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Precursores do pensamento ecológico: não faltou aviso
Pensamento ecológico vem sendo tecido há mais de um século (Foto Adriano Rosa)

Precursores do pensamento ecológico: não faltou aviso

Páginas da história ambiental – IV

Por José Pedro Martins

Henry David Thoreau é por muitos apontado como um dos grandes precursores do ecologismo moderno. Mas existem outros nomes que são referência como pioneiros na discussão ambiental, que não é portanto nada recente. A crise ecológica global contemporânea ocorre, em grande parte, porque as advertências desses pioneiros não foram ouvidas. São os casos de George Perkins Marsh, Thomas Huxley e Aldo Leopold, um “radical” muito atual.

George Perkins Marsh  (1801-1882) – Para autores como David Lowenthal (autor de “George Perkins Marsh. Prophet of Conservation”, University of Washington Press, 2000 ) e Lewis Mumford, “Man and Nature” (1864) é o primeiro estudo completo, holístico como se diz agora, sobre os impactos antrópicos sobre o meio ambiente. Homem de várias especialidades, Marsh foi um precursor do pensamento interdisciplinar que é essencial para a Cultura da Sustentabilidade. Nesta passagem do livro, não deixa dúvida sobre o que pensava do modelo de desenvolvimento que exaure os recursos naturais: “The human race seems destined to become its own executioner…on the one hand [by] exhausting the capacity of the earth to furnish sustenance to her taskmaster; on the other, compensating diminished production by inverting more efficient methods of exterminating the consumer” (in David Lowenthal, “George Perkins Marsh. Prophet of Conservation”, p.339-340).

Thomas Henry Huxley (1825-1895) – Nascido no ano-marco de 1825, o britânico Huxley foi o mais ardoroso defensor, depois de Darwin, da Teoria da Evolução. Aliás, ele defendeu Darwin naquele que foi um dos mais importantes debates científicos da história, promovido um ano depois da publicação de “A Origem das Espécies”.  Foi a 30 de junho de 1860, na Universidade de Oxford, entre Huxley, o maior crítico da Teoria da Evolução na época, o bispo Samuel Wilberforce e o aliado  deste, Richard Owen. O livro de T.H. Huxley, Evidence as to Man’s place in Nature (1863), é referência para o ambientalismo contemporâneo, pelo que representa de crítica científica ao antropocentrismo.Huxley tornou-se  patriarca de família de grandes nomes na ciência e cultura, incluindo o escritor Aldous Huxley (1894-1963, autor de “Admirável mundo novo”, de 1931) , o fisiologista e ganhador do Prêmio Nobel de Medicina Sir Andrew Huxley (1917) e Sir Julian Huxley (1887-1975), que viria a ser o primeiro diretor-feral da Unesco e fundador do World Wildlife Fund – WWF.

Aldo Leopold (1887-1948) – O seu livro “Sand County Almanac”, publicado em 1949, um ano depois de sua morte, é considerado a pedra fundamental da Ética Ecológica ou Ética da Terra. Esse trecho diz tudo: A ética da terra simplesmente amplia as fronteiras da comunidade para incluir o solo, a água, as plantas e os animais, ou coletivamente: a terra. Isto parece simples: nós já não cantamos nosso amor e nossa obrigação para com a terra da liberdade e lar dos corajosos ? Sim, mas quem e o que propriamente amamos ? Certamente não o solo, o qual nós mandamos desordenadamente rio abaixo. Certamente não as águas, que assumimos que não tem função exceto para fazer funcionar turbinas, flutuar barcaças e limpar os esgotos. Certamente não as plantas, as quais exterminamos, comunidades inteiras, num piscar de olhos. Certamente não os animais, dos quais já extirpamos muitas da mais bonitas e maiores espécies. A ética da terra não pode, é claro, prevenir a alteração, o manejo e o uso destes ‘recursos’, mas afirma os seus direitos de continuarem existindo e, pelo menos em reservas, de permanecerem em seu estado natural.” (Leopold A. A Sand County Almanac, and sketches here and there. New York: Oxford, 1989:204.)

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