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LISBOICES:  Ser bom ou ruim não depende da cor da pele
"Bem ou mal habitam qualquer tom de pele, sexo, orientação sexual…" (Foto Acervo Pessoal)

LISBOICES: Ser bom ou ruim não depende da cor da pele

Antes que este texto possa incitar alguma polêmica de cunho racista, me antecipo em dizer que aqui em Portugal muitos africanos se identificam mais com a palavra preto. Diferente do Brasil, onde o usual é negro. Aliás, esse tema seria uma boa discussão, pois nos Estados Unidos o termo negro é uma ofensa grave, enquanto preto é o utilizado pelos afro-americanos. Mas não estou aqui nem para criar polêmicas ou discutir o uso desta ou de outra palavra.
Não sou ingênuo a ponto de acreditar que em Portugal não exista preconceito, seja ele de cunho racial, sexual, de credo ou orientação sexual. Aliás, a jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques, a quem tive a honra de conhecer durante uma viagem à Estônia, aborda com propriedade o tema preconceito contra os negros em Portugal. Ela, inclusive, foi uma das convidadas da última FLIP, onde dividiu com o ator Lázaro Ramos uma belíssima e emocionante discussão sobre o tema, Se você não viu, clique no vídeo abaixo e se emocione.

Mas, apesar de existir preconceito contra a população africana em Portugal, o negro ou preto aqui não está diretamente ligado a uma ameaça de violência. Que Joana me perdoe, mas o que tenho percebido é que em Portugal a situação tem a ver mais com a posição que os africanos “devem”ocupar na sociedade. Enquanto que, no Brasil, além disso, os negros estão diretamente ligados à marginalidade. Joana, me corrija se eu estiver errado, pois é uma questão muito complexa e que, como estrangeiro recém-chegado, não me dá propriedade para discutir aprofundadamente.
O que quero dizer é que no Brasil, por existir essa conexão entre a população africana e a violência, sempre pende para o negro o cunho de marginal e as pessoas parecem ter medo de dar costas a um negro. Medo muitas vezes infundado. Ser bom ou ruim não depende da cor da pele.
Ontem, andando para casa, vinham atrás de mim 3 rapazes pretos. Se eu estivesse no Brasil, muitos me diriam para “ligar as antenas”, mas aqui a coisa é tão diferente. Os rapazes sequer percebiam a minha presença e conversavam alegremente.
No barco entre Lisboa e o Barreiro fico maravilhado em ver senhoras vestidas em trajes das ex-colônias portuguesas. É tão lindo! É algo natural para elas, mas para mim é como se fosse um bastião a mostrar o orgulho da sua origem, da sua etnia e da sua pele. Me deleito em observar crianças com os cabelos adornados com tranças e búzios, transmitindo o orgulho de serem pretas, negras e lindas, como qualquer outra criança.
Por isso, ao visitar a Portugal, não sinta medo quando cruzar com algum preto. Aliás, ninguém deveria ter esse tipo de medo em lugar nenhum do mundo! Aqui também tem gente ruim, claro, como um senhor português branco que não quis nos alugar seu apartamento ao saber que eu e meu marido íamos lá viver. Mas também existe gente maravilhosa, como a dona do apartamento que alugamos, uma jovem portuguesa branca que sabe da nossa orientação sexual, da nossa relação e que isso não fez a mínima diferença quando nos aceitou como inquilinos.
Por isso meus queridos leitores, não tenham medo dos pretos e aproveito para acrescentar: não tenham medo de transexuais, de travestis, de gays, de lésbicas, de bissexuais… Não tenham medo baseado apenas no que se vê. Bem ou mal habitam qualquer tom de pele, sexo, orientação sexual…

Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal

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