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LISBOICES: Utopia boba e egoísta
"Pena de uma cidade tão linda que é subjugada pelo turismo de massa e desmedido." (Foto Acervo Pessoal)

LISBOICES: Utopia boba e egoísta

Madrugada de domingo. Pego o barco para a travessia da margem sul até o Terreiro do Paço, no coração de Lisboa. Chego às 6h da manhã e o metro ainda não está a funcionar. Ando à margem do Tejo quase chegar até o Cais do Sodré.

Pelo caminho, montes de turistas que não foram dormir. Muitos deles bêbados, a tropeçar nos próprios passos. Outros deitam-se na margem do rio e parecem inebriados pela beleza do lugar. Ao longe vê-se edifícios, a Ponte 25 de Abril, o Cristo, cruzeiros e barcos a passar.

O sol e a lua parecem disputar a atenção no céu, mas a lua, cheia e dona de si vai sumindo no horizonte, deixando para o sol a tarefa de despertar a capital lusitana em mais um dia de verão europeu.

Chego ao pé do Bairro Alto e o barulho, às 6h da manhã, parece ensurdecedor. Caminhões de lixo recolhem o que parece um mar de garrafas de cerveja e outras bebidas consumidas na noite anterior. No meio daquele cenário ainda há muita gente que se recusa a ir embora, tentando esticar uma noite que já morreu, dando lugar aos primeiros raios de sol.

E não estão nem aí se a cidade ainda dorme. Falam a plenos pulmões, como se estivessem a torcer pelo time do coração. Subo até a Praça Luís de Camões até o Consulado do Brasil em Lisboa. Paro para tomar café em um tradicional quiosque que ainda está a abrir.

Gritos e música alta chamam a minha atenção. Mais gente querendo que a noite siga dia adentro, numa eterna festa. Lembro-me que em poucas horas este mesmo lugar estará repleto de turistas com suas câmeras, passeando alegremente.

Tenho pena de quem mora na região. Um senhor, embriagado, insiste em tocar um saxofone, Não  é ainda sequer 7h da manhã. Um táxi derrama quase 10 pessoas na calçada. Estão indo dormir, mas parecem em plena pista de dança.

Penso que estou a envelhecer. Assisto a estas cenas com uma repulsa e certa pena. Pena de uma cidade tão linda que é subjugada pelo turismo de massa e desmedido. No fundo, sinto que já tomei Lisboa como minha e quero que seja o melhor lugar do mundo para se viver. Uma utopia boba e egotista.

Levanto-me e sigo em frente. Meu dia de trabalho só está a começar.

Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal

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