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Musicalidade do Carnaval abre espaço para baianás do Cabelo de Maria e ‘street band’ Ôncalo
Cia Cabelo de Maria apresentou no Sesc Campinas os baianás alagoanos, que têm afinidade com os antigos reisados e o samba matuto Fotos: Martinho Caires

Musicalidade do Carnaval abre espaço para baianás do Cabelo de Maria e ‘street band’ Ôncalo

“É um A, é um B, é um C. Baiana me solte que eu quero aprender”*

O ritmo do folguedo Baianá, que nasceu no sul de Pernambuco e se instalou em Alagoas, animou foliões do Sesc Campinas na tarde desta segunda-feira de Carnaval, apresentado pelo grupo Cia Cabelo de Maria. A programação multicultural do Sesc teve ainda a Street Band Ôncalo, que também incluiu no repertório as tradicionais marchinhas carnavalescas. A diversidade musical levou crianças, adultos e idosos para o salão com a descontração natural da maior festa popular do Brasil.

Os bonecos gigantes do Carnaval de Olinda se misturaram com foliões no galpão do Sesc Campinas durante show da Cia Cabelo de Maria   Fotos: Martinho Caires

Os bonecos gigantes do Carnaval de Olinda se misturaram com foliões no galpão do Sesc Campinas durante show da Cia Cabelo de Maria Fotos: Martinho Caires

Afinidades

Pouca gente conhece o Baianá. Até quem já ouviu pode não saber que era Baianá. A musicista Renata Mattar descobriu o ritmo no final da década de 1990. O folguedo tem afinidades com os antigos reisados e com o samba de matuto. Paulistana, formada em Canto Lírico, Renata foi morar em Recife em 1997. Conhecia parte da riqueza musical do Brasil pela Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade. “Resolvi fazer a minha própria pesquisa”, diz Renata, que trocou o repertório lírico pelo brasileiro.

Depois de percorrer o interior de São Paulo, ela foi a Pernambuco e Alagoas com o gravador na mão. Quando percebeu que as culturas populares pernambucanas já eram conhecidas e preservadas graças ao trabalho de gente como Ariano Suassuna e Chico Science, Renata descobriu em Alagoas uma riqueza desconhecida, que a impressionou. A população local também pouco conhecia os baianás, porque os folguedos precisaram ser disfarçados após uma perseguição e destruição dos terreiros de Xangô, onde nasceram os baianás.

Os foliões do Sesc se animaram com todos os ritmos na tarde de segunda-feira de Carnaval  Fotos: Martinho Caires

Os foliões do Sesc se animaram com todos os ritmos na tarde de segunda-feira de Carnaval Fotos: Martinho Caires

Tarde carnavalesca teve música, máscaras e fantasias no Sesc Campinas  Fotos: Martinho Caires

Tarde carnavalesca teve música, máscaras e fantasias no Sesc Campinas Fotos: Martinho Caires

Voltaram a sorrir

“Vi o ritmo Baianá e achei contagiante. Em Coqueiro Seco, ao lado de Maceió, assisti a Marujadas e conheci a mestra Luzia, que já não cantava mais e havia parado com os Baianás em 1947. Com as minhas visitas, ela e outras mulheres resolveram retomar com o grupo ‘Baianas voltam a sorrir’. Eu gosto de conhecer as tradições destas senhoras”, conta Renata, que também passou por Arapiraca, terra de Hermeto Pascoal, onde teve contato com os cantos de trabalho dos trabalhadores rurais das plantações de fumo.

Já em São Paulo, Renata mostrou os cantos para o músico Gustavo Finkler, que começou a fazer arranjos e logo os dois formaram o grupo Cia Cabelo de Maria. “Fiquei com repertório rico depois da pesquisa. Eu fico pensando em quanta coisa existe na nossa música e não temos acervo, está tudo na memória destas pessoas. Temos essa missão de recuperar. Hoje nós fazemos shows para mostrar essa música.”

O grupo Cia Cabelo de Maria tem várias formações e apresenta sete shows diferentes, para cada show há uma formação diferente. No show do Sesc Campinas teve trompete, trombone, violão, baixo, percussão, zabumba, ganzá, gonga, triângulo, chocalho e pandeiro. Com cinco homens e cinco mulheres: Renata Mattar, Gustavo Finkler, Dani Zulu, Cris Glória, Rosa Rafa, Rafa Nepomuceno, Luís Cláudio Faria, Renato Farias, Gustavo Souza e Roberto Guluga.

Foliões de todas as idades curtiram a diversidade musical do Carnaval  Fotos: Martinho Caires

Foliões de todas as idades curtiram a diversidade musical do Carnaval Fotos: Martinho Caires

Street Band carnavalesca

A Street Band Ôncalo animou mais cedo os foliões do Sesc Campinas. Também de São Paulo, criada há quatro anos, a banda trouxe 16 músicos para Campinas. O músico e professor Everson Bô formou o grupo quando dava aula de percussão em uma escola municipal da Penha, bairro paulistano. Quando percebeu o interesse de algumas alunas continuarem, criou o Ellas + 1, formado por ele e mais seis alunas. O grupo cresceu e surgiu o Ôncalo, que quer dizer caverna em finlandês.

O percussionista Everson Bô criou o grupo Ôncalo há quatro anos e já foi à Rússia levar sua música  Fotos: Martinho Caires

O percussionista Everson Bô criou o grupo Ôncalo há quatro anos e já foi à Rússia levar sua música Fotos: Martinho Caires

“Eles chamavam de caverna o local onde aprendiam a tocar os instrumentos”, explica. O grupo foi a Moscou em 2014 e realiza apresentações de rua ou fechadas em todo o Brasil. Segundo Everson, no momento a banda está com o projeto Tim Maia 70, com repertório do músico.

A Street Band Ôncalo tem seis trompetes, três trombones, três tubas e quatro percussões. “O objetivo é fazer com que estes jovens se tornem profissionais da música. Pelo menos 14 ex-alunos que passaram pela banda continuam envolvidos com música”, diz o professor, que também se apresentou no Sesc Santos. Em São Paulo, ele criou esse ano o Bloco da Caverna, uma prova de que Street Band também cai na folia do Carnaval. (Adriana Menezes)

* Música “ABC” do CD Baianá – Parece Cinema, da Cia Cabelo de Maria (www.ciacabelodemaria.com)

Música do Ôncalo encheu o salão  Fotos: Martinho Caires

Música do Ôncalo encheu o salão Fotos: Martinho Caires

Trompetista do Ôncalo; grupo nasceu em escola pública de São Paulo a partir do interesse das alunas  Fotos: Martinho Caires

Trompetista do Ôncalo; grupo nasceu em escola pública de São Paulo a partir do interesse das alunas Fotos: Martinho Caires

O trombone em descanso pós-Carnaval  Fotos: Martinho Caires

O trombone em descanso pós-Carnaval Fotos: Martinho Caires

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