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Especialista desvenda razões dos 7×1 para a Alemanha e a crise no futebol brasileiro
Trégua Olímpica, pela paz, também será pedida durante Jogos no Rio de Janeiro (Foto José Pedro Martins)

Especialista desvenda razões dos 7×1 para a Alemanha e a crise no futebol brasileiro

Neste dia 8 de julho, quarta-feira, faz um ano dos 7×1 para a Alemanha, na Copa da FIFA de 2014, resultado que selou o maior vexame brasileiro na história dos mundiais. A goleada escancarou a decadência do futebol pentacampeão, que desde então apenas aumentou, até a recente eliminação na Copa América. O escândalo na FIFA, que levou o ex-presidente da CBF José Maria Marin à prisão, foi mais um ingrediente a alimentar uma crise que parece não ter fim. Para o especialista Dr.José Angelo Barela, esse momento dramático para o futebol no Brasil tem razões profundas, e uma delas é o total descuido do país com a preparação física de seus atletas e população em geral. Ele adverte que o Brasil perdeu uma chance histórica de “virar a página”, com a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016.

Licenciado em Educação Física e Técnico Desportivo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1987), mestrado em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992) e doutorado em Desenvolvimento Motor pela Universidade de Maryland, Estados Unidos (1997), o Dr. José Angelo Barela é professor na Unesp-Rio Claro e da Universidade Cruzeiro do Sul.

Ele nota que os movimentos são a única forma do ser humano afetar o mundo externo. No chamado “mundo moderno”, marcado por rápidos avanços tecnológicos, com a automatização de muitas funções, ocorre uma redução drástica da “necessidade de movimentos”, alerta.

Para o especialista, a redução drástica de movimentos, com contexto do sedentarismo, tem repercussão no aumento da obesidade, na perda dos chamados movimentos grossos e nas habilidades motoras. Assim, avisa, é fundamental “induzir movimentação ampla na cultura corporal de nossas crianças”.

O dr.Barela destaca então a importância do estímulo ao movimento e à vida ativa, de forma organizada e focada, em todos os períodos do desenvolvimento da criança e do adolescente. Sem o estímulo adequado a movimentos nesses períodos, diz, haverá efeitos na saúde no período da maturidade adulta, a partir dos 40 anos, quando normalmente aparecem os problemas físicos. Uma recuperação de doenças nessa faixa etária, completa, ocorrerá de forma muito mais apropriada se a pessoa teve uma vida ativa ao longo de sua trajetória.

Preparação inadequada – É neste cenário, adverte o especialista, que o Brasil está pecando muito pela ausência de uma adequada política de fomento à atividade física de forma geral e, particularmente, de preparação apropriada dos atletas. “Os 7 a 1 são um exemplo de como nós estamos nos preparando mal na área esportiva”, assinala.

No caso do futebol, o dr.Barela lembra que antes nós tínhamos os campinhos, onde as crianças brincavam, se movimentavam e se preparavam. Não temos mais os campinhos, o que teve um grande impacto para a atividade física das crianças e adolescentes, e também na formação de novos craques.

Para o professor da Unesp, a ausência de uma política pública adequada de incentivo à atividade física e ao movimento, em um contexto social de limitação dos movimentos, tem um reflexo natural na performance no esporte de alto rendimento, incluindo o futebol, que sempre foi a modalidade mais amada e procurada pelos brasileiros. Um atleta hoje se destaca mais pelo seu empenho pessoal e alguns eventuais apoios do que como resultado de uma ação organizada e coordenada, ao contrário, por exemplo, dos Estados Unidos e outros países, que conectam esporte e educação.

O dr.Barela lamenta que, na história recente, o Brasil esteja perdendo grandes oportunidades para “virar a página”, e escrever um novo capítulo para os esportes e educação física de modo geral. Foi o caso do período preparatório para a Copa das Confederações de 2013, Copa do Mundo de 2014 e, agora, para as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro.

“Perdemos essa chance histórica de estarmos discutindo e criando uma política pública para o esporte, não apenas o competitivo, mas como meio de desenvolvimento de valores e promoção da saúde, enfim, como promoção da própria cidadania”, conclui, como um protesto. Esse seria o grande legado dos grandes eventos esportivos para o Brasil. Não aconteceu, como um enorme prejuízo para as novas gerações. (Por José Pedro Martins)

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