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Política patriarcal faz Brasil despencar no ranking global de desigualdade de gênero
Brasil de olho no Senado Federal (Foto Adriano Rosa)

Política patriarcal faz Brasil despencar no ranking global de desigualdade de gênero

A continuidade do patriarcalismo na política partidária brasileira foi o principal fator responsável para que o Brasil despencasse 14 posições no ranking do Índice Global de Desigualdade de Gênero, formulado pelo Fórum Econômico Mundial. O Brasil figura no 85º lugar no Índice de 2015, contra o 71º lugar que obteve em 2014 e o 62º lugar em 2013 e 2012, melhor posição alcançada pelo país no indicador criado em 2006.

O Índice Global de Desigualdade de Gênero mede o tamanho das desigualdades de gênero e monitora o seu progresso ao longo do tempo. O Índice mensura as lacunas relativas entre homens e mulheres em quatro áreas-chave: saúde, educação, economia e política.

A pontuação máxima possível de um país, para compor o Índice, é de 1 (igualdade) e a menor pontuação possível é 0 (desigualdade), considerando os quatro indicadores. Nestes termos, o país colocado em primeiro lugar no ranking de 2015, e portanto aquele que teria mais igualdade, é – repetindo 2014 – a Islândia, com 0.881. Em segundo, Noruega (0.850). A Finlândia é o terceiro (0.850) e Suécia é o quarto (0.823) e a Irlanda, o quinto (0.807).

Em 85º lugar, com uma marca de 0.686, o Brasil está atrás de 15 países da América Latina e Caribe. Pelos critérios do Índice, o Brasil, na área de Participação e Oportunidades Econômicas, ocupa o 1º lugar no ranking no quesito Técnico e Profissional, mas é apenas o 86º em Participação na Força de Trabalho e 133º em Igualdade Salarial para Trabalhos Similares.

Na dimensão Educacional, o Brasil ocupa o primeiro lugar do ranking em dois quesitos: Taxa de Alfabetização e Matrícula na Educação Universitária. O Índice não aponta neste ano a posição brasileira em Matrícula na Educação Primária e Secundária (estava em primeiro lugar nos dois indicadores em 2014). Na dimensão Saúde e Sobrevivência, o Brasil também é primeiro colocado, em Proporção entre os Sexos no Nascimento e Expectativa de Vida (mulheres em relação a homens).

Na dimensão Poder Político estão os piores desempenhos, o que ajuda a explicar o 85º lugar do país e segunda queda consecutiva no ranking geral. O Brasil é apenas 27º em Anos com Mulheres como Chefe de Estado, 84º em Mulheres com Posição Ministerial e 123º em Mulheres no Parlamento.

Houve uma queda de 43 posições em relação a 2014 no indicador Mulheres com Posição Ministerial. No início de outubro de 2015 a presidente Dilma Rousseff anunciou reforma, após várias negociações entre os partidos que formam a base do governo federal, que resultou na diminuição de oito ministérios.

Na reforma, foi criada a secretaria da Cidadania, com status de Ministério, resultante da fusão das Secretarias de Direitos Humanos (que era ocupada por Pepe Vargas), Igualdade Racial (Nilma Lino Gomes) e, justamente, de Mulheres (Eleonora Menicucci). Nilma Lino Gomes é a titular da nova ministra da Cidadania.

Política patriarcal – Nas eleições de 2014, apenas 120 deputadas estaduais e distritais, contra a bancada anterior de 141 cadeiras femininas nas assembleias legislativas, uma queda de quase 15%. Para a Câmara Federal foram eleitas 51 deputadas, quase 10% do total de 513, e cinco senadoras, entre 27 no total. Com isso continuará a sub-representação feminina no Congresso, confirmando as projeções de um estudo divulgado dias antes das eleições pelo Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (Inesc).

O estudo havia mostrado que, no geral, eram 25.919 candidatos, dos quais 17.911  homens (69,10%) e somente 8.008 mulheres (30,90%), dado que já mostrava a sub-representação feminina, apesar do crescente número de candidaturas de mulheres. Em 2010 foram 22,4% de candidatas mulheres e 77,6% de candidatos homens.

Com as seis mulheres que já tinham cadeira no Senado e as cinco eleitas, a bancada feminina passou a se de onze, 13,6% do total de 81. Apenas Suely Campos, em Roraima, foi eleita governadora. Um cenário derivado da manutenção do patriarcalismo na estrutura partidária brasileira.

A expressiva participação das mulheres no respectivo parlamento é o principal indicador responsável para que Ruanda, um país que busca se recuperar da devastação provocada pela guerra civil, figure no 6º lugar no Índice de 2015. Pelos mesmos motivos, as Filipinas são o 7º lugar e Nicarágua o 12º lugar no Índice de 2015.

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