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Como uma cooperativa de reciclagem de Campinas virou referência internacional
Membros da Cooperativa "Antônio da Costa Santos" com dirigentes do PorAmérica e Instituto Arcor Brasil: parceria pela inclusão (Fotos José Pedro Martins)

Como uma cooperativa de reciclagem de Campinas virou referência internacional

A Cooperativa de Produção dos Profissionais em Coleta, Manuseio e Comercialização de Materiais Recicláveis e Reutilizáveis “Antônio da Costa Santos”, localizada no Jardim Satélite Íris, em Campinas (SP), representará o Brasil no evento “Organizações que constroem oportunidades”, que marcará o encerramento do Programa PorAmérica, entre os dias 27 e 28 de novembro em Bogotá, na Colômbia. No evento, serão apresentadas experiências de sucesso que têm contribuído para a superação da pobreza no continente latino-americano.

O convite à Cooperativa partiu da RedEAmérica, que promoveu e cofinanciou o Programa PorAmérica – Programa Fortalecimento de Organizações de Base – ODB para Combater a Pobreza em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporação Consórcio para o Desenvolvimento Comunitário.

O convite ocorreu em função do desenvolvimento, pela Cooperativa “Antônio da Costa Santos”, do Projeto “Construindo sonhos através dos recicláveis”, que recebe, desde 2012, apoio técnico e financeiro do Instituto Arcor Brasil, como parte do Programa PorAmérica, da RedEAmérica. Em função de sua participação no PorAmérica, a cooperativa campineira mudou completamente o seu sistema de gestão, e se torna cada vez mais uma referência nacional e internacional no setor.

Começo difícil – A gênese da Cooperativa está no grupo de moradores do Satélite Íris que participavam de um programa do Instituto de Solidariedade Alimentar (ISA), responsável pela distribuição de hortifrutis doados pelos permissionários da Ceasa-Campinas. O programa viabiliza atualmente a distribuição de alimentos para mais de 10 mil famílias nos 80 bairros de maior concentração de cidadãos de baixa renda no município, além de atender a mais de 90 organizações não-governamentais.
Este começo é ressaltado por Valdecir Aparecido Viana, integrante do movimento desde o início e que foi o primeiro presidente da cooperativa. Ele lembra que as famílias beneficiadas pelo ISA se conscientizaram de que era fundamental participar de um projeto coletivo de geração de renda, uma vez que, em várias ocasiões, “não tinham óleo para cozinhar a batata ou outro alimento que tinham recebido”.
Neste momento surgiu a possibilidade de participação de alguns deles em oficinas de cooperativismo promovidas pela Cáritas Campinas, justamente como alternativa de geração de emprego e renda. Inicialmente pensou-se em cooperativa de produção de alimentos, mas o grupo acabou optando pelo setor de recicláveis.
Anos iniciais difíceis, à sombra de uma árvore ou no barracão originalmente destinado à “engorda” de suínos. As mulheres trabalhavam no chão separando os materiais, depois colocados em uma tábua.
Mas o grupo não desistiu e isso chamou a atenção dos poderes públicos, e em particular do prefeito Antônio da Costa Santos, eleito em 2000. O prefeito deu o seu apoio mas não chegou a participar da inauguração da cooperativa batizada com o seu nome, pois foi vítima de assassinato a 10 de setembro de 2001. A sua sucessora, Izalene Tiene, esteve na inauguração e continuou a apoiar a organização.
De qualquer modo, demorou ainda uma década até que, em março de 2011, após longa tramitação, a Câmara Municipal de Campinas aprovou a concessão de uso para a cooperativa, sobre um terreno de 2 mil metros quadrados, bem ao lado da árvore e do barracão que marcaram o começo da mobilização.
“Há dez anos nem imaginávamos o que a gente conseguiria, pois ainda estávamos muito isolados”, lembra Valdecir Viana. “Agora estamos consolidando uma visão empresarial e a cooperativa já está fazendo investimentos próprios com o seu fortalecimento”, ele observa. A cooperativa financiou a compra de uma empilhadeira, fundamental para um trabalho geralmente pesado.
PorAmérica – O grande salto aconteceu com a participação da cooperativa, pelo Projeto “Construindo Sonhos Através dos Recicláveis”, no Programa PorAmérica –  Programa Fortalecimento de Organizações de Base – ODB para Combater a Pobreza, uma parceria da RedEAmérica com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporação Consórcio para o Desenvolvimento Comunitário.

A RedEAmérica é uma aliança hemisférica, de fundações e institutos de investimento social privado. Organizações filiadas ao Bloco Brasil da RedEAmérica identificaram projetos para apoiar, como parte do PorAmérica. A cooperativa “Antônio da Costa Santos” foi escolhida pelo Instituto Arcor Brasil para destinar apoio técnico e financeiro.

Uma das ações viabilizadas foi a implantação de uma política de qualidade, resultado da série de oficinas ministradas pelo Prof Dr. Robisom Calado, da PUC-Campinas, parceira do Centro de Referência em Cooperativismo e Associativismo (CRCA) e do Instituto Arcor Brasil no apoio ao projeto.
As oficinas trataram de temas relacionados diretamente ao processo de qualificação da Cooperativa: Solidariedade, Humanização, Valor da cooperação, Política de Qualidade, Ferramenta 5S, Ferramenta Kaizen, Segurança, Produtividade e Melhoria Contínua.
Foi utilizada uma metodologia concebida para que os cooperados compreendessem as situações e explicações de forma simples e clara, e que pudessem participar ativamente, apontando desafios e ajudando a identificar melhorias.
A política de qualidade da Cooperativa “Antônio da Costa Santos” passou a ter estes eixos centrais: Aumento da renda e geração de trabalho; Satisfação dos clientes com materiais bem separados; Aumento da produtividade com segurança e organização; e Melhoria contínua da gestão. O novo layout foi implantado após a reforma de alguns dos espaços físicos da cooperativa.  Também foi desenvolvido um Programa de Formação de Triadoras, para as cooperadas.
Após um longo e árduo trabalho, a colheita dos frutos. Espaço melhor para trabalhar. E maior renda. Nos últimos meses, o valor por hora trabalhada aumentou cerca de 40%, na medida em que o trabalho foi racionalizado e melhorou a produtividade dos cooperados.

Barracão da cooperativa: década e meia de luta, persistência e conquistas

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Referência –  “Vamos crescer ainda mais com a esteira”, comenta Aparecida de Fátima Assis, a  Dona Cida, atual presidente da cooperativa campineira. Ela se refere à doação de uma esteira, pela Arcor do Brasil, como parte da política de responsabilidade social corporativa da empresa.

Atualmente a cooperativa conta com 40 trabalhadores, que promovem a reciclagem de cerca de 90 a 100 toneladas mensais de resíduos domésticos. Toda a transformação experimentada pela “Antônio da Costa Santos” a credenciou a ser pioneira em um contrato com a Prefeitura de Campinas. O projeto-piloto poderá ser ampliado para outras cooperativas, assinala o secretário municipal de Trabalho e Renda, Jairson Canário.

A Cooperativa “Antônio da Costa Santos” também é uma das ativas participantes da Reciclamp – Central Solidária de Vendas, que reúne as sete cooperativas de reciclagem de Campinas e uma de Valinhos, município vizinho. “Esse tipo de apoio é fundamental”, destaca Valdecir Aparecido Viana, primeiro presidente da Cooperativa “Antônio da Costa Santos” e atual dirigente da Reciclamp, em referência ao respaldo recebido do Instituto Arcor Brasil, da PUC-Campinas e do Centro de Referência em Cooperativismo e Associativismo (CRCA).

A coordenadora do PorAmérica, Wanda Maria Rosa Silva, salienta a “resistência e perseverança” das organizações de base participantes. “Com o apoio do investimento social privado, elas buscam sua autonomia e o empoderamento, para promover a melhoria da renda de todos participantes e o desenvolvimento de suas comunidades”, resume a coordenadora.

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Sobre José Pedro Soares Martins

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