Capa » Cidadania » Coronavírus pelo mundo: Vozes da resistência – V (Estados Unidos e Canadá)
Coronavírus pelo mundo: Vozes da resistência – V (Estados Unidos e Canadá)
Jeannie Easton, nos Estados Unidos: nada como garantido (Foto Jeannie Easton)

Coronavírus pelo mundo: Vozes da resistência – V (Estados Unidos e Canadá)

Por Fábio Gallacci

Especial para a Agência Social de Notícias

Campinas, 22 de maio de 2020

(Quinta reportagem da série com depoimentos de cidadãos moradores de vários países, sobre os impactos da pandemia.)

ESTADOS UNIDOS

Jeannie Easton – Aurora

(PAÍS COM MAIOR NÚMERO DE CASOS E DE ÓBITOS POR COVID-19. MANIFESTAÇÕES DE SOLIDARIEDADE. PREOCUPAÇÃO COM ALUNOS PARA ENSINO À DISTÂNCIA.)

Dados de 22 de maio de 2020, 13 horas de Brasília)

Dados de 22 de maio de 2020, 13 horas de Brasília)

“Moro em Aurora, Colorado (um subúrbio de Denver) nos Estados Unidos. Consegui me sentir relativamente calma nessa situação, embora pareça surreal quando noto certas coisas como prateleiras vazias no supermercado ou restaurantes fechados. Sou cristã, membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e minha fé me ajudou a procurar também as bênçãos nessa situação. Ter tempo extra com minha família tem sido maravilhoso. Recorrer à oração pode oferecer conforto e estender a mão para ajudar os outros está me fortalecendo.

Foi incrível ver como os outros ainda mantêm bons espíritos. Mesmo em uma manhã em uma fila, esperando para entrar numa loja, um homem passou e sorriu para todos dizendo ‘como estão meus colegas compradores esta manhã?’ Quando publiquei no Instagram que esperava comprar papel higiênico, recebi oito mensagens de texto diferentes de amigos e até de um apenas conhecido; todos dispostos a compartilhar comigo o que tinham em casa se eu não conseguisse encontrar nada. Há mensagens de esperança escritas em giz em muitas das calçadas.

Distribuímos todos os computadores da escola para alunos que não tinham um em casa

Sou professora na Vanguard Classical School. Ensino educação especial para crianças de 5 a 9 anos. Encerramos nossa escola em 12 de março. Esta semana foi cheia de reuniões on-line com nossa equipe, para organizar e preparar os alunos para o formato de aulas on-line. Eu tenho um espaço de trabalho configurado em casa e ensino a partir dele. Distribuímos todos os computadores da escola para alunos que não tinham um em casa para que pudessem continuar aprendendo conosco.

Não conheço a ciência por trás do vírus o suficiente para saber se talvez não seja uma preocupação tão grande em climas mais quentes como o Brasil… Mas sei que é uma catástrofe na Itália, como na China, e está se tornando em outras partes do mundo.

Jeannie Easton e a família (Foto Jeannie Easton)

Jeannie Easton e a família (Foto Jeannie Easton)

Pensar nos outros

Eu acho que existem muitos, como o presidente do Brasil, que sentem que as pessoas estão exagerando (mencionando Bolsonaro por ter tratado, inicialmente, a Covi-19 como uma ‘gripezinha’ ou um ‘resfriadinho’). No entanto, quando há vidas em jogo, não é melhor exagerar realmente?

A mensagem que eu enviaria é a seguinte: lave as mãos. Lave as mãos frequentemente. Fique em casa, se puder. Mesmo se você não estiver preocupado consigo mesmo, que considere não estar em grupos de risco, há outros que isso é muito perigoso. Nossa população idosa corre esse risco, por exemplo. Meu filho tem síndrome de Down e doenças respiratórias são mais difíceis de combater. Este é um momento para pensar nos outros e tomar precauções para se proteger.

Este é um momento para pensar nos outros e tomar precauções

Não sei que lição o mundo tirará disso mas, para mim, a lição que vou manter é a de não tomar nada como garantido. Somos incrivelmente abençoados em comparação a muitas partes do mundo, onde isso (o contágio) pode ser muito pior. Quero me preparar mais, pouco a pouco, para que nossa família tenha o que precisamos, caso algo aconteça assim novamente. Também quero estruturar mais o tempo da família, para que seja uma parte normal da nossa rotina. Acredito que o mundo provavelmente voltará para onde estávamos antes. Quando pudermos sair de casa, por exemplo, quero sair com meu namorado para jantar e ir ao cinema!”

Anderson Peres: sensação indescritível (Foto Anderson Peres)

Anderson Peres: sensação indescritível (Foto Anderson Peres)

CANADÁ

Anderson Peres – Montreal

(VIZINHO DO NORTE DOS ESTADOS UNIDOS TAMBÉM SOFRE MUITO COM A PANDEMIA. PÂNICO NO INÍCIO. OS APRENDIZADOS E A ESPERANÇA.)

Dados de 22 de maio de 2020, 13 horas de Brasília)

Dados de 22 de maio de 2020, 13 horas de Brasília)

“Moro na província do Québec, na cidade de Montréal. Estamos todos confinados desde o dia 20 de março. Vivo com a esposa e dois filhos. A sensação no atual momento é indescritível, parece que estamos em um pesadelo e aquilo não está acontecendo. Não pode ser verdade, mas infelizmente é. Sensação de total impotência.

No início, foi pânico total em função do desconhecido, de enfrentar uma pandemia, mas agora tenho a impressão de que, com respeito às regras de confinamento impostas pelo governo canadense, as pessoas se conscientizaram. Só assim reduziremos os números de mortos pela Covid-19.

No início, foi pânico total em função do desconhecido.

Venho mantendo contato com a minha família e amigos no Brasil, Estados Unidos e Austrália através de lives do Facetime e Zoom. Eu e minha esposa trabalhamos home office, saio para correr – em lugares de pouco movimento -, ir ao supermercado ou farmácia e caminhar com o Nicholas duas a três vezes por semana.

Pelas notícias que recebemos do Brasil, considero um absurdo apontar a Covid-19 como uma “gripezinha”. Não porque seja Bolsonaro/Lula/Doria, mas porque trata-se de uma pandemia que está matando muita gente ao redor do mundo, e pior, não dá pra contestar toda a classe médica mundial sem embasamento científico.

O aprendizado que fica é que, num piscar de olhos, a nossa vida pode mudar

Acredito que o confinamento seja respeitado, claro que com bom senso. Refiro-me a, se precisar sair de casa, saia pra tomar um ar, mas respeite o distanciamento social de até 2 metros. Principalmente, tente manter o equilíbrio mental durante este período.

O aprendizado que fica é que, num piscar de olhos, a nossa vida pode mudar. E aí não interessa se você é rico ou pobre, negro ou branco. O que muda são só as condições do confinamento, mas a regra é pra todos e as mortes pela Covid-19 também. Ou seja, vamos valorizar mais a nossa liberdade, família, amigos e não apenas os bens materiais que possuímos.

Quando tudo isso passar, quero comprar uma passagem para o Brasil para visitar os meus familiares e amigos, dar um abraço, um beijo e dizer o quanto eu amo todos eles. Fé no homem ‘lá de cima’. Só ele na causa pra nos ajudar a sair deste pesadelo da vida real. Pensamento positivo e vamos que vamos!”

Com foto de João Paulo Ramos

Com foto de João Paulo Ramos

 

 

Sobre ASN

Organização sediada em Campinas (SP) de notícias, interpretação e reflexão sobre temas contemporâneos, com foco na defesa dos direitos de cidadania e valorização da qualidade de vida.