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Consórcio PCJ propõe realimentar lençol freático na região de Campinas com recarga artificial de poços
Rio Piracicaba seco: nascentes desapareceram (Foto José Pedro Martins)

Consórcio PCJ propõe realimentar lençol freático na região de Campinas com recarga artificial de poços

A mais grave crise hídrica dos últimos 90 anos ocasionou a redução de 80% das nascentes nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Bacias PCJ), gerando, com isso, a redução das vazões dos rios a níveis críticos e exaurindo os reservatórios da região. Diante desse cenário, o Consórcio PCJ, que reúne mais de 40 municípios da região, realizou pesquisa técnica sobre a possibilidade de intensificar a realimentação do lençol freático por meio de recarga artificial de poços, inclusive naqueles que já estão secos, com a injeção de água de chuva, e disponibilizou o estudo ao seu quadro de associados nessa terça-feira, dia dois de dezembro, que contempla outras alternativas de recarga, além dos poços. Recentemente o Consórcio PCJ divulgou estudo sobre eventual dessalinização da água do mar para recuperação dos reservatórios do Sistema Cantareira.

Essa medida, segundo o Consórcio PCJ, é prevista pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), em seu artigo 3º, inciso II da Resolução nº 153 de 17 de Dezembro de 2013, na qual se afirma que a recarga artificial pode ser implantada: “a partir da superfície, com infiltração de água através de barragens, espalhamento de água, canais, valas, ou a combinação destes; e em profundidade, com a injeção direta de água no aquífero através de poços”.

Segundo o levantamento do Consórcio PCJ, e divulgado na terça-feira, a água de chuva poderia ser captada dos telhados das casas da área urbana, rural ou das coberturas de plantas industriais e transportada por tubulações até os poços na proximidade, por onde seria injetada dentro do poço, como forma de realimentação do lençol freático, servindo como reservação de água. Outra alternativa apontada pelo estudo é a instalação de um sistema de coletores e condutores, levando ate o poço a estrutura receptora das águas. Tratando-se de poços o Consórcio PCJ projetou um funil que receberia as águas dos condutores ou canalizações de transporte, facilitando a injeção destas nos poços, mesmo com turbulência hídrica no acesso, sendo que o mesmo possui um extravasor de preferência conectado a uma cisterna de superfície ou subterrânea.

Na pesquisa realizada pela entidade há um detalhamento de como implantar o funil nos poços já em uso: “tratando-se de poços, esta água será despejada em um funil, facilitador de injeção de água, conforme proposta anexa, que poderá ser executado de estrutura metálica, alumínio, entre outras”.

“O sistema estaria acoplado a uma canalização, que seria fixa, e que injetaria água no poço através do espaço existente entre as paredes da tubulação de revestimento do poço (fuste) e a canalização de recalque. Em épocas de estiagem (período sem chuvas), o Funil poderá ser desacoplado do sistema, através de rosca. Após a retirada do funil, para que a canalização fixa não fique aberta, instala-se uma tampa”, diz o estudo.

Desta maneira, o Consórcio PCJ quer aumentar a capacidade de realimentação do lençol freático das Bacias PCJ, que devido a estiagem encontra-se muito baixo, ou seja, haverá a necessidade de volumes muito significativos de chuvas e um tempo de recarga muito maior se forem usadas as vias naturais. “Pois essas primeiras chuvas que estão ocorrendo ainda não estão sendo suficientes para reabastecer o lençol freático, devido à evapotranspiração”, diz o Consórcio.

Para o secretário executivo do Consórcio PCJ e coordenador da pesquisa, Francisco Lahóz, essas medidas funcionariam como um grande reservatório de água natural para o futuro. “Ao promover a recarga do lençol freático de forma mais intensa e ágil, você está minimizando os impactos da estiagem, ao mesmo tempo em que, estamos criando uma reserva natural para o futuro, não podemos permitir que vazões de dezenas de metros cúbicos por segundo, passem direto pelas nossas bacias hidrográficas, indo para o Oceano”, explica Lahóz.

No entanto, o Consórcio PCJ detalha no estudo há necessidade de telas para uma filtragem simples da água que será injetada no poço, bem como orienta que os interessados em realizar essa medida contatem os órgãos gestores para informa-los da iniciativa. “Outro aspecto importante é deixar claro que o procedimento não poderá causar alteração da qualidade das águas subterrâneas e que o responsável pela operação deverá manter um registro do comportamento do sistema, incluindo dados como os volumes de água utilizados por tipo de recarga, a taxa de infiltração ao longo das operações e a quantidade total infiltrada. Além disso, deverá ser feito o monitoramento da qualidade da água de recarga e da água do aquífero recarregado”, diz o Consórcio PCJ.

O Consórcio PCJ produziu e divulgou em novembro um estudo sobre a possibilidade de dessalinizar água do mar e lançá-la no Sistema Cantareira e, assim, ampliar a oferta de água nos reservatórios, ocasionando, consequentemente, a ampliação da oferta de água para o interior do Estado de São Paulo, nas Bacias PCJ, e para a capital, na Bacia do Alto Tietê. O Consórcio estima que o projeto como um todo, com a implantação de uma usina de dessalinização em Bertioga (SP) e a construção de adutoras que trariam a água até o Reservatório Jaguari/Jacareí do Cantareira, custaria algo em torno de R$ 6,1 bilhões. Embora, esses números necessitam de estudos de detalhamento técnico financeiro.

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