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Informe do Banco Mundial fala em extinção da Amazônia e em seca extrema em várias regiões brasileiras
Sistema Cantareira no auge da crise hídrica de 2014-2015: abastecimento em risco na região mais rica e populosa do Brasil (Foto Adriano Rosa)

Informe do Banco Mundial fala em extinção da Amazônia e em seca extrema em várias regiões brasileiras

A extinção da Amazônia e a ocorrência de secas cada vez mais extremas no Nordeste e outras regiões do Brasil são duas das consequências da continuidade, no ritmo atual, das emissões de gases que agravam o efeito-estufa e, portanto, o aquecimento global. A previsão está no relatório “Baixemos a temperatura”, que o Banco Mundial lançou neste domingo, 23 de novembro, uma semana antes, portanto, da abertura, em Lima, no Perú, da vigésima Conferência das Partes (COP-20) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. O objetivo do Banco Mundial é justamente impressionar os governantes e diplomatas que estarão reunidos em Lima, no sentido da necessidade de ações mais urgentes e eficazes para a redução das emissões de gases-estufa.

O núcleo do informe, segundo o Banco Mundial, é a avaliação do impacto, nas regiões mais pobres do planeta, do crescimento da temperatura média mundial em 2 e 4 graus centígrados nas próximas décadas. Este é o terceiro grande relatório produzido pelo Banco Mundial sobre o aquecimento global e, como nos anteriores, a instituição teve a consultoria científica do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre Impactos do Clima e Análises Climáticas. O documento teve ainda a supervisão de especialistas da Universidade de Michigan e Instituto do Clima, de Washington.

“Não podemos seguir o caminho atual de emissões descontroladas aumentando”, afirmou o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, sobre o relatório. “O informe de hoje confirma o que os cientistas vêm dizendo, isto é, que as emissões do passado marcam uma tendência inevitável até o aquecimento global nas próximas décadas, o que afetará principalmente as pessoas mais pobres e vulneráveis do mundo”, completou.

O informe assinala existirem cada vez mais provas “de que o sistema atmosférico da Terra sofrerá um aquecimento próximo de 1.5°C  acima dos níveis pré-industriais devido às emissões passadas e previstas de gases de efeito-estufa, e é provável que os impactos das mudanças climáticas, como as ondas de calor, sejam inevitáveis”. Com 2°C de aquecimento, será “muito mais difícil erradicar a pobreza, aumentar a prosperidade mundial e reduzir a desigualdade, metas por si mesmo complicadas”. Com um incremento de 4°C, a possibilidade de serem alcançadas essas metas “é colocada seriamente em dúvida”.

Os impactos no Brasil – Segundo o relatório do Banco Mundial, os efeitos no Brasil serão enormes, mantidas as tendências atuais de emissões de gases-estufa e elevação da temperatura média mundial entre 2 e 4°C. Na Amazônia, o impacto seria devastador. “Os aumentos previstos de calor e secas, junto com o contínuo processo de desmatamento, aumentam consideravelmente o risco de degradação florestal em grande escala (redução da superfície e a biomassa florestal) na selva tropical amazônica”.

Este cenário poderia transformar “esse sumidouro de carbono de importância mundial em uma fonte de carbono”. Esse fenômeno já foi observado, nota o informe, por ocasião das graves secas de 2005 e 2010 na Amazônia, quando os cientistas calcularam que a região perdeu sua capacidade de retenção de carbono “em comparação com os anos em que não houve seca”. Na região amazônica, onde são encontrados 13% das florestas do planeta, adverte o Banco Mundial, ocorre um maior risco “de extinção em grande escala”.

Impactos igualmente sérios na produção agrícola, nota o informe, no Brasil e em todo planeta. Com um aquecimento de 0.8°C, que já está sendo verificado, “já são sentidos impactos consideráveis nos rendimentos das colheitas,  e à medida que as temperaturas aumentem entre 2°C  e 4°C, a mudança climática acrescentará maior pressão aos sistemas agrícolas”. Se essas médias forem observadas, está prevista, por exemplo, “uma redução entre 30% e 70% no rendimento da colheita de soja e até 50% na do trigo no Brasil”.

Outro impacto de consequências imprevisíveis seria no regime hidrológico. “As mudanças no ciclo hidrológico poderiam por em perigo a estabilidade das fontes de água doce e os serviços ecossistêmicos”, alerta o informe. As projeções, segundo o documento, são de que “a maior parte das regiões secas se tornará mais seca e das regiões úmidas, mais úmidas”. Em um mundo 4°C mais quente, a redução de chuvas será elevada no Caribe, América Central, a região central e Nordeste do Brasil e a Patagônia, entre 20 e 40%. No caso de regiões secas como o Nordeste brasileiro, o incremento da estiagem as ondas de calor extremo levariam “à morte do gado, à redução das colheitas e dificuldades para obter água doce”.

Fenômenos extremos de fato são previstos para todo mundo, inclusive o Brasil. O relatório nota que “os grandes deslizamentos de terra ocorridos em 2011 no estado do Rio de Janeiro em seguida a fortes chuvas antecipam a possível gravidade dos impactos previstos para casos de chuvas mais severas”, diz o estudo.

Para o Banco Mundial, existem cinco caminhos onde os governos “podem tomar medidas agora”, para evitar as graves consequências de mudanças climáticas entre 2°C e 4°C até o final do século 20: “1.Fixar um preço sólido do carbono. 2. Eliminar subsídios para combustíveis fósseis. 3. Acelerar a eficiência energética e o uso de energias renováveis. 4.Aplicar agricultura inteligente com respeito ao clima. 5.Construir cidades resilientes e com baixa emissão de carbono”. É esta a mensagem que o Banco Mundial levará para a COP-20 em Lima, no Perú, a partir de Primeiro de Dezembro.

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