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Gandhi é ícone de coerência entre teoria e prática no ambientalismo
Base do Projeto Tamar em Ubatuba é estratégica para a proteção das tartarugas marinhas e educação ambiental (Foto José Pedro Martins)

Gandhi é ícone de coerência entre teoria e prática no ambientalismo

Páginas da história ambiental – III

Por José Pedro Martins

Uma referência importante, na transição dos séculos 19 e 20, para a ideia da sustentabilidade através dos tempos, é a de Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948), o líder da independência da Índia do domínio britânico. A trajetória de Gandhi, para atingir o seu objetivo, foi marcada pela não-violência como forma de luta. Essa é a sua face mais conhecida, mas Gandhi também é exemplo de ação em defesa dos animais e natureza em geral.

O estilo de vida de Gandhi, simpatizante de Thoreau, foi absolutamente simples, limitado a consumir o que apenas necessitava. (Mais sobre Thoreau na Agência Social de Notícias:

Ficaram célebres algumas frases atribuídas a Gandhi, sobre o que ele pensava da relação entre o ser humano e os outros animais e espécies da biosfera. Algumas delas:

 “Em meu pensamento, a vida de um cordeiro não é menos importante que a vida de um ser humano.”

“Há muito de verdade no dito de que o homem se torna aquilo que come. Quanto mais grosseiro o alimento tanto mais grosseiro o corpo.” “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados.”

São palavras que mostram como Gandhi era crítico do antropocentrismo da sociedade ocidental industrial. Era igualmente crítico de qualquer desperdício. Uma de suas fases mais citadas nesse sentido é aquela em que se referia o estilo de vida britânico, quando indagado se a Índia seguiria o mesmo caminho da Inglaterra. Ele respondeu, perguntando: “A Grã-Bretanha necessitou apropriar-se da metade dos recursos do planeta para alcançar a prosperidade atual. Quantos planetas necessitaria um país como a Índia?”

Gandhi defendia, ainda, o uso de uma tecnologia apropriada ao contexto indiano, para que o país se desenvolvesse. Foi, nesse sentido, grande difusor a partir de 1924 da Charkha, tear que simbolizaria a luta da Índia por um estilo próprio de desenvolvimento. Essa postura de Gandhi o coloca como um dos pioneiros do que hoje se chama Tecnologia Apropriada ou Tecnologia Social – a tecnologia que promove desenvolvimento, gera emprego e renda, mas que está relacionada com os valores culturais próprios da comunidade local. É uma das premissas do desenvolvimento sustentável.

Outro legado de Gandhi para a questão do desenvolvimento sustentável é a sua forma de ver o poder. Que não deveria ser centralizado, monopólio de uma elite, em sua opinião e a de muitos de seus seguidores. O poder teria de ser descentralizado, transparente, aberto. Uma das palavras-chaves na filosofia de Gandhi é satyagraha, que seria “a busca da verdade” ou “o caminho da verdade”. O ideal era falar a verdade, sempre. Transparência total. É uma das grandes demandas do complexo e turbulento século 21.

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