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Queda de Ricardo Salles é comemorada, mas é insuficiente para interromper a devastação
Pantanal é um dos biomas brasileiros ameaçados: desafio para o terceiro governo Lula (Foto José Pedro Martins)

Queda de Ricardo Salles é comemorada, mas é insuficiente para interromper a devastação

Um dos membros mais polêmicos do governo do presidente Jair Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pediu demissão nesta quarta-feira, dia 23 de junho. Ele é investigado pela Polícia Federal em ação relacionada a suposta participação do ex-ministro em liberação de exportação de madeira, de forma contrária à legislação, por parte do Ibama.

Organizações ambientalistas comemoram a queda do ex-ministro, que ficou famoso com a frase “passar a boiada” em referência a ações que na prática desmantelaram a estrutura de proteção ambiental. Entretanto, assinalam que não adianta a substituição da pessoa, se as práticas no Ministério do Meio Ambiente continuarem as mesmas. O novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, foi durante 23 conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e ocupava a Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais.

Segue noda da coordenação do Observatório do Clima sobre a queda do ex-ministro, que já provocava incômodos ao governo federal:

“NOTA DA COORDENAÇÃO DO OBSERVATÓRIO DO CLIMA

Após dois anos e meio desmontando a governança ambiental no Brasil, Ricardo de Aquino Salles finalmente pediu demissão do cargo de ministro do Meio Ambiente, que ele jamais deveria ter ocupado.

Salles sai da pasta como entrou: enrolado na Justiça. O homem que fora condenado por fraude ambiental dez dias antes de ser feito ministro por Jair Bolsonaro e que é investigado por enriquecimento ilícito agora tem contra si dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Num deles Salles é suspeito de nove crimes.

O agora ex-antiministro do Meio Ambiente deixa um legado sombrio: dois anos de desmatamento em alta, dois recordes sucessivos de queimadas na Amazônia, 26% do Pantanal carbonizado, omissão diante do maior derramamento de óleo da história do Brasil, emissões de carbono em alta e a imagem internacional do país na lama. Para não dizer que só destruiu tudo, Salles acrescentou uma expressão ao léxico do português brasileiro: “boiada” como sinônimo de destruição ambiental.

Embora seja evidentemente um grande dia para o meio ambiente no Brasil, é preciso lembrar que Salles foi sintoma e não doença. Apenas cumpriu com extrema eficiência os objetivos declarados de Jair Bolsonaro de fechar na prática o Ministério do Meio Ambiente e “meter a foice” nos órgãos ambientais. A política ambiental do atual regime, ditada pelo Presidente da República, não mudará com a troca de seu executor – como não mudaram a Educação, a Cultura e a Saúde. Enquanto Jair Bolsonaro estiver no cargo, com aliados como Arthur Lira para passar a boiada no Congresso, o meio ambiente e os povos indígenas não terão um dia sequer de paz. Seguiremos sendo um pária internacional e um risco climático planetário.

Que a Justiça ao menos dê a Ricardo Salles o que ele merece”.

Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, comentou sobre o fato:

“Salles sai assim como entrou: devendo para a Justiça. Recuso chamá-lo de ex-ministro do meio ambiente, porque nunca o foi, não merece tal título. Sua falta só será sentida por madeireiros ilegais, grileiros e desmatadores de florestas.
No mais, é bom considerar que, no atual governo, mudam os urubus, mas a podridão continua a mesma. Quem agora sentar na cadeira de ministro será para obedecer as ordens de Bolsonaro e continuar a implementar política de destruição ambiental, assim como Salles fez”.

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