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Bloco na Encruza: Samba no Maneco comemora mais um ano neste sábado
Samba no Maneco (Foto Rycardo Alves / Divulgação)

Bloco na Encruza: Samba no Maneco comemora mais um ano neste sábado

Com sua idade sendo um mistério, a roda de samba livre e comunitária da cidade, precursora de um movimento cultural que se tornou referência, organizado em torno do Estrela Dalva, bar da zona leste de Campinas, comemora neste sábado, dia 20 de outubro, mais um ano, com edição especial de aniversário.

A confusão começa aí: no aniversário. Dizer a idade do Samba no Maneco é um desafio. Sabe-se que a primeira roda de samba, realizada no Bar do Manoel – Estrela Dalva, nas já citadas imediações do Parque São Quirino, aconteceu no ano de 2010. Ou seja, há 8 anos. Sabe-se também, que durante o ano de 2012, foi feita uma resolução conjunta entre pessoas da comunidade e membros de coletivos variados de samba da região, sobretudo do Pagode do Souza, de comprometimento com a realização de edições mensais dessa roda. Num esforço coletivo de se ter um trabalho contínuo de formação e de transformação social, pelo samba.

A ideia era semear a convivência. Celebrar diversidade. Com respeito. E festa. Num entendimento comum da importância fundamental da alegria, nos processos humanos. E confiando sempre na importância da cultura de um modo geral, e do samba, especificamente, como modos de luta e resistência.

O horário de início. A quantidade de gente, de instrumentos. Tudo é confuso. O repertório é vário. O samba nem sempre é redondo. O que, traduzindo, significa que o Samba no Maneco na maioria das vezes não é uma referência daquele samba “em cima da pinta”. Afinado, refinado. Mas isso acontece justamente porque a roda ali sim, é redonda. Nitidamente, um projeto dedicado a impedir que pontas despontem, tentando consolidar, no dia a dia, essa dinâmica circular, horizontal, de livre experimentação, em que todos e todas possam cantar, dançar, tocar. Se quiserem. Independente de como desempenhem cada uma dessas expressões. Um espaço de convivência, pelo prazer, apesar das dificuldades todas. Sem se alienar para tanto. Transcendendo a velhos padrões, com todo o custo que há pra isso. A duras penas. Tocando, como quem quer ver passar, a escola do novo mundo. Abrindo alas a ele. Novos pensamentos. Novas possibilidades entre nós.

A confusão não incomoda. E apesar de tudo, tudo vai se organizando. O horário de fim, por exemplo, em respeito à vizinhança, nunca é atravessado. E, enfim, esse fato de não se saber ao certo as datas; de outubro ter sido eleito, como um mês simbólico a essa contagem, quando se deram conta da importância histórica desses registros; ou em síntese: o fato de não se saber quando e como a coisa começou. Faz a coisa parecer de sempre. E é justamente isso. O Samba no Maneco parece existir desde sempre. Quem vai a primeira vez, ao mesmo tempo em que se espanta, ganha a sensação de sempre ter estado ali. Em casa.

É estranho. Ironicamente estranho, nesses tempos. Um evento depender assim completamente das pessoas, do dia e da noite em que acontece, dum espaço, com todas as presenças e energias que o conformam, para ser o que se é. Cada vez de um jeito. É estranho um evento, instituição ou coletivo, hoje, assumir essa condição. Num comprometimento único que parece: ser. E não parecer. Simplesmente isso. Ser. Seja lá o que for.

E o que quer que seja, parece haver mesmo algo nessa encruzilhada de Estrela Dalva, no Parque São Quirino. Nesse bloco botado ali. Dando Samba. Dando Poesia, Música, Literatura, Cinema. Numa região onde sempre se tomou muito. Dando-se quase nada.

Sem dúvida, um lugar pra se conhecer. E hoje, a partir das 18h – ou sabe-se lá que horário. Numa data inventada de aniversário. Fazendo 6 ou 8 anos, não se sabe. Mais uma roda. Redonda como o mundo, que segue girando. E a única coisa que se sabe, com certeza, é: vai ter bolo de fubá com queijo cremoso, tradição dos aniversários de lá. De graça! O mais, só fazendo parte pra ver. E conviver.

No final, lembrando a canção de Sérgio Sampaio, se tem muita gente por aí dizendo. Isso, aquilo. Nesse Samba. No Maneco. O que se vê é que as pessoas andam se ocupando mesmo de fazer. É o que tem contado por ali. Pro Samba não morrer. Pro Samba não acabar. Vida longa ao Samba no Maneco!

 

Sobre Rafa Carvalho

Rafa Carvalho é poeta apesar de tudo. Em 15 anos de carreira, são 21 países, por quase todos continentes, trabalhando com Arte, Educação e fazendo de tudo, porque tudo é o que a Poesia pode ser. E, para quem acha que Poesia não é profissão, ele já trabalhou de garçom em inúmeros estabelecimentos, na demolição civil escandinava como imigrante parcialmente legal e, atualmente, está desempregado.

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