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Museu a céu aberto reforça posição do Paraná no roteiro cultural e artístico brasileiro
Pavilhão Angelo Venosa é uma das atrações (Foto Divulgação/ Gabriel Teixeira)

Museu a céu aberto reforça posição do Paraná no roteiro cultural e artístico brasileiro

Parque Geminiani Momesso é um museu de arte a céu aberto localizado em Ibiporã, a 25 quilômetros de Londrina, onde já abriga um pavilhão em homenagem ao artista Angelo Venosa e esculturas de grandes nomes como Emanoel Araújo, Gilberto Salvador, José Resende, Nicolas Vlavianos, Rubem Valentin e Victor Brecheret.

Empresário, colecionador e incentivador das artes, Orandi Momesso, fundou o Parque e a organização sem fins lucrativos Instituto Luciano Momesso, que tem a responsabilidade de administrar o museu a céu aberto. O Parque abrigará 80% da Coleção Orandi Momesso, contando os últimos 500 anos de história da arte brasileira. Construído ao longo de cinco décadas, o importante acervo reúne cerca de 5 mil obras de uma grande diversidade de artistas, em praticamente todos os períodos da arte brasileira, incluindo clássicos, pré-modernos, modernistas e contemporâneos. Frequentemente, trabalhos integrantes desse conjunto são doados para integrar o acervo de instituições brasileiras, como o MASP, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e MAM.

O museu a céu aberto está dividido em pavilhões, projetados pelo escritório Reinach Mendonça, para abrigar diferentes segmentos e artistas. Entre os espaços confirmados estão os destinados para urnas funerárias pré-cabralinas, objetos de engenho, arte popular, sacra, de povos originários, mobiliário, carrancas e um local para exposições temporárias que leva o nome e homenageia o pintor Raphael Galvez.

Toda essa riqueza artística está em um paraíso ecológico formado por uma área 1.355 milhão metros quadrados, dos quais 121 mil são de mata virgem que encontram o Rio Tibagi, um dos mais importantes da região. A área foi doada por Orandi Momesso e está sendo paulatinamente transformada no centro cultural com o projeto do importante paisagista Rodolfo Geiser.

“Espaço Arco-Íris”, do artista nipo-brasileiro Yutaka Toyota, foi a escultura mais recentemente inaugurada no Parque Geminiani Momesso. O monumento “Espaço Arco-Íris” foi originalmente produzido para a comemoração do Centenário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão em 1995, quando a primeira parte foi instalada na cidade de Yokohama, desde então a obra pressupunha uma metade correspondente no Brasil. Agora, o Parque Geminiani Momesso foi o local escolhido para abrigar esse símbolo. “Completar essa obra é um sonho que sempre tive, ela tem um significado muito importante para mim”, diz Yutaka Toyota.

A escultura remete à história destes países com trajetórias marcadas pela imigração e intercâmbio cultural. A escolha da peça também busca valorizar o Brasil como país que acolhe a maior população nipônica fora do Japão e o estado do Paraná como segunda maior colônia japonesa em solo brasileiro.

Orandi Momesso fundou o Parque e a organização sem fins lucrativos Instituto Luciano Momesso (Foto Divulgação/Gabriel Teixeira)

“Uma metade está no Japão e a outra, aqui no Parque. A terra do sol nascente e as terras vermelhas do norte do Paraná estarão conectadas. Esse marco simboliza o que a humanidade tem de melhor: a união”, afirma Orandi Momesso, empresário, colecionador, incentivador das artes e fundador do Parque Geminiani Momesso. A inauguração da obra contou com uma performance de dança butô da artista Emilie Sugai e cerimônia oficial com a presença do colecionador Orandi Momesso, do artista Yutaka Toyota e de autoridades como o embaixador do Brasil no Japão, Octavio Henrique Garcia Cortes; o consul Geral do Japão em São Paulo, Ryosuke Kuwana; o prefeito de Ibiporã, José Maria Ferreira, e representantes do Ministério das Relações Exteriores e do Itamaraty. O evento também marcou a apresentação do novo museu de arte a céu aberto fortalecendo a posição do estado no roteiro cultural e artístico brasileiro.

Com um olhar aguçado, Orandi Momesso teceu uma das coleções de arte mais relevantes do Brasil. O Parque carimba o legado deste trabalho de mais de cinco décadas ao salvaguardar o acervo em acesso público e, além disso, dedicar um espaço cultural e biodiverso à sua terra natal. A curadoria do acervo é voltada para artistas brasileiros e aqueles que vivem no Brasil e têm forte relação com o país, como Yutaka Toyota, naturalizado brasileiro em 1971.

O artista contou, em seu ateliê, a emoção que inspirou a criação da obra. “Sempre me interessei pelo espaço cósmico desde o início do meu trabalho. Quando eu cheguei no Brasil, lembro que me encantei com a paisagem e as cores intensas da natureza e o aço surgiu na minha obra como uma forma de espelhar esse novo mundo”, declarou. O monumento é resultado de um período da produção artística de Toyota, que nas décadas de 80 e 90, explorou materiais industriais que se tornaram populares no pós-guerra, como é o caso do metal. Segundo Yutaka, o preconceito no Japão da época era muito grande com materiais não tradicionais e a crítica sobre seu trabalho afirmava que aço era material de cozinha, inaceitável em obras de arte. A crítica reforça o pioneirismo do artista em expandir os cânones da arte e apresentar ao mundo novas formas do fazer artístico. 

Composta por 10 blocos dourados – cada um representa uma década – e uma “alça” em aço que remete ao casco do navio que transportou imigrantes japoneses para o Brasil, a ponta da escultura instalada no Japão está direcionada para o sentido geográfico do Brasil e a ponta da escultura inaugurada em solo brasileiro está direcionada para o país asiático. A peça tem 10 metros e pesa cerca de três toneladas, duas toneladas a menos do que a original. Dado seu peso e altura, a instalação ocorre em etapas, nas quais as partes de aço serão transportadas separadamente e a pintura finalizada in loco.

Apesar de igual aparência, as versões adotam materiais diferentes. No Japão, o monumento foi construído com aço inox, enquanto a nova obra no Brasil foi feita em aço carbono. Ao final, ambas recebem pintura dourada com tinta em poliuretano. O motivo para a mudança é estratégico: uma vez que o aço carbono é mais poroso, há uma aderência maior da camada de tinta e a consequente garantia de durabilidade da peça que ficará exposta a céu aberto suscetível a condições climáticas diversas.

Toyota também desenvolverá para o Parque uma nova versão da obra “Espaço Vibração 2000”, que foi comissionada para a exposição coletiva “O Bardi dos Artistas”, realizada para homenagear Pietro Maria Bardi, e doada para Pinacoteca de São Paulo.

 

Projeto de paisagístico de Rodolfo Geiser

 Projeto paisagístico é assinado pelo escritório Rodolfo Geiser Paisagismo e Meio Ambiente (Foto Divulgação/Gabriel Teixeira)

Regenerar e preservar a flora, o solo e a água da região foi a premissa do projeto paisagístico para o Parque Geminiani Momesso pensado pelo escritório Rodolfo Geiser Paisagismo e Meio Ambiente, formado pela arquiteta Christiane Ribeiro e o engenheiro agrônomo Rodolfo Geiser. Com mais de cem mil plantios já realizados, a maioria de árvores, a proposta abraçou a vegetação típica de Mata Atlântica valorizando dezenas de espécies nativas e agregando poucos exemplares de outros biomas brasileiros e exóticos de outros países para criar um visual exuberante e marcante.

A concepção eleva a experiência do público ao proporcionar um ambiente de relacionamento entre arte e natureza. São cinco mil metros lineares de caminhos pavimentados para os frequentadores do Parque, com trechos mais largos para a circulação de carros elétricos que garantem acessibilidade para todos, acessos de serviços e recuos de proteção contra incêndios. Pelo trajeto, maciços arbóreos abrigam surpresas visuais e recebem, em seus intervalos, esculturas em grandes dimensões e pavilhões expositivos.

Geiser destaca as experiências sensoriais vivenciadas no Parque: “O olfato, o tacto, a audição, a contemplação e o paladar. A beleza visual, o aroma das flores e dos frutos, as diferentes condições climáticas, o toque das plantas e a percepção de suas nuances de textura, a ação do vento sobre a vegetação e até o sabor de frutas silvestres”.

Pelo caminho o visitante também passará por decks de madeira, pontes e mirantes que foram pensados para proporcionar a fruição entre a paisagem, as esculturas e os pavilhões. Além da hidrografia natural da região, o projeto do escritório Rodolfo Geiser contempla 33,7 mil metros quadrados de espelhos de água que enaltecem a beleza do paraíso ecológico que abriga o museu de arte a céu aberto do Paraná.

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