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Centro de Campinas tem histórico de manifestações políticas
Manifestação no centro de Campinas em 20 de junho de 2013 (Foto Adriano Rosa)

Centro de Campinas tem histórico de manifestações políticas

O centro de Campinas voltará a ser espaço de manifestação no domingo, dia 15 de março, com os atos relacionados à crise na Petrobrás, à Operação Lava-Jato e aos pedidos, por alguns setores sociais e partidários, de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Por outro lado, também estão previstas manifestações em defesa da Petrobrás e dos direitos humanos e pela reforma política.

Independente da coloração partidária, da posição ideológica ou da bandeira empunhada por este ou aquele grupo, o centro campineiro – e em particular o Largo do Rosário – é o grande palco para a expressão política na cidade. Com ensaio fotográfico de Adriano Rosa e Martinho Caires, sobre as manifestações de junho de 2013, especial para a Agência Social de Notícias.

História em ebulição – O Centro tem sido palco de eventos históricos, em sintonia com os momentos mais críticos da vida brasileira. A primeira eleição da Câmara da Vila de São Carlos (nome oficial, porque o local já era conhecido de todos como Campinas, desde a fundação, em 1774, da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso), a 15 de dezembro de 1797, foi o eixo central do primeiro terremoto politico acontecido na cidade e que já demarcou a vocação oposicionista.

A primeira Câmara, com cinco vereadores, que funcionava em prédio situado onde hoje está o monumento-túmulo de Carlos Gomes, se recusou a incluir Raimundo Álvares dos Santos Prado entre os nomes de uma lista tríplice que seria entregue ao capitão-geral (equivalente a governador na época), com os mais votados para capitão-mor, que detinha o poder militar.

A primeira Câmara foi deposta, sendo eleita uma nova, empossada a 26 de abril de 1798, mas a disputa com o governador continuou. Em junho de 1801, o governador Antônio Manuel de Melo Castro Mendonça ordenou a prisão das principais lideranças da política campineira, que ficaram detidas em Santos: José Barbosa da Cunha, Francisco de Paula Camargo, Felipe Néri Teixeira, Joaquim José Teixeira e Manuel Teixeira Vilela. Em períodos alternados, as prisões ocorreram de 24 de junho a 4 de outubro de 1801.

O povo foi às ruas e praças em junho de 2013 (Foto Martinho Caires)

O povo foi às ruas e praças em junho de 2013 (Foto Martinho Caires)

Os confrontos só foram encerrados com a posse do novo governador, Antônio José de Franca e Horta, a 10 de novembro de 1802. No dia 4 de março de 1804 foi finalmente empossado, pela Câmara da Vila de São Carlos, com capitão-mor, João Francisco de Andrade, escolhido pelos vereadores e aprovado pelo novo governador. O crescimento local ainda se devia substancialmente à cana-de-açúcar.

Junho de 2013: por um novo Brasil (Foto Adriano Rosa)

Junho de 2013: por um novo Brasil (Foto Adriano Rosa)

Proclamação da República – O movimento de 15 de novembro de 1889 teve importante participação de líderes políticos campineiros, como o general Francisco Glicério, nomeado ministro no primeiro governo republicano. O segundo presidente civil brasileiro, Campos Salles, nasceu em Campinas.

Era a força dos cafeicultores, que estiveram à frente da mobilização que levou à República. Os líderes republicanos iam e vinham pelos trilhos da Companhia Paulista e Companhia Mogiana, que tornaram Campinas um dos principais polos ferroviários do país.

Massacre da Porteira da Capivara –   Em 16 de julho de 1917, a cidade ficou atônita com o Massacre da Porteira da Capivara. Era uma barreira localizada na altura do atual Viaduto Miguel Vicente Cury, na saída da antiga estação da Companhia Ferroviária Paulista.

Diversidade ideológica nas ruas de Campinas em 2013 (Foto Martinho Caires)

Diversidade ideológica nas ruas de Campinas em 2013 (Foto Martinho Caires)

Para impedir os trens de circular durante uma greve, um grupo de ferroviários, de inspiração anarquista, se instalou nas proximidades da porteira, fato que motivou a repressão de forças policiais, levando a vários feridos e três operários mortos.

20 de junho de 2013: o Brasil se vê na tela (Foto Adriano Rosa)

20 de junho de 2013: o Brasil se vê na tela (Foto Adriano Rosa)

Revolução Constitucionalista –  18 de setembro de 1932, no meio da Revolução Constitucionalista contra Vargas, Campinas se tornou uma das únicas cidades brasileiras bombardeadas por avião até o momento.

Quatro bombas foram lançadas contra o parque ferroviário de Campinas, na região central, e uma delas feriu quatro pessoas e matou o menino Aldo Chiorato, de 9 anos. A infância vitimada por conflitos.

Muitas bandeiras reunidas na região central em 2013 (Foto Martinho Caires)

Muitas bandeiras reunidas na região central em 2013 (Foto Martinho Caires)

Ditadura militar – O mundo acadêmico foi uma das trincheiras locais contra a ditadura militar instalada em 1964 e que inaugurou novo período de instabilidade política. Professores da Unicamp estiveram na lista dos “marcados para morrer” por grupos paramilitares.

Vários confrontos aconteceram nas ruas centrais de Campinas, com a repressão de policiais a estudantes, professores e cidadãos que apoiavam a luta contra o governo dos generais. Estudantes da PUC-Campinas apanharam da polícia.

Diretas-já -  O Largo do Rosário foi o cenário de uma das primeiras grandes manifestações da campanha das Diretas-Já, a 21 de janeiro de 1984. No ano anterior, o Centro Acadêmico de Direito da PUC-Campinas já havia convidado o então Senador da República Teotônio Vilela, um dos ícones da redemocratização e da redemocratização, para participar de uma Semana Jurídica do curso. Teotônio morreria logo depois à visita a Campinas.

Manifestação em 2013 reuniu várias bandeiras, ideias e perspectivas (Foto Adriano Rosa)

Manifestação em 2013 reuniu várias bandeiras, ideias e perspectivas (Foto Adriano Rosa)

No comecinho de 1984, nas janelas do Palácio dos Jequitibás, vértice dos conflitos de ontem, ficou estampado um painel com os dizeres: “Eleições Diretas-Já”. Foi uma ideia do arquiteto Paulo de Tarso, e que teve apoio do prefeito José Roberto Magalhães Teixeira. A 19 de janeiro, dois dias antes da grande manifestação, o mesmo Largo do Rosário sediou um jogo de futebol, em que o time das Diretas ganhou de 10 a 4 da equipe das Indiretas.

A Orquestra Sinfônica de Campinas, regida pelo maestro Benito Juarez, participou de várias manifestações, em Campinas e pelo Brasil, durante a campanha das Diretas-Já. Sempre o espírito pacífico e a alegria de lutar por um país melhor.

Fora Collor –   Em 25 de agosto de 1992, de novo o Largo do Rosário foi o palco de grande manifestação, com cerca de 10 mil pessoas, durante o Fora Collor, o movimento que levou ao impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.

A juventude no centro, no junho de 2013, o "maio de 68" atualizado (Foto Martinho Caires)

A juventude no centro, no junho de 2013, o “maio de 68″ atualizado (Foto Martinho Caires)

Foi o último grande ato do povo nas ruas centrais, antes na manifestação gigante de 20 de junho de 2013, mais um dia para a história, para ser lembrado como aquele em que Campinas honrou a caminhada por um Brasil que pode ser muito melhor.

 

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Organização sediada em Campinas (SP) de notícias, interpretação e reflexão sobre temas contemporâneos, com foco na defesa dos direitos de cidadania e valorização da qualidade de vida.

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