A Cultura brasileira vem atravessando momentos de sobressaltos nos últimos anos, inclusive com a absurda extinção – depois revogada – do ministério que cuida do tema. No plano local, a forte crise fiscal tem repercutido no corte de verbas, o que já gerou muitos protestos na classe artística. Neste contexto a participação da sociedade civil, e sobretudo dos agentes culturais, é determinante para o resgate e fortalecimento do papel estratégico da cultura. Pois Campinas terá um momento crucial desse processo na próxima segunda-feira, dia 3 de outubro, com a eleição da nova diretoria e novos conselheiros do Fórum Municipal de Cultura, para o próximo biênio.
A eleição acontecerá durante assembleia do Fórum Municipal de Cultura, que será realizada a partir das 19 horas, no Salão Vermelho da Prefeitura, na avenida Anchieta, 200. Além da escolha dos novos dirigentes e do sucessor do atual presidente, o artista plástico Mário Gravem Borges, a assembleia do Fórum Municipal de Cultura terá discussões sobre o Plano Municipal de Cultura e sobre o projeto de lei de Incentivo Cultural em Campinas, de autoria do vereador Vinicius Gratti (sobre o projeto, ler reportagem da Agência Social de Notícias, aqui). Outro ponto importante da pauta na segunda-feira será a definição dos representantes da sociedade civil no Conselho Municipal de Cultura, um órgão oficial, de caráter deliberativo, que teoricamente define as linhas e políticas culturais na cidade.
“O Fórum Municipal de Cultura é uma plataforma de contato entre a sociedade civil e o poder público, um espaço de mobilização, de articulação dos artistas e produtores culturais, enquanto o Conselho Municipal é um órgão oficial, deliberativo. Mas o Conselho apenas será de fato representativo e atuante se o Fórum também for e esta foi a nossa luta nestes dois anos, a de trazer e mobilizar a sociedade”, afirma Mário Gravem Borges. “Espero que o próximo mandato seja ainda mais marcante nesse sentido”, ele complementa.
Gravem diz que uma das prioridades de seu mandato foi o de “manter acesa a chama” da elaboração de um Plano Municipal de Cultura para Campinas. “A cidade é muito rica, tem uma vida cultural relevante, mas precisa de um Plano Municipal de Cultura, para que todas as tendências, todos os estilos, enfim, a diversidade cultural local seja de fato contemplada, sem exclusão de nenhum grupo”, defende o presidente do Fórum Municipal de Cultura. “Nem o jongo e urucungo e nem o canto lírico devem ser esquecidos, todos devem ter o seu lugar reconhecido”, exemplifica.
Um pré-projeto para o Plano Municipal de Cultura, lembra Gravem, foi formulado já alguns anos, pela luta de pessoas como Maria Inês Saba, Vicente de Paulo Montero, Evandro Ceneviva e João Luiz Minnicelli. Nos últimos anos, por vários fatores o pré-projeto não teve continuidade como deveria, lamenta. Gravem entende que, no próximo mandato da diretoria do Fórum Municipal de Cultura, esse debate tende a avançar.
Outro ponto fundamental, relacionado ao Fórum Municipal de Cultura, nota Gravem, é o seu diálogo com vários conselhos municipais, e não apenas o de Cultura. “Ele conversa com o Condepacc, de defesa do patrimônio histórico, e com o Comdema, na área ambiental. A cultura é muito ampla e assim deve ser o Fórum”, sintetiza.
Mário Gravem Borges diz que, após a eleição da nova diretoria e escolha dos novos conselheiros, pretende manter um diálogo permanente com os novos integrantes, no sentido de uma agenda positiva, dinâmica, voltada para consolidar o Fórum Municipal de Cultura como um território estratégico para a discussão de políticas e ações para a cultura em Campinas. Um lugar para ajudar a sonhar uma nova cidade, pelo estímulo à economia criativa, à materialização e multiplicação da enorme energia e generosidade que coletivos e artistas já investem em seus projetos.
“A cultura é fundamental para uma cidade onde as pessoas vivam felizes, em paz, usufruindo do conhecimento e dos saltos civilizatórios que a humanidade tem alcançado”, finaliza Mario Gravem Borges, um dos mais importantes artistas de Campinas. Depois de estudar no Rio de Janeiro, ele viveu anos na Inglaterra, tendo sido o primeiro não-britânico a expor no Institute of Contemporary Art, de Londres.
De volta à terra natal, tem dedicado tempo precioso para o aprimoramento das políticas públicas e da estrutura na área da Cultura local. Um exemplo e uma inspiração para que o Fórum Municipal de Cultura seja cada vez mais reconhecido, atuante e representativo, o que apenas acontecerá com a participação crescente e qualificada da sociedade civil e dos produtores culturais locais. (Por José Pedro Martins)