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Elza Soares apresenta ‘A Mulher do Fim do Mundo’ no Sesc-Campinas com força renovada e músicos paulistanos
Elza Soares no show "A Mulher do Fim do Mundo", no Galpão Multiuso do Sesc-Campinas, sexta-feira (11//03) Fotos: Adriano Rosa

Elza Soares apresenta ‘A Mulher do Fim do Mundo’ no Sesc-Campinas com força renovada e músicos paulistanos

Por Adriana Menezes

Elza Soares poderia ser apenas mais uma voz forte e inigualável a enriquecer a galeria de grandes intérpretes brasileiras, mas quando sobe ao palco ela vai muito além da sua potência vocal. Elza leva junto a mulher, o negro, a sua história, o samba, o samba-rock e todos os oprimidos que conseguem, com a sua música e musicalidade, soltar um grito engasgado que clama por respeito.

No show que fez no Sesc-Campinas nesta sexta-feira (11/03), a melhor cantora do milênio (eleita pela BBC) mostrou ao público – que lotou o Galpão Multiuso – o seu mais recente trabalho, “A Mulher do Fim do Mundo”, ao lado dos compositores e músicos paulistas que se juntaram a ela para fazer um álbum de 11 músicas inéditas.

O músico Dalua fez a percussão do show de Elza Soares em Campinas  Foto: Adriano Rosa

O músico Dalua fez a percussão do show de Elza Soares em Campinas              Foto: Adriano Rosa

O Show

Precisamente às 20h34, abrem-se as cortinas negras do palco montado no galpão do Sesc, ao mesmo tempo que se ouve, à capela, a voz de Elza Soares abrindo o show com “Coração do Mar” (poema de Oswald de Andrade musicado por José Miguel Wisnik): “Coração do mar, é terra que ninguém conhece. (…) É o navio humano, quente, negreiro do mangue.”

Sem pausa, ela canta “Mulher do Fim do Mundo”: “Meu choro não é nada além de carnaval. É lágrima de samba na ponta dos pés. (…) Na avenida deixei lá a pele preta e a minha paz. (…) Até o fim eu vou cantar, eu quero cantar. Eu sou mulher do fim do mundo. Me deixem cantar até o fim.”

Foto: Adriano Rosa

Foto: Adriano Rosa

Diva

No palco, uma cadeira ao centro como um trono no alto dos degraus, onde Elza canta, e reina. Ela ouve os gritos de “Diva”, “Maravilhosa”, “Linda” e agradece inúmeras vezes. “Obrigada, meu amor”. Depois de cantar “Canal” (Rodrigo Campos), “Luz Vermelha” (Kiko Dinucci e Clima), “A Carne” (Farofa Carioca), “Dança” (Cacá Machado/Romulo Froes) e “Firmeza” (Rodrigo Campos), Elza apresenta seus músicos.

“’A Mulher do Fim do Mundo’ é o resultado do encontro com estes artistas paulistanos maravilhosos. Bons moleques: Rodrigo Campos (guitarra / cavaco), Kiko Dinucci (guitarra / violão), Marcelo Cabral (baixo), Dalua (percussão) e Guilherme Kastrup (bateria).”

O músico e ator Rubi Waf interpreta "Benedita" com Elza Soares  Foto: Adriano Rosa

O músico e ator Rubi Waf interpreta “Benedita” com Elza Soares                            Foto: Adriano Rosa

Encontro musical

Segundo Elza, o “maior responsável por isso” foi o músico Guilherme Kastrup, que em entrevista após o show contou que ele e o músico Cacá Machado convidaram Elza Soares para participar de um CD que faziam juntos, há cerca de quatro anos. “Ela ‘pirou’ nas guitarras do rock com o samba. Elza tem uma energia punk, sambista, subversiva”, lembra o arranjador e produtor.

“O encontro com ela teve muita energia. Éramos todos jovens músicos paulistanos, derivados do samba, do rock, da vida urbana.” Dessa combinação surgiu a ideia de gravar músicas inéditas, compostas pelos próprios músicos. “Elaborei um projeto, inscrevi na Natura e começamos a compor tudo especialmente para esse trabalho”, diz Kastrup.

Cerca de 15 pessoas entram em cena no final do espetáculo  Foto: Adriano Rosa

Cerca de 15 pessoas entram em cena no final do espetáculo                             Foto: Adriano Rosa

Samba punk

Segundo o músico Marcelo Campos, interrompido na hora do seu cafezinho pós-show, Guilherme (Kastrup) percebeu o quanto havia em comum entre Elza e os músicos desse encontro, como Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Kastrup e o próprio Campos. “Ela sempre se jogou, sua música não é higienizada, é um som mais sujo, tem esse lance do submundo, e tudo isso encaixou: o mundo dela com o nosso. Gerou essa química”, diz Campos.

Autor de “Firmeza” e “Canal”, Rodrigo Campos fala do quanto Elza Soares foi generosa com os músicos. “Num momento da carreira dela quando já fez tanta coisa, ela se abriu para esse universo e gravou só músicas inéditas pela primeira vez. Ela não se intimidou e, na verdade, se apropriou e transformou em uma coisa muito dela”, comenta o músico.

O músico Rodrigo Campos  Foto: Adriano Rosa

O músico Rodrigo Campos                                                     Foto: Adriano Rosa

Marcelo Cabral também faz uma pausa para conversar no final do show de sexta-feira, no Sesc-Campinas, e fala que uma das coisas mais legais do trabalho com Elza Soares foi que cada um fez o que sabe fazer, do seu jeito. “Não teve nada de fazer só para agradar. Foi um trabalho que teve muita verdade.”

Autor dos arranjos de cordas e compositor de “Solto”, Cabral fala da enorme disposição da cantora para ensaiar. “Ela era quem menos cansava. Nunca reclamava de passar de novo.” O músico também fala da generosidade da cantora e diz que ela deixou os músicos à vontade para arriscar. “O resultado foi esse, ousado. Quem faria algo assim?”.

Elza Soares ao lado do músico Marcelo Cabral  Foto: Adriano Rosa

Elza Soares ao lado do músico Marcelo Cabral                                                Foto: Adriano Rosa

Voz à mulher

Após apresentação dos músicos, Elza canta “Maria da Vila Matilde”, cujo refrão é um aviso: “Cê vai se arrepender se levantar a mão pra mim”. Em seguida conclama as mulheres da plateia: “Mulheres, se liguem, denunciem, por favor. Chega, mulheres, de passar sofrimento caladas”, em referência à violência doméstica contra a mulher.

Quando começa a cantar “Pra Fuder” (Kiko Dinucci), o seu olhar é ousado e sedutor. “Kiko fez essa música pra mim. Se é pra mim, a gente canta.” Logo entra no palco o músico e ator Rub Waf, numa interpretação performática da música “Benedita”, que Elza emenda com “Malandro”.

Ele deita sua cabeça no colo da cantora, ela o enxuga, conversa e faz carinho, encerrando mais um momento de extrema força de interpretação. O repertório inteiro é marcado pelo conteúdo voltado para a realidade social.

O músico Guilherme Kastrup faz a direção do espetáculo  Foto: Adriano Rosa

O músico Guilherme Kastrup faz a direção do espetáculo                                              Foto: Adriano Rosa

Só o começo

Cerca de 15 pessoas entram no palco e param diante da cantora. Ela interpreta “Solto” (Marcelo Cabral) e “Comigo” – “levo minha mãe comigo, talvez por sermos tão parecidas”. Para finalizar o show, que tem direção de Guilherme Kastrup, Elza declama o poema de Murilo Mendes “Metade Pássaro” (1941): “A mulher do fim do mundo dá de sonhar com poetas / Desvia o curso dos sonhos / Escreve cartas ao rio.”

Aplaudida de pé, com pedidos de ‘bis’, Elza ainda canta “Volta por cima”, a plateia se levanta e a cantora dá mais um ‘bis’. Agradece e avisa que isso é só o começo.

Foto: Adriano Rosa

Foto: Adriano Rosa

Foto: Adriano Rosa

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Guilherme Kastrup e Rodrigo Campos após o espetáculo  Foto: Adriano Rosa

Guilherme Kastrup e Rodrigo Campos após o espetáculo                                             Foto: Adriano Rosa

Marcelo Cabral no final do show  Foto: Adriano Rosa

Marcelo Cabral no final do show                                          Foto: Adriano Rosa

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Um comentário

  1. maike do nascimento barbosa

    eu maike quero que minha esposa elza volte a morar em campinas comogo

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