O déficit histórico no saneamento básico é uma das principais causas da proliferação do Aedes aegypti mas essa grave lacuna na infraestrutura não foi sequer mencionada nos discursos oficiais dos participantes no ato do dia nacional contra o mosquito, realizado na manhã deste sábado, 13 de fevereiro, na entrada da Lagoa do Taquaral, em Campinas. O ministro da Defesa, Aldo Rebelo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e todos os outros que se pronunciaram não citaram a urgência da melhoria substancial no saneamento básico, como medida essencial de combate ao Aedes e as quatro doenças a ele associadas: dengue, Zika Vírus, chikungunya e febre amarela.
Todos os discursos foram centrados nos necessários esforços para a erradicação dos criadouros do Aedes e para a busca de vacinas e outros recursos tecnológicos contra a propagação do mosquito. O secretário municipal de Saúde de Campinas, Carmino de Souza, apontou como prioridades neste momento a eliminação dos criadouros e a atenção cuidadosa aos atingidos por qualquer uma das doenças transmitidas pelo mosquito. A busca de vacinas e outros recursos tecnológicos representa “importante e necessária evolução científica”, mas são iniciativas que “demoram um pouco”, acentuou.
Por sua vez, o secretário estadual da Saúde, David Ewerson Uip, pediu cautela na imediata associação entre o Zika Vírus e o surto de microcefalia, que tem ocorrido sobretudo no Nordeste. “Existem muitos dados e informações que estão circulando, que não podem ser hiperestimados mas também não subestimados”, pediu o secretário.
O ministro Aldo Rebelo evidenciou a importância da mobilização nacional contra o Aedes, com a participação de mais de 220 mil soldados do Exército, citando o fato de que 70% dos casos de contaminação pelo mosquito ocorrem no interior das residências ou no quintal. “É muito importante e fundamental essa união nacional”, disse o ministro.
Último a se pronunciar, o governador Geraldo Alckmin disse que a luta contra o Aedes aegypti “é uma luta nacional, uma luta da nação, que é a nossa língua portuguesa, a nossa cultura, a alma da nação”, devendo portanto envolver toda a sociedade. O governador observou que “as arboviroses transmitidas pelo mosquito são típicas de um país tropical, e portanto todo esforço deve ser feito até março ou abril, período de calor e chuva. A luta é agora, imediata, é uma luta em defesa da vida”, frisou.
Alckmin justificou a sua presença em Campinas, no dia nacional de combate ao Aedes aegypti. “Campinas é uma emulação do que ocorre no Brasil, é um exemplo. Há um século Campinas viveu uma epidemia de febre amarela e venceu”, afirmou o governador. (Por José Pedro Martins)
A epidemia de febre amarela no final do século 19, com foco principal em 1889, o ano da Proclamação da República, devastou Campinas. A cidade viveu o que historiadores denominaram “um estado de sítio sanitário” e recebeu a solidariedade de muitos locais, como o Rio de Janeiro, em uma grande campanha em favor das vítimas.
A Praça Imprensa Fluminense, no Centro de Convivência Cultural, tem esse nome em homenagem à campanha de jornais da então capital federal pelas vitimas da febre amarela em Campinas.
A epidemia motivou esforços importantes por investimentos em saneamento básico na cidade, que chegou a ter uma das primeiras estações de tratamento de esgoto no Brasil, na altura do atual encontro das avenidas José de Sousa Campos (Norte-Sul) e Orosimbo Maia. O famoso sanitarista Saturnino de Brito atuou na implantação de medidas de saneamento em Campinas entre o final do século 19 e início do século 20.