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Em luta pela liberdade, Irã tem presença maciça no Salão de Humor de Piracicaba
Geisa Fernandes e John Lent, da Associação Internacional para a Pesquisa de Mídia e Comunicação (Foto José Pedro Martins)

Em luta pela liberdade, Irã tem presença maciça no Salão de Humor de Piracicaba

Depois do Brasil, o Irã foi o país com o maior número de inscrições no 43º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, de 2016. E os iranianos se destacaram na premiação, vencendo duas categorias e o Grande Prêmio Troféu Zélio de Ouro. O norteamericano John Lent e a brasileira Geisa Fernandes, especialistas em humor gráfico de renome, explicam com exclusividade para a Agência Social de Notícia a força cada vez maior do Irã neste segmento das artes visuais.

A cerimônia de premiação aconteceu no último sábado, dia 27 de agosto, no Teatro Municipal “Erotides de Campos”, no Engenho Central. O iraniano Alireza Pakdel venceu a categoria Charge e foi com este trabalho vencedor do Grande Prêmio Troféu Zélio de Ouro. O compatriota Nasrin Abdosheykhi ganhou a categoria Caricatura. Outro iraniano, Mojtaba Panah, ganhou Menção Honrosa na categoria especial Mobilidade. Apenas um brasileiro aparece entre os ganhadores, no caso, Ronaldo Cunha Dias, da categoria Cartum. Em 2014, o vencedor do Salão de Piracicaba também foi um iraniano, Afshin Nazari.

Fundador e editor-chefe do “International Journal of Comic Art”, uma das mais respeitadas publicações do setor em todo mundo, e fundador e coordenador do Comic Art Working Group da Associação Internacional para a Pesquisa em Mídia e Comunicação (IAMCR), John Lent nota que a ascenção do humor gráfico no Irã é um fenômeno que decorre de fatores como a existência de muitas escolas de desenho e espaços de exibição no país.

Charge de Alireza Pakdel, do Irá, vencedora do Grande Prêmio Troféu Zélio de Ouro

Charge de Alireza Pakdel, do Irá, vencedora do Grande Prêmio Troféu Zélio de Ouro

Sediada na capital Teerã, a Association of Visual Arts of Revolution & Holy Defense, por exemplo, realiza anualmente um festival importante, o “The International Contest”. Fora de seu país, cartunistas do Irã têm procurado participar de vários outros eventos. O Irã já foi o segundo país, atrás do Brasil, com maior número de inscritos no 2º Salão Internacional de Humor Gráfico de Pernambuco, realizado em abril, em Recife.

Por sua vez, Geisa Fernandes entende que a importante participação de iranianos no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, assim como de outros eventos semelhantes, também pode ser explicada pela “necessidade de novos canais de divulgação” sobre a situação daquela região do planeta, geralmente em ebulição. Historiadora pela Unicamp e doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, Geisa integra o mesmo grupo de trabalho da Associação Internacional para a Pesquisas em Mídia e Comunicação e, também, o Observatório de Histórias em Quadrinhos, ligado à Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo.

Os avanços nas tecnologias de informação e comunicação, nota Geisa, contribuem para a maior divulgação dos trabalhos de artistas do Irã e outros países com restrições à liberdade de expressão. É neste cenário, afirma a especialista, que o Salão Internacional de Humor de Piracicaba contribui muito para dar voz a muitos artistas gráficos, de várias partes do mundo, onde a busca pela liberdade é uma caminhada permanente.

Zélio Alves Pinto: Salão de Piracicaba é canal para liberdade de expressão desde a sua origem (Foto José Pedro Martins)

Zélio Alves Pinto: Salão de Piracicaba é canal para liberdade de expressão desde a sua origem (Foto José Pedro Martins)

Um dos artistas gráficos que mais contribuíram para o fortalecimento do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, Zélio Alves Pinto ressalta igualmente esse papel da iniciativa. Ele lembra que, nos anos 1980 e 1990, o Salão já serviu de plataforma para a manifestação de artistas do Leste Europeu que tinham suas liberdades muito reprimidas.

Desta forma, Zélio considera que o Salão mantém seu espírito original, na medida em que foi criado, em 1974, em pleno regime militar no Brasil. Por muitos anos, recorda, o Salão foi um dos únicos espaços de livre criação e expressão para os artistas gráficos no país.

A Associação Internacional para a Pesquisa em Mídia e Comunicação (IAMCR), que completará 60 anos em 2017, é uma grande defensora da liberdade de expressão e informação. No primeiro semestre deste ano, o Comic Art Working Group, fundado por John Lent, realizou em Montreal, no Canadá, o evento “Beyond Charlie: Freedom of Speech, Resistance and Responsibility” (“Além do Charlie: Liberdade de Expressão, Resistência e Responsabilidade”, que teve várias atividades, como a exibição de três documentários sobre o trabalho dos cartunistas do “Charlie Hebdo”, vítima de atentado terrorista no dia 7 de janeiro de 2015 , em Paris. O evento teve como propósito contextualizar a discussão sobre as charges publicadas pelo semanário francês. Academia e humor gráfico cada vez mais próximos, como um suporte à liberdade de expressão em todos os lugares. (Por José Pedro Martins) 

 

 

 

 

 

 

 

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