A “nova Francisco Glicério”, como foi oficialmente denominado pela Prefeitura o projeto de requalificação da principal avenida central de Campinas, foi entregue em evento nesta quinta-feira, dia 30 de junho, à noite, em frente à Catedral Metropolitana. A cerimônia se transformou em um ato de convocação à ocupação da região central da cidade com arte urbana e outras atividades culturais de valorização da cidadania em geral, a partir do impulso dado com a revitalização da avenida, fruto de projeto em parceria entre o poder público e a iniciativa privada.
O prefeito Jonas Donizette destacou o esforço feito por todos os parceiros do projeto, em conjuntura de forte crise política e econômica, e salientou que a ampliação da iniciativa para outras áreas da região central encontra no momento a barreira da limitação financeira. Entretanto, disse acreditar na viabilidade de continuidade dos entendimentos pela extensão das ações de requalificação para outras vias públicas da região central. “A revitalização da Francisco Glicério beneficia a toda cidade, pois milhares de campineiros passam diariamente por aqui”, lembrou o prefeito.
Foram investidos R$ 33 milhões no projeto de requalificação da avenida Francisco Glicério, que tem o nome do campineiro que foi um dos grandes líderes do movimento republicano, vitorioso em 15 de novembro de 1889. Originalmente, a via se chamava rua do Rosário, em função da Igreja do mesmo nome, demolida na década de 1950.
Foram destinados R$ 12,3 milhões pela CPFL, R$ 10 milhões por empresas de telefonia, R$ 6 milhões pela Prefeitura e R$ 4,6 milhões pela Sanasa, sendo os recursos investidos pelos órgãos municipais referentes a Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), ou seja, sem dinheiro público direto envolvido.
O trecho revitalizado abrange 1.400 metros de extensão, entre a avenida Orosimbo Maia e a avenida Aquidabã. Ontem, especificamente, foi entregue o trecho entre a Moraes Salles e Aquidabã. As obras duraram aproximadamente um ano e meio e envolveram 200 trabalhadores. Houve o enterramento de toda a fiação aérea, elétrica e de telecomunicações. Foram implantadas novas redes de água e esgoto e também novas calçadas com rampas de rebaixamento e de acessibilidade, com piso tátil, adaptado para deficientes visuais.
O semáforos passaram a ser horizontais, iluminados por LED. Aliás, o prefeito Jonas Donizette também inaugurou na mesma oportunidade a nova iluminação do centro expandido, com lâmpadas de LED, e ressaltou que o propósito é estender essa tecnologia a toda a cidade, o que ainda depende de parceria público privada e ajustes de projeto junto ao Tribunal de Contas. O prefeito ressaltou que a anunciada construção do Hospital São Luiz, na área da antiga rodoviária, será outro importante indutor da revitalização da região central.
A calçada do lado esquerdo foi alargada em dois metros. Do lado esquerdo foram localizadas as bancas de jornais e alimentação. O lado direito da avenida passou a ser exclusivo para os ônibus. Cicloativistas defendiam que poderia haver uma ciclovia na principal avenida da região central. Pontos de ônibus ganharam designer e cobertura novos e wifi com acesso gratuito.
O Lago do Pará também passou por reformas, como introdução de grama especial, própria para áreas com muitas árvores, e recuperação da iluminação. Monumentos e o chafariz de ferro fundido, tombado pelo patrimônio histórico, passaram por limpeza, assim como o playground e academia de exercícios físicos.
Responsável pela coordenação da execução do projeto, o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Social e de Turismo, Samuel Rossilho, evidenciou o desafio que foi realizar o projeto sem interrupção das atividades comerciais e de serviços na região.
Por sua vez, o secretário municipal de Cultura, Ney Carrasco, destacou a “importância múltipla” da requalificação da avenida Francisco Glicério. “É um piloto para todo o centro. A obra tem importância em termos de mobilidade urbana, de beleza estética, preservação do patrimônio cultural. A avenida é o coração da cidade. Esperamos que a partir dela todo o centro seja revitalizado e se torne um espaço todo ocupado pela população. É preciso trazer as pessoas para o centro. As pessoas precisam ocupar o centro dia e noite. Aí ele será vivo e seguro porque um espaço ocupado é seguro”.
A secretária municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social, Jane Valente, acentuou de sua parte que a convivência na avenida Francisco Glicério e toda região central é muito grande e sua requalificação interessa a todos. “A nossa é uma cidade com tantos desafios contemporâneos. Temos por exemplo os moradores de rua, que têm sido olhados com uma política humana, de cuidado, de proteção. E assim toda a população dever ser olhada com o mesmo cuidado”, comentou, lembrando o início de um projeto de profissionalização de moradores de rua, abrangendo inicialmente 25 cidadãos, com curso de jardinagem.
Autora do projeto de revitalização da avenida Francisco Glicério, que doou à cidade de Campinas, a arquiteta e urbanista Maria Rita Amoroso disse estar muito feliz com a entrega da obra. “Foi gratificante trabalhar em uma avenida tão importante como a Francisco Glicério, que a população utiliza direto, vendo a sua transformação, com fiação enterrada e outras melhorias”, diz a arquiteta e urbanista.
Mas Maria Rita Amoroso nota que ainda faltam complementos. “Ainda não terminou, faltam o paisagismo, os bulevares, e temos a proposta da arte urbana. Ou seja, falta a complementação. É muito importante trazer mais vida para o centro, as pessoas voltarem para o centro, como a gente vê acontecer em outros países. Quando uma avenida como essa é reabilitada, a cidade ganha algo mais. O centro de Campinas ficou esquecido durante muito tempo, não existe mais aquela vida à noite. Agora, com nova iluminação e outros atrativos, a população pode voltar”, conclui a arquitetura e urbanista, sintetizando um sonho generalizado pela reocupação, com mais alegria, arte, verde e cidadania plena, da região central, a alma de Campinas. (Por José Pedro Martins)