respeito com essa trajetória, que se dá num trato popular de todos os assuntos.

Carvalho fala não em uma reintegração de posse, mas em uma integração de pertença: é preciso que o povo todo esteja entregue à Poesia, como é preciso a Poesia ser entregue a todo povo. E segue: “(…)Há uma poética diária possível na vida, e ela precisa fazer-se presente em nossa consciência, e convivida por nossos cotidianos. Sem isto, não adianta escola, livro, biblioteca. Não adianta aparelho. Os aparelhos precisam do humano para funcionar. E o humano precisa amar para querer. Para amarmos precisamos, ou de uma ilusão, ou: reconhecer. Logo, só posso amar Literatura de verdade, quando ela se senta em minha casa, ou eu na sua, e nos olhamos nos olhos.” De fato o projeto propõe acontecer como na sala de estar, cozinha ou quintal de uma casa, e busca relacionar a Poesia com os mais variados territórios, de Literatura a Cultura Popular, passando por Gastronomia, Química, Ciências Humanas e o que mais puder.

Rafa Carvalho recebe seus convidados por sete terça-feiras seguidas na quarta edição do Papos de Versos (Foto Divulgação)

Rafa Carvalho recebe seus convidados por sete terça-feiras seguidas na quarta edição do Papos de Versos (Foto Diogo Zacarias/ Divulgação)

E o poeta insiste: “(…) Como vamos libertar a Literatura no Brasil? Um país que tem menos livrarias que Buenos Aires, que circula menos livros que Portugal, com sua população vinte vezes menor que a nossa. Não podemos negar o processo histórico, o analfabetismo secular, a tensão entre as classes, a arte como artigo de luxo, a censura como modo de domínio, o não-acesso, o preço do livro, o valor da mão de obra do povo brasileiro, a quantidade e a qualidade de seu tempo livre. Eu passei oito anos numa escola com a biblioteca trancada. E detestei Machado de Assis, no início, pelo modo como nos fomos apresentados. Para transformar isso, a Literatura precisa botar a bunda no chão. Andar descalça, comer com a mão, tomar café ralo, bem doce. Estar com o povo e ser feita por ele. É um processo longo e com muitas etapas. E a Poesia, como opção de vida, precisa estar mesmo para além do livro e da Literatura. Ela tem que entrar pelos olhos, compor a lágrima, o suor, o prazer e luta dos dias nossos, todos.”

Esta é a primeira vez que o “papos de versos” chega a São Paulo. E além de Sargento, nomes como Sérgio Vaz, Ana Maria Gonçalves, Ricardo Aleixo, Paulo Lins, Xênia França, Gero Camilo, Toinho Melodia, Rodrigo Campos, Sinhá Rosária e Dona Rita da Barquinha, compõem os encontros, mediados sempre por Rafa Carvalho que chama atenção por estar à frente de um projeto dessas proporções, em plena capital paulista, jovem como ainda é. Com seus 32 anos, quase um terço da idade de Nelson, este será sem dúvidas um encontro de gerações que pode ficar para história. O fato de acontecer na zona leste paulistana, representa também uma espécie de volta às origens ao poeta, que nasceu e passou seu primeiro ano de vida ali. E foi uma escolha conjunta da curadoria do projeto este ano enfatizar a região, com mais da metade das participações sendo de pessoas oriundas da própria zona leste, muitas ainda residentes por lá.

Quando questionado sobre estes pontos, Carvalho diz: “Eu me sinto um grande não-especialista da vida e suas coisas. E procuro seguir sempre o sábio ensinamento de Dona Ivone Lara, a quem este ‘papos’ é dedicado. Se me chamam eu vou, mas vou com um certo jeito. Sou novo, não tenho anel nenhum de bamba nas mãos. E não chego no ‘papos’ como escritor, compositor, artista… mas como pessoa. E chego, por sentir que qualquer pessoa poderia chegar ali. Chego, por sentir que posso chegar aonde qualquer pessoa esteja. É a ideia em mim de Poesia. Vou ali para aprender com Nelson e todas as convidadas e convidados, para estar com o público. Só o que eu tenho pra botar na roda, é o coração. E sobre a zona leste, é sempre uma alegria pra mim estar ali. E essa decisão, tomada junto ao Sesc Belenzinho, de termos muita pessoas dali entre as convidadas, vem desse reconhecimento: à produção cultural, poética, de samba e geral na região; e ao princípio do ‘papos’ de que não é preciso ir longe para se chegar aonde a Poesia está.”

O “papos de versos” chega à sua 4ª edição, depois de dois anos em silêncio, em função das crises e dificuldades no país. Em Campinas, a sua realização foi notadamente importante para o processo poético e cultural na cidade, com seu fundamento continuado em diversas ações posteriores. Junto com Rafa Carvalho, de certa forma, chegam também a esta edição o Sarau da Dalva e o Samba no Maneco, projetos realizados na zona leste campineira, que vêm sendo parte de todo o seu movimento artístico e social. Fechando com a opinião do poeta sobre isto: “(…) Para mim, o ‘papos’ é um evento necessário. Principalmente nos momentos mais difíceis. Todos os projetos que medeio acabam sendo o mesmo. Embora mudem os meios e as formas, no fim, é sempre sobre amar e mudar o mundo. Seria uma ambição grande demais, caso acreditasse em utopias. Ou se a presença disto não estivesse nas pequenas coisas. Da zona leste de Campinas à zona leste de São Paulo, onde  houver duas pessoas e um bom papo, que transforme, um pouco que seja, o olhar, a vontade, o pensamento, a ação, já há um amor agindo e um mundo mudando. Em qualquer cantinho que a gente conseguir consumar Poesia, a Terra inteira gira melhor”.

A programação completa pode ser conferida no site do Sesc SP e na página do “papos” no Facebook: https://www.facebook.com/paposdeversos/

 

 

 

 

 

 

 

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