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Governador Valadares busca se recuperar dos impactos da lama de resíduos de mineração
Rio Doce, dominando a paisagem em Governador Valadares (Foto Emanuel Caires)

Governador Valadares busca se recuperar dos impactos da lama de resíduos de mineração

Nesta sexta-feira, 20 de novembro, o abastecimento de água foi normalizado em Governador Valadares, uma das cidades atingidas pela lama de resíduos de mineração provocada pelo rompimento de duas barragens em Mariana (MG). Com uma população estimada pelo IBGE em 278.363 habitantes, Valadares é uma das maiores cidades da bacia do Rio Doce e viveu momentos de horror com o anúncio da chegada da lama no dia 9 de novembro, quatro dias após o rompimento das barragens.

“Virou um caos sem água. O preço do galão de 20 litros foi lá em cima e era difícil encontrar”, relata o empresário Genesis Moraes de Oliveira. De fato, durante alguns dias a Prefeitura de Valadares acionou um esquema alternativo para distribuição de água, em vários pontos da cidade. O abastecimento foi normalizado ontem, mas já neste sábado, dia 21, está sendo novamente interrompido, por cerca de 10 horas, para limpeza dos equipamentos da Estação de Tratamento de Água (ETA) Central. A Prefeitura recomenda então a continuidade do uso racional, considerando o tempo necessário para o completo preenchimento dos reservatórios.

A Prefeitura e o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAEE) também se preocuparam com a garantia da qualidade da água e solicitou análises da Fundação Ezequiel Dias (Funed). As amostras foram coletadas no dia 12 de novembro e no dia 17 saiu o resultado, afirmando que a lama que atingiu o rio Doce não seria tóxica. “Os níveis dos chamados metais pesados, como mercúrio, cádmio, arsênio e chumbo estão dentro do limite recomendado pela resolução do CONAMA, o Conselho Nacional do Meio Ambiente, ou seja, abaixo dos níveis prejudiciais à saúde”, afirma comunicado da Prefeitura, de 17 de novembro.

Mas a população continua desconfiada, afirma Genesis Moraes de Oliveira. “Eu não bebo dessa água e acho que o município deveria buscar outra forma de captar água que não seja no rio Doce”, diz o empresário. Ele e boa parte da população consideram que a recuperação do Rio Doce, fonte de vida para a própria Governador Valadares e grande parte da bacia, ainda vai demorar muito.

Governador Valadares divide, com Itatiba e Itabira, os primeiros lugares no Produto Interno Bruto Municipal na bacia do Rio Doce. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de Valadares evoluiu de 0,635 em 2000 para 0,727 em 2010, representando uma taxa de crescimento de 14,49%.  Nesse período, a dimensão cujo índice mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,160), seguida por Longevidade e por Renda.

Assim como em todo Brasil, o envelhecimento da população é sentido na cidade. Entre 1991 e 2010, a população com menos de 15 anos diminuiu sua participação na população geral, indo de 34,4% para 23,90%. A população entre 15 e 64 anos aumento sua participação, indo de 61.43% para 67,99%. Mas maior crescimento proporcional foi da população com 65 anos ou mais, que praticamente dobrou a sua participação no período, de 4,24% para 8,12%.

Entre 1991 e 2010, a esperança de vida ao nascer em Valadares aumentou de 67,0 para 75,1 anos. A mortalidade infantil, entre os bebês de até um ano de idade, caiu de 34,8 para 14,7 por mil nascidos vivos, ainda segundo o PNUD.

O percentual da população vulnerável à pobreza declinou entre 1991 e 2010 de 59,78% para 29,84%. A proporção da população que mora em domicílio com banheiro e água encanada cresceu de 75,49% para 98,00% no mesmo período, conforme o PNUD, no Atlas do Desenvolvimento Humano.

A indagação, diante da tragédia ambiental no Rio Doce, é com relação ao futuro da qualidade de vida em Governador Valadares e toda a bacia hidrográfica, em função dos impactos no maior manancial de abastecimento de água da região.

Uma coisa é certa, a população quer muito maior atenção dos poderes públicos em relação às atividades de risco ambiental ao longo de toda a bacia. “Não podemos mais depender só do rio Doce. É preciso buscar outras fontes”, reitera o empresário Genesis Moraes de Oliveira.

Todas as cidades da Bacia do Rio Doce atingidas pela tragédia estão em situação de emergência estadual, conforme decreto do governador de Minas, Fernando Pimentel. O reconhecimento da situação de emergência facilita os procedimentos de apoio, inclusive do governo federal. Além disso, a A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) instituíram uma Resolução Conjunta, que prioriza as outorgas de água nos municípios atingidos pelo rompimento das barragens da Samarco em Mariana.

As cidades prosseguem recebendo a solidariedade de grupos e pessoas de todo país. Doações continuam chegando a Governador Valadares e outros municípios. São galões de água e alimentos, oriundos principalmente de cidades mineiras como Santa Rita do Sapucaí, onde a arrecadação será feita até este sábado, dia 21, em vários pontos. Expressão da solidariedade nacional às cidades atingidas pela enorme tragédia.

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