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Falando sobre Mulher e Evolução
Deusa Ártemis (Grécia), ou Diana (Roma): uma análise antropológica da questão feminina (Foto Reprodução)

Falando sobre Mulher e Evolução

Por Regina Márcia Moura Tavares

Nunca será demais falar sobre a Mulher!

Ashley Montagu, antropólogo e geneticista, em seu livro A Superioridade Natural da Mulher mostra, através do relato de inúmeras experiências levadas a cabo em diferentes situações, que no processo da evolução humana a Mulher saiu privilegiada pelo fato de ser a maior responsável pela perpetuação da espécie. Obviamente, o Homem participa do fenômeno criativo, mas é no ventre da Mulher que gesta o novo ser durante nove meses, e será ela quem o alimentará após o nascimento e o preparará para sua caminhada através da vida.

A simples constatação deste fato, entretanto, nem sempre foi suficiente para determinar a relação entre Homens e Mulheres, através dos tempos. Isto porque, somos seres culturais e o que chamamos de natureza humana é, em cada sociedade e em cada momento histórico, o resultado de uma interpretação que tem relação com a forma como ela se organiza.

Marshall D. Sahlins, estudioso de sociedades tribais, observou que a história tem sido decidida pelo poder econômico e que o que chamamos de comportamento masculino e feminino varia de uma sociedade para outra, e em momentos históricos diferentes, sempre envolvendo reciprocidade.

Pode-se dizer que a necessidade de proteção, alimentação e o cuidado com a prole estimulou, sempre, o aparecimento da família. Em sociedades ágrafas, coletoras e caçadoras de pequenos animais, a divisão do trabalho é simples – o homem cuida da caça e da defesa, em razão de sua maior força física, e a mulher da prole, do alimento e dos utensílios necessários à vida cotidiana, tais como a cerâmica e a tecelagem. Enquanto em tais sociedades o fenômeno da criação de um novo ser não é conhecido, a mulher é valorizada e respeitada, as relações entre os sexos é menos tensa, sendo que os Mitos Fundadores incluem sempre deusas, tais como Géia, Pacha Mama, Nana Buruquê e outras.

À medida que as sociedades vão modificando suas bases econômicas – caça de grandes animais, agricultura, desenvolvimento comercial, industrialização- tais fenômenos acarretam padrões de comportamento diferentes para homens e mulheres, vistos como naturais e consolidados em códigos morais e religiosos.

Se quisermos falar de um único comportamento feminino vinculado ao físico específico, podemos dizer que a possibilidade da maternidade leva a Mulher a uma busca pela integração, uma tendência à harmonização dos contrários, a uma atuação no sentido da garantia de uma sociedade mais harmônica, menos competitiva, com melhor qualidade de vida que permita a sobrevivência dos filhos que é capaz de gerar.

Uma análise dos mitos fundadores dos muitos povos da Terra permitiu a organização de quatro grupos que correspondem às etapas cronológicas da história humana. Na primeira etapa, o mundo é criado por uma deusa mãe, na segunda por um deus andrógino, na terceira reinam as mulheres, destronadas em seguida por um deus masculino e na quarta- 2000 AC- reinam os deuses masculinos poderosos, onipresentes, controladores da vida em todos os seus momentos, como nos mitos persa, meda e cristão. Neste último, a mulher é criada a partir de uma costela torta de homem e responsável pela perda do paraíso.

Constata-se, pois, que representamos no mundo espiritual os modelos relacionais que estabelecemos no mundo terreno, os quais irão, posteriormente, orientar nossos próprios comportamentos.

Desde a segunda metade do século XIX com a escolarização, a expansão do trabalho feminino na indústria e as responsabilidades assumidas nas duas grandes guerras, as mulheres galgaram degraus significativos na sociedade ocidental e insistem num olhar masculino diferente relativamente a elas. Entretanto, como a consciência que o ser tem de si mesmo é fruto de seu próprio processo histórico-social (Kieerkgard), ainda há um longo caminho pela frente para que Mulheres e Homens, principalmente deste nosso país, possam manter uma relação de alteridade, ou seja, ser com o outro preservando a igualdade na diferença e fazendo do amor uma condição de enriquecimento mútuo.

A antropóloga e professora Regina Márcia Moura Tavares (Foto Martinho Caires)

A antropóloga e professora Regina Márcia Moura Tavares (Foto Martinho Caires)

 

Regina Márcia Moura Tavares é antropóloga, escritora, conferencista, membro da ACL, do IHGGC, da Rede de Cooperação Acadêmica Patrimônio Cultural Imaterial da América Latina e Caribe-UNESCO

reg3mar@gmail.com

www.reginamarciacultura.com.br

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