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Dica do Subsolo: Intervalos da Memória, por Edson Françozo
Edson Françozo, em exposição no Subsolo (Foto Divulgação)

Dica do Subsolo: Intervalos da Memória, por Edson Françozo

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O momento em que o Subsolo – Laboratório de Arte expõe Intervalos da Memória, do artista visual Edson Françozo, sob a curadoria de Andrés I. M. Hernández, não poderia ser mais singular. Em meio a pandemia do Codiv-19, a mostra talvez provoque no espectador lembranças, recordações, e, quem sabe, poderá fazê-lo refletir sobre o passado (onde ficará?) e o futuro (como será?) diante de um mundo transformado de forma tão repentina.

Quando Françozo decidiu falar sobre a memória, optou pela câmara escura (pinhole), técnica desenvolvida nos primórdios da fotografia. E no intuito de encontrar significado nos objetos, elaborou um ensaio fotográfico com oito imagens captadas em ambientes domésticos e pensadas a partir da leitura do livro de antropologia de Daniel Miller, The Comfort of Things, ainda sem tradução em português.

Obras na exposição de Edson Françozo (Foto Regina Rocha Pitta)

Obras na exposição de Edson Françozo (Foto Regina Rocha Pitta)

Segundo o artista, Miller investiga o que chama de cultura material. Isto é, ele fala do significado e sentido cultural de que os artefatos se revestem. “Especificamente, ele estudou os objetos que as pessoas têm em suas casas (salas, quartos etc.) com o fim de identificar os elos culturais de que esses objetos se revestem. Por exemplo, qual o sentido das fotografias que temos em nossas paredes ou guardamos em álbuns? São de lugares que visitamos, de antepassados? E por que os expomos ou mostramos às visitas?”, explica Françozo, que acredita que a memória é um dos ingredientes da elaboração desses sentidos. Não apenas para o habitante de uma residência. Imagens de partes de uma residência revelam algo sobre seus habitantes. E o fazem a partir de uma ausência que a memória do espectador preenche. Sombras e luzes, intervalos da memória.

Ao explicar sobre o motivo de utilizar o pinhole para fazer o ensaio, Françoso diz que houve duas razões. A primeira porque é uma técnica fotográfica alternativa, que remonta aos primórdios da fotografia e das artes visuais – portanto, harmoniza-se com a ideia de trabalhar a memória. “A segunda porque o foco extremamente suave, às vezes as tremidas causadas por longas exposições manuais, e sem dúvida as duplas exposições (às vezes acidentais) contribuem para um clima de imprecisões, fronteiras fluidas que convidam o espectador a ir além do que a imagem contém, complementando-a”, explica ele.

Obras na exposição de Edson Françozo (Foto Regina Rocha Pitta)

Obras na exposição de Edson Françozo (Foto Regina Rocha Pitta)

Para o curador, “inserir esses registros conceituais na sala de exposição no Subsolo revela o potencial transgressor na pesquisa de Françozo e as propostas discursivas coerentes e a par das mutações nas nomenclaturas e nas semânticas da arte contemporânea ao tensionar a suavidade da técnica utilizada e do tema referencial, por exemplo,  para submeter ao espectador a balizar, experimentar e conjugar novas referências e novos contextos que alimentem, direcionem e projetem ações e atitudes particulares e coletivas, côncavas e convexas”.

E para completar a pesquisa artística, Françozo decidiu imprimir as imagens em papel de arroz, que tem uma gramatura mais leve e é destinado à escrita e pintura oriental, com o intuito de trazer as delicadezas e sutilezas dos liames da memória, como disse. “Penso que esse tipo de suporte tem muito a ver com o pinhole na medida em que nessa técnica, decididamente artesanal, também se ‘escreve’ com ‘traços’ incorrigíveis”, ressalta o artista.

Em 2018, o artista expôs no AT AL 609 quarenta e quatro imagens resultantes da sua pesquisa ao longo de 14 anos no atelier do artista Afrânio Montemurro, explorando também o pinhole e colagens fotográficas.

Obras na exposição de Edson Françozo (Foto Regina Rocha Pitta)

Obras na exposição de Edson Françozo (Foto Regina Rocha Pitta)

O artista visual – Edson Françozo é doutor em Linguística e atuou como professor no Instituto de Estudos da Linguagem, da Unicamp. Seu currículo na academia se destaca por ter experiência na área de Linguística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas: psicolinguística, conexionismo, ciências cognitivas, cognição e redes neurais.

Já na fotografia, o caminho teve início ainda na adolescência, quanto descobriu a “magia” do laboratório fotográfico. Mais tarde estudou com o fotógrafo Fabio Fantazzini e depois com Emídio Luisi por mais de 14 anos. Participou do Grupo de Estudos da Fotograma Imagens, em São Paulo, onde também deu aulas de fotografia digital, assim como para associados da Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp). Já realizou mostras individuais nas galerias (Primavera, Espaço Anma e na Unicamp) com fotografia e encáustica, uma técnica de pintura que utiliza pigmentos e cera.

Obras na exposição de Edson Françozo (Foto Regina Rocha Pitta)

Obras na exposição de Edson Françozo (Foto Regina Rocha Pitta)

Ao falar sobre seu trabalho, Françozo ressalta que a fotografia o interessa como instrumento para investigar como a imagem pode transcender as margens da superfície bidimensional, como as sombras, as linhas, os vários tons de cinza que sugerem outras dimensões.

 

Instagram: https://www.instagram.com/efrancozo/

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Quem deu a dica: Subsolo: um espaço de arte. O Subsolo – Laboratório de Arte é um espaço localizado na rua Proença, nº 1000, em Campinas (SP), que há dois anos vem movimentando o cenário cultural da cidade com exposições mensais. Desde sua concepção em janeiro de 2018, os sócios Andrés I. M. Hernández e Danilo Garcia, curador e produtor cultural, respectivamente, atuam fomentando e valorizando a produção artística de Campinas e região. A partir dessa proposta, artistas locais como Vera Orsini, Sílvia Matos, Olívia Niemeyer, Vane Barini, Cecília Stelini, Genivado Amorim e muitos outros que se destacam com suas pesquisas artísticas no espaço. A mostra Intervalos da Memória foi aberta no dia 20 de fevereiro de 2020 e permanece no local.

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