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Com cursos de fotografia e história da arte, segue a reinvenção do MACC
Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC) "José Pancetti", no centro de uma reinvenção (Foto Martinho Caires)

Com cursos de fotografia e história da arte, segue a reinvenção do MACC

Por José Pedro Martins

As inscrições foram abertas no dia 25 de maio e em pouco tempo o acesso ficou congestionado. No final, mais de 2000 pessoas se inscreveram para as 25 vagas do curso de fotografia que o Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC) “José Pancetti” realiza, sob a coordenação de Martinho Caires, editor de fotografia da Agência Social de Notícias. Com o título “Construindo uma narrativa visual”, o curso é mais uma iniciativa apontando para a reinvenção do MACC, em sintonia com o que ocorre com muitos museus em escala internacional.

Um novo olhar sobre os museus, superando a visão tradicional de que se tratam de instituições paradas no tempo, voltadas apenas para a conservação do passado, vem alimentando um movimento global. Os museus deixam de ser apenas um local privilegiado para a manutenção de acervos, para se tornarem, cada vez mais, dinâmicos centros culturais, de promoção de discussões, de difusão de novas ideias, de proposição de linguagens inovadoras.

Os Epicuristas, escultura de Ricardo Cruzeiro instalada nos jardins do MACC (Foto Martinho Caires)

Os Epicuristas, escultura de Ricardo Cruzeiro instalada nos jardins do MACC (Foto Martinho Caires)

Esta perspectiva é válida sobretudo para museus que lidam com a arte contemporânea, como o MACC de Campinas. Com a importante participação dos artistas do Grupo Vanguarda, o MACC nasceu em 1965, junto com os Salões de Arte Contemporânea de Campinas. E o acervo do MACC é composto basicamente de obras que participaram das 14 edições do Salão, por meio dos chamados Prêmios Aquisição que constam de iniciativas desse tipo.

Um acervo precioso, por sinal. Como lembra Fernando de Bittencourt, curador do MACC, o Museu tem obras de grandes nomes das artes plásticas brasileiras, como Amélia Toledo, Ana Maria Maiolino, Antônio Henrique do Amaral, Bassano Vaccarini, Cândido Portinari, Cildo Meirelles, Cláudio Tozzi, Emanoel Araújo, Ivald Granato, José Roberto Aguilar, Lasar Segall, Luis Paulo Baravelli, Mira Schendell, Odila Mestriner, Roberto Burle Marx, Waldomiro de Jesus e Waltércio Caldas.

Desde o início do século 21, e igualmente seguindo uma tendência nacional e internacional, observa Bittencourt, a ocupação de espaços como o MACC passou a ser feita através de editais. É o que ocorre com o Museu de Arte Contemporânea de Campinas, que tem exposições agendadas até o final de 2016 e já projeta a ocupação em 2017.

Fernando de Bittencourt, curador do MACC, ativo na reinvenção do espaço (Foto Martinho Caires)

Fernando de Bittencourt, curador do MACC, ativo na reinvenção do espaço (Foto Martinho Caires)

Nos últimos, da mesma forma, o MACC incrementou ações voltadas a dar um novo perfil para o Museu, pensando também na atração de novos públicos para o espaço. É o caso do Quinta no Museu, evento que geralmente reúne a abertura de exposição, em pelo menos uma das três salas do MACC, com apresentação musical, dança e food trucks.

A reconfiguração espacial faz parte do processo de reinvenção do MACC. Uma iniciativa relevante nesse sentido, também na gestão de Ney Carrasco na Secretaria Municipal de Cultura,  foi a de instalar a escultura “Os Epicuristas”, de Ricardo Cruzeiro, nos jardins do Museu, bem próximo ao Palácio dos Jequitibás, sede da Prefeitura Municipal de Campinas. “Os Epicuristas” ficam, assim, a poucos metros da escultura “Andorinhas de Campinas”, de Lelio Coluccini, originalmente instalada no Largo das Andorinhas e depois levada para os jardins do MACC.

Exposição com trabalhos de Hercule Florence no MACC, com término adiado para 17 de julho (Foto Martinho Caires)

Exposição com trabalhos de Hercule Florence no MACC, com término adiado para 17 de julho (Foto Martinho Caires)

E o MACC ainda incrementa os cursos, como o de história da arte, que está sendo ministrado pela professora Flávia Fábio (coordenadora e docente do curso de Artes Visuais da FAAL – Faculdade de Administração e Artes de Limeira), e o de fotografia, prestes a ser iniciado, sob coordenação de Martinho Caires. Segundo Fernando de Bittencourt, já aumentou em mais de 200% o público que frequenta o Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC). Ele nota que as redes sociais, fenômeno cultural emergente, contribuem para esse momento novo da instituição.

Moradores da cidade que ainda não conheciam um dos principais territórios culturais locais passaram a frequentá-lo. Desta maneira o Museu, fruto de um movimento que deu novos ares para artes plásticas na cidade, o do Grupo Vanguarda, consolida a sua ressignificação, no contexto das rápidas mudanças tecnológicas e sociais em curso.

Uma das edições de Quinta no Museu (Foto Carlos Bassan/Divulgação Prefeitura de Campinas)

Uma das edições de Quinta no Museu (Foto Carlos Bassan/Divulgação Prefeitura de Campinas)

A FOTOGRAFIA COMO TEXTO, UNINDO TÉCNICA E SUBJETIVIDADE

Martinho Caires, pronto para o curso de fotografia no MACC (Foto Adriano Rosa)

Martinho Caires, pronto para o curso de fotografia no MACC (Foto Adriano Rosa)

A fotografia como texto, unindo técnica e elementos subjetivos como emoção, sentimentos e visão cultural. Esta é a proposta central do curso de fotografia “Construindo uma narrativa visual”, que Martinho Caires ministra a partir do dia 18 de junho no MACC, como parte do processo de reinvenção do Museu.

O curso será oferecido em dois módulos. O primeiro destacará aspectos técnicos, como a teoria da luz, os controles da câmera, a história da fotografia. E o segundo vai enfatizar um paralelo entre linguagem falada/escrita e linguagem visual.

Martinho Caires nota que a comunicação e a beleza da imagem acontecem na interação dos dois espaços, o da técnica e o da subjetividade, da visão particular do fotógrafo/artista visual. A fotografia, observa, não é simplesmente o “espelho do real” como supõe o senso comum. “Ela é um “texto”construída pela articulação dos elementos que a compõem. O conteúdo de uma imagem pode ser manipulado tanto em um artigo de jornal como em uma tese acadêmica”, observa o fotógrafo.

Fotografar é emitir opinião sobre as coisas, diz Caires. “O fotógrafo precisa estar consciente do ato de fotografar. Entender os elementos que compõem a cena e tomar decisões que resultem em uma imagem que expresse a sua emoção”, acrescenta.

“É necessário ter senso crítico, pois somos bombardeados todos os dias por centenas de fotografias genéricas de banco de imagens”, completa, descrevendo um desafio que com certeza estará presente ao longo de todo o curso que vai ministrar.

Fotógrafo, fotojornalista e artista de imagens, Martinho Caires também é produtor cultural e profissional de marketing. Participou em mais de 60 exposições individuais e coletivas. Atualmente é editor de Fotografia da Agência Social de Notícias. Entre os prêmios que recebeu, foi contemplado em editais da Funarte, que viabilizaram a circulação de suas fotos em espaços consagrados como Galeria Funarte do Rio de Janeiro, Espaço UFF de Fotografia de Niterói e Galeria Itaú de Brasília e São Paulo. Também participou de coletiva na Galeria Itaú de Campinas e da coletiva “Unicamp 40 Anos”, no Espaço Cultural CPFL.

Sobre ASN

Organização sediada em Campinas (SP) de notícias, interpretação e reflexão sobre temas contemporâneos, com foco na defesa dos direitos de cidadania e valorização da qualidade de vida.

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