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Espetáculo de dança em Campinas instiga reflexão sobre exposição e controle dos corpos na sociedade atual
Intimidade Dócil: reflexão sobre o corpo no conturbado mundo atual (Fotos Lidia Ueta/Divulgação)

Espetáculo de dança em Campinas instiga reflexão sobre exposição e controle dos corpos na sociedade atual

A sociedade atual vibra à beira da loucura de uma constante observação. A partir dessa reflexão, as bailarinas Bruna Spoladore e Renata Roel entraram na sala de ensaios para esculpir um espetáculo instigante, em que intérpretes e plateia se revezariam nas posições de observadores e observados. O resultado foi batizado ironicamente de Intimidade Dócil. A montagem de dança contemporânea estará em cartaz sábado, dia 31 de outubro, às 20 horas, e domingo, 1º de novembro, às 19 horas, no Centro Cultural Casarão, em Campinas. A entrada é franca.

Além das apresentações, os interessados podem integrar a oficina gratuita Modos de Compor, ministrada pelas artistas, que ocupará na sexta-feira (30), das 9h às 17h, o Departamento de Artes Cênicas da UNICAMP (Rua Pitágoras, 500, na Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, em Barão Geraldo). Contemplada inicialmente pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna Jovens Talentos, em 2012, a atual turnê do espetáculo conta com o patrocínio dos Correios para a circulação. Detalhe: o espetáculo integrou a edição 2015 da Bienal Sesc de Dança, realizada em setembro, em Campinas.

O processo nasceu a partir da aproximação de interesses em comum, destaca Bruna. Há quatro anos, as duas resolveram se debruçar sobre: a percepção visual e a investigação do olhar. Para tanto, lançaram mão de textos da artista norte-americana Lisa Nelson, que trata da temática, principalmente influenciada pelo vídeo e pelas câmeras. As referências não pararam por aí. Durante o processo de pesquisa e experimentação, as bailarinas ainda revisitaram a obra Vigiar e Punir, de Michel Foucault, e o texto O Corpo Que Não Aguenta Mais, de David Lapoujade.

“A partir desse interesse pela investigação do olhar, passamos a pensar em como ele poderia ser discutido de uma forma mais política, que está ligada a essa grande exposição atual das pessoas por meio da Internet, seja pelo Instagram ou pelo Facebook. O que nos fez pensar o quanto somos constantemente vigiados, o quanto também nos expomos e quais são os sistemas de controle de nossos corpos. Vivemos em uma sociedade em que câmeras de vigilância estão espalhadas pelo nosso caminho, tanto no supermercado quanto nas ruas”, avalia Bruna.

Não por acaso, Intimidade Dócil transita por ações, estados e sensações corporais de observar e ser observado. Por outro lado, “apresenta esse corpo que não aguenta mais, mas que não tem a opção de parar. Até porque ele precisa continuar existindo, estar em movimento e resistir. A partir dessa resistência, ele necessita se transformar para sobreviver”. Mesmo assim, essa intimidade ainda continuaria dócil, como estampa o nome do espetáculo? “Vemos o título de uma forma mais irônica. Essa intimidade que expomos não tem nada de dócil. Está mais para uma resistência”.

Em sintonia, a dramaturgia do espetáculo sobrevive a partir do encontro de duas contradições: a oposição entre escutar as necessidades do corpo e provocá-lo em determinados momentos. “Por isso, passamos por momentos de bastante movimento, muito rápidos e que provocam exaustão. Quando acho que não aguento mais, vou ainda mais um pouco, buscando romper limites. Porém, tem uma hora que o corpo cansa e eu preciso me transformar”.

Nesse ponto, as bailarinas convidam a plateia para uma inversão de pontos de vista. Ao mesmo tempo em que são observadores, os espectadores passam também a gozar de instantes em que são observados. “São diferentes reações. Tem gente que te encara quando você olha, outros desviam o olhar, alguns não se dão conta e nem percebem…”. A fim de alinhavar as cenas, o espetáculo conta com a trilha sonora inédita do compositor Demian Garcia. A cena final, por exemplo, tem uma peculiaridade sonora. “A última música foi feita a partir dos nossos movimentos corporais. Ele captou os sons dos nossos corpos em contato com o chão”.

As artistas – Mestre em Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), a bailarina Bruna Spoladore integra o Núcleo Artérias, de São Paulo, que tem direção de Adriana Grechi. Já a bailarina Renata Roel é doutoranda pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Tanto Bruna quanto Renata também estudaram no Centro de Estudos em Movimento, em Portugal. A partir da amizade e de interesses em comum, as duas artistas resolveram propor um encontro artístico no palco, que resultou no espetáculo Intimidade Dócil.

Programação da Temporada em Campinas

Espetáculo Intimidade Dócil Sábado (31/10), às 20h, e domingo (1º/11), às 19h, no Centro Cultural Casarão (Rua Maria Ribeiro Sampaio Reginato, s/n, Terras do Barão, em Barão Geraldo). Entrada franca.

Oficina Modos de Compor Oficina ministrada por Bruna Spoladore e Renata Roel Sexta-feira (30), das 9h às 17h, no Departamento de Artes Cênicas da UNICAMP (Rua Pitágoras, 500, na Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, em Barão Geraldo). Inscrições gratuitas: isarazera@gmail.com ou pelo link http://caisdasartes.art.br/inscrições

Espetáculo ganhou Prêmio Funarte (Foto Lidia Ueta/Divulgação)

Espetáculo ganhou Prêmio Funarte (Foto Lidia Ueta/Divulgação)

 

 

 

 

 

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